CARDEAL BERGOGLIO: POBRES NA ARGENTINA SÃO 'MATERIAL DE DESCARTE'
Buenos Aires, 08 ago (RV) - No dia em que a Igreja recordou São Caetano, Padroeiro
da Providência de Deus, cerca de um milhão de pessoas peregrinaram até sua paróquia,
no bairro de Liniers, em Buenos Aires. Apesar do frio (durante a madrugada a temperatura
ficou abaixo de 7 graus), o povo aguardou várias horas nas ruas pelo momento de entrar.
Muitos estavam acampados há dias, diante do templo, para agradecer ou fazer pedidos
ao santo.
Em sua homilia, o Cardeal Jorge Bergoglio disse que na Argentina
“ vivem-se situações de pobreza escandalosa, falta de trabalho e enfermidades como
o dengue e a gripe A, (segundo dados oficiais, a doença causou 337 mortes no país);
isso tudo é agravado pela falta de justiça”.
O arcebispo de Buenos Aires usou
as mesmas expressões escritas anteontem pelo papa Bento XVI, denunciando a situação
do país. Sobre este tema, o embaixador argentino junto à Santa Sé, Juan Pablo Cafiero,
minimizou: “Nas mensagens do papa a todos os países do mundo, a denúncia da pobreza
está presente”.
O pontífice enviou uma mensagem à Comissão Episcopal de Ajuda
às Regiões Mais Necessitadas por ocasião da tradicional Coleta Nacional “Mais por
Menos”, que se realiza em setembro.
Referindo-se à pobreza, o cardeal assinalou
que os necessitados são considerados pela sociedade como “material de descarte”, e
se questionou sobre o número de pessoas que vivem nas ruas, em plena Praça de Mayo.
“O mundo de hoje é cruel; elas são vistas como lixo. Jesus não quer isso para os seres
humanos” – advertiu.
O arcebispo reforçou a idéia, esclarecendo que “é injusto
que no país exista tanta gente sem pão e trabalho”.
Em meio à recessão, o
clima na Argentina é de pessimismo. Segundo uma pesquisa da consultoria CERX, 70,8%
dos argentinos sentem-se pobres. Outra pesquisa, do Centro de Estudos Distributivos,
Trabalhistas e Sociais (Cedlas), sustenta que 40% dos argentinos que nascem pobres
permanecerão nessa faixa social toda sua vida.
Até os anos 70, a Argentina,
com 6% de pobres, era uma espécie de “Europa” perdida na América do Sul. Hoje, o país
é cada vez mais “latino-americano”, pois a cada crise econômica, a proporção de pobres
é mais elevada. A pobreza voltou a ser o foco do debate econômico e político, já que
teria disparado ao longo dos últimos meses, acompanhada pela alta da inflação e a
paralisação da economia. (CM)