Actualidade e "força profética" do testemunho do Santo Cura de Ars sublinhadas por
Bento XVI na audiência geral desta quarta-feira, com milhares de fiéis, em Castel
Gandolfo
“Captar a força profética” do Cura de Ars, sem o reduzir a mera expressão de espiritualidade
devocionista do século XIX: pediu Bento XVI, na audiência geral, em Castel Gandolfo,
perante milhares de fiéis congregados no pátio interior da residência papal ou apinhados
na praça fronteiriça, por falta de espaço dentro.
Presente uma boa representação
de fiéis de língua portuguesa, de Portugal e do Brasil, a quem o Santo Padre dirigiu
uma saudação: “Amados peregrinos de língua portuguesa, sede bem-vindos! A todos
saúdo com grande afecto e alegria, nomeadamente aos grupos que vieram de Palhaça e
do Brasil com o desejo de encontrar o Sucessor de Pedro. Com votos de que vossas existências
sejam uma catequese vivente como foi a vida do santo Cura d'Ars, desça sobre vós,
vossas famílias e comunidades a minha Bênção”.
Nos 150 anos da morte de João
Maria Vianney, Bento XVI evocou em breves traços a sua existência humana e sacerdotal.
“Nascido
a 8 de Maio de 1786 de uma família pobre de bens materiais, mas rica de fé, chegou
à ordenação presbiteral após muitas vicissitudes e incompreensões, graças à ajuda
de sacerdotes sapientes que não se detiveram a considerar apenas os seus limites humanos,
mas souberam olhar mais longe, intuindo o horizonte de santidade que se perfilava
naquele jovem verdadeiramente singular, que sempre manifestou uma elevadíssima consideração
pelo dom recebido. No serviço pastoral, tão simples como também extraordinariamente
fecundo, este anónimo pároco de uma longínqua aldeia do sul da França conseguiu de
tal modo identificar-se com o seu ministério que se tornou, mesmo de uma maneira visivelmente
reconhecível, imagem do Bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas. A sua existência
foi uma catequese viva que adquiria uma eficácia particularíssima quando as pessoas
o viam celebrar a Missa, deter-se em adoração diante do Tabernáculo ou passar muitas
horas no confessionário. Ele reconhecia na dedicação ao sacramento da Penitência o
cumprimento natural do apostolado sacerdotal – sublinhou o Papa, que prosseguiu observando
que os métodos pastorais de S. João Maria Vianney poderiam parecer pouco adaptados
às actuais condições sociais e culturais. Como as poderia de facto imitar um padre
hoje em dia, num mundo tão mudado? Se é verdade que mudam os tempos e muitos carismas
são típicos da pessoa, irrepetíveis, há contudo um estilo de vida e uma aspiração
de fundo que todos somos chamados a cultivar. Bem vistas as coisas, o que fez do Cura
de Ars um santo, foi o ser enamorado de Cristo – observou Bento XVI . “O verdadeiro
segredo do seu sucesso pastoral foi o amor que nutria pelo mistério eucarístico -
anunciado, celebrado e vivido – que se tornou em amor pelas ovelhas de Cristo, dos
cristãos e das pessoas que procuram a Deus”. Há que não reduzir a figura de São
João Maria Vianney a um exemplo, ainda que admirável, da espiritualidade devocionista
do século XIX – advertiu o Papa: “É preciso, pelo contrário, captar a força profética
que caracterizava a sua personalidade humana e sacerdotal e que é de altíssima actualidade.
A 150 anos da morte, o testemunho do Santo Cura de Ars continua a ser um válido ensinamento
para os padres e para todos nós”. Imitando-o, os padres devem cultivar e fazer
crescer, dia após dia, uma íntima união pessoal com Cristo e devem ensinar a todos
esta união, esta amizade íntima com Cristo. “Só os enamorados de Cristo podem tocar
o coração das pessoas e abri-las ao amor misericordioso do Senhor”. Bento XVI
concluiu a catequese da audiência geral desta quarta-feira, a primeira deste Verão,
em Castel Gandolfo, convidando a rezar “para que, por intercessão de São João Maria
Vianney, Deus conceda santos sacerdotes à sua Igreja” e “para que cresça nos fiéis
o desejo de sustentar e coadjuvar o seu ministério.