PERU: ARCEBISPO AMEAÇADO DE MORTE PELAS SUAS POSIÇÕES ECOLÓGICAS

Lima, 12 ago (RV) - O arcebispo de Huancayo, no Peru, o jesuíta Dom Pedro Ricardo Barreto Jimeno, recebeu ameaças de morte devido ao seu empenho ecológico. As intimidações, publicadas em jornais nacionais e locais, foram assinadas por sindicatos que representam trabalhadores da Doe Run, empresa de origem norte-americana instalada na cidade de La Oroya.

Enquanto alguns setores sindicais consideram que a obra do arcebispo em defesa do meio ambiente coloca os empregos em risco, outros defendem sua ação: no dia 13 de junho, três sindicatos lhe enviaram uma carta de solidariedade, condenando as ameaças.

Em nota divulgada na semana passada, o presidente dos bispos do Peru, Dom Héctor Miguel Cabrejos Vidarte, repudiou as ameaças feitas contra Dom Pedro Barreto, "em virtude de sua ação pastoral em defesa da vida, da saúde e do trabalho, e por seus cuidados com os bens da criação, dons preciosos de Deus para todo o ser humano e para as futuras gerações".

"Lamentamos que sua preocupação pastoral em favor de um ambiente saudável, em especial na cidade de La Oroya − uma das dez mais contaminadas do mundo − seja mal interpretada aqui na região, enquanto é reconhecida em todo o país e também no mundo."

O comunicado prossegue com um questionamento: "Como é possível que num país democrático, onde existe liberdade de expressão e de pensamento, bem como garantias constitucionais, uma pessoa seja ameaçada (…) por ensinar e defender a Doutrina Social da Igreja, que não é mais do que defender a pessoa humana e o bem comum?"

Esta não é a primeira vez que Dom Pedro Barreto é ameaçado. Em declarações a uma emissora de rádio peruana, o arcebispo declarou que as intimidações não só não o amedrontam, mas até mesmo o fortalecem. O prelado afirmou igualmente, que foi aconselhado a pedir proteção pessoal, mas que não a deseja, pois isso iria contra a sua essência de bispo, cuja missão é estar perto do povo.

Em 2004, Dom Pedro Barreto abriu uma "mesa de diálogo ambiental", na tentativa de dar uma resposta coletiva aos graves problemas ecológicos causados pela exploração minerária na região.

Localizada no coração dos Andes peruanos, La Oroya é uma cidade muito poluída. O departamento de Junin, a 185 km de Lima, capital do Peru, é uma das áreas mais venenosas do Planeta. Milhares de crianças e adultos estão expostos aos efeitos de metais pesados, como o chumbo. A dispersão de poluentes atmosféricos (como o dióxido de enxofre e óxidos de azoto) provoca "chuvas ácidas", que flagelam a vegetação da região.

A principal responsável por esse tragédia ecológica é – ao que tudo indica – a Doe Run Peru. As minas da multinacional circundam o vale do rio Mantaro, cuja nascente está a 4.100m acima do nível do mar. (AF)