FRADE FRANCISCANO TESTEMUNHA VIOLÊNCIA NO PAQUISTÃO
Islamabad, 03 ago (RV) - O frade francescano Hussein Younis foi uma testemunha
ocular do ataque anticristão de dois dias atrás na cidade de Gojra, no Estado paquistanês
de Punjab.
O frade, de 39 anos, foi envolvido em primeira pessoa, pois no ataque
sete membros de sua família morreram, inclusive dois sobrinhos. "Todos foram massacrados
e queimados vivos por uma única culpa: ser cristão, uma pequena minoria que não supera
2% dos cerca de 170 milhões de paquistaneses" – explicou o Frei Younis, em entrevista
ao jornal italiano "Corriere della Sera".
Segundo seu relato, os extremistas
islâmicos não se contentaram em lançar pedras, incendiar casas e linchar os cristãos.
Usaram também pistolas, metralhadoras e até mesmo lança-granadas. "Queriam destruir
e, sobretudo, matar com uma raiva e uma agressividade incompreensíveis para nós" –
afirmou. Para o frade, os responsáveis são extremistas islâmicos, provavelmente ligados
a Al Qaeda e aos talebãs, que atacam as minorias cristãs com um vasto projeto de desestabilização
regional.
Ele explicou que tudo começou alguns dias atrás, quando nas proximidades
de Gojra foi realizada uma grande festa de casamento. Como de costume, na saída da
igreja os convidados jogaram arroz, flores e dinheiro para desejar prosperidade ao
casal e bilhetes com versículos extraídos de salmos. Mas, para os muçulmanos, os bilhetes,
na verdade, eram páginas extraídas do Corão – o que constitui uma grave ofensa para
o Islã. E logo começaram os insultos, as acusações e, a seguir, pedras e violências.
O ápice foi sábado de manhã, quando foram avistados na entrada da cidade oito ônibus
lotados de extremistas.
Frei Younis afirmou que acusação mais usada é que
os cristãos têm a mesma religião dos soldados norte-americanos e, portanto, são inimigos
e merecem morrer.
Ontem, o bispo de Faislabad, Dom Joseph Coutts, recebeu
as autoridades do governo regional do Punjab, junto a alguns líderes religiosos muçulmanos.
" O fato mais grave é que agora conseguem mobilizar multidões de fiéis contra nós.
Creio que seja um fenômeno muito preocupante, pior do que os atentados isolados à
bomba nas basílicas que terrorizaram os cristãos durante a guerra em 2001 no Afeganistão."
Por sua vez, a comunidade cristã está protestando contra a violência. Ontem,
cristãos ocuparam por seis horas os binários da ferrovia que liga a vizinha cidade
de Multan a Faisalabad. Hoje, as escolas permanecerão fechadas. Para evitar mais confrontos,
as ruas de Gojra estão sendo patrulhadas por tropas paramilitares e por policiais. (BF)