ASSEMBLEIA DE RELIGIOSOS NEGROS EXPRRESSA APOIO A QUILOMBOLAS
Registro, 1º ago (RV) - Bispos, padres e diáconos negros, em carta divulgada
nesta quinta-feira, 30, confirmaram apoio às lutas dos povos quilombolas. “Sabemos
das dificuldades múltiplas que os quilombolas enfrentam no Brasil para terem suas
terras tituladas”, afirmam os religiosos. “Dentre os empecilhos, além da lentidão
do poder público para tal, existem os interesses espúrios dos políticos, do agronegócio,
das barragens etc”, completam.
A carta foi aprovada pela 21ª Assembleia Nacional
dos Bispos, Presbíteros e Diáconos Negros, encerrada sexta-feira, 31, em Registro,
interior de São Paulo. Leia, abaixo, a carta na íntegra.
Carta às Comunidades
Quilombolas do Brasil.
“Meu Quilombo tá lindo como quê!...”
Nós, Bispos,
Presbíteros e Diáconos Negros, reunidos na XXI Assembléia Nacional na cidade de Registro
de 27 a 31 de julho de 2009, região abençoada por Olorum (Criador de todas as coisas),
por ser a maior concentração de Quilombos do Estado de São Paulo, estamos solidários
com a luta dos quilombolas, razão pela qual trabalhamos o tema: “Quilombos, terra
de Deus”.
Partindo das Leis ainda no período do império brasileiro (1831: Anti-tráfico
Negreiro; 1850: Lei de Terras; 1871: Lei do Ventre Livre; 1885: Lei do Sexagenário;
1888: Lei Áurea), constatamos que, histórica e politicamente o povo negro nunca foi
considerado digno neste país. Tais leis não o protegia.
Somente a Constituição
de 1988, um século depois, a nossa Lei Magna reconhece o direito aos remanescentes
de quilombos a regulamentarem suas terras. Mas bem sabemos que isso não acontece sem
muita luta e histórica resistência. Esta sempre foi a lógica dos nossos quilombos
Brasil afora.
Também sabemos das dificuldades múltiplas que os quilombolas
enfrentam no Brasil para terem suas terras tituladas. Dentre os empecilhos, além da
lentidão do poder público para tal, existem os interesses espúrios dos políticos,
do agronegócio, das barragens, etc.
No caso do Vale do Ribeira, em se tratando
da luta contra as barragens pelos seus 67 quilombos, é fato que, sendo construídas
como o previsto, desaparecerão a maioria desses quilombos, a reserva da Mata Atlântica
do Estado, as milenares cavernas, além das místicas tradições desses povos, conforme
nos relatou, com muita propriedade, um militante do Quilombo de Ivaporunduva.
Como
Ministros Ordenados, carregando o Axé da nossa negritude, nos comprometemos a sermos
mais destemidamente aliados a estas e outras lutas concretas dos mais pobres e excluídos
do nosso tempo, a exemplo de tantos profetas bíblicos e contemporâneos e, indiscutivelmente,
de Jesus de Nazaré.
Que nossa Mãe Negra Mariama interceda por nós, continue
encorajando todas as lutas proféticas de nossos quilombolas, desde o Vale do Ribeira.