Huancayo, 09 ago (RV) - A comunidade católica peruana em alerta: o arcebispo
de Huancayo, no norte do país, Dom Pedro Barreto Jimeno, que coordena negociações
sobre questões meio-ambientais, recebeu ameaças de morte por seu empenho ecologista.
As
ameaças foram publicadas alguns dias atrás em jornais nacionais e locais, assinadas
por sindicatos da indústria metalúrgica Doe Run, da cidade de La Oroya. Esta não é
a primeira vez que Dom Pedro Barreto sofre intimidações. Enquanto alguns setores sindicais
consideram que a obra do arcebispo em defesa do meio-ambiente coloque seus empregos
em risco, outros o defendem: no último dia 13 de junho, três sindicatos lhe enviaram
uma carta de solidariedade, condenando as ameaças.
Em uma nota pública divulgada
ontem, o presidente do episcopado peruano, Dom Héctor Miguel Cabrejos Vidarte, rechaçou
as ameaças que Dom Pedro Barreto Jimeno vem recebendo “por seu trabalho pastoral em
defesa da vida, da saúde, do trabalho e pelo cuidado com os bens da criação, dons
preciosos de Deus para todo ser humano e para as futuras gerações”.
“Lamentamos
que sua preocupação pastoral em favor de um ambiente salutar, em especial na cidade
de La Oroya, uma das 10 mais contaminadas do mundo, seja mal-interpretada, enquanto
é reconhecida em todo o país e também no mundo”.
O comunicado prossegue com
um questionamento: “Como é possível que em um país democrático, onde existe a liberdade
de expressão e pensamento, e garantias constitucionais, uma pessoa seja ameaçada,
neste caso um arcebispo, por ensinar e defender a Doutrina Social da Igreja, que não
é mais do que defender a pessoa humana e o bem-comum?”.
Em declarações à Rádio
Uno, Dom Pedro Barreto disse que as ameaças não o amedrontam, ao contrário, o fortalecem.
O arcebispo de Huancayo esclareceu que foi aconselhado por pessoas próximas a pedir
proteção pessoal, mas que não as deseja, pois isso iria contra a sua essência de bispo,
que deve estar perto do povo.
Em 2004, o jesuíta Dom Pedro abriu uma “mesa
de diálogo ambiental”, na tentativa de dar uma resposta coletiva aos graves problemas
ambientais causados pela exploração minerária na região.
Localizado no coração
dos Andes peruanos, La Oroya é um inferno de poluição. O departamento de Junin, a
185 km de Lima, é uma das áreas mais venenosas do planeta. Milhares de crianças e
adultos estão expostos à poluição de metais pesados, como o chumbo. A dispersão de
poluentes atmosféricos (como o dióxido de enxofre e óxidos de azoto) provoca “chuvas
ácidas”, que flagelam a vegetação da região.
A principal responsável é a Doe
Run Peru, subsidiária da empresa americana Doe Run, baseada em St. Louis, Missouri.
As minas da multinacional circundam o vale do rio Mantaro, cuja nascente está a 4.100
metros acima do nível do mar, no Lago Junin, que abrange 53.000 hectares. (CM)