PAPA: "UMA SOCIEDADE SEM DEUS É UMA SOCIEDADE SEM BÚSSOLA
Aosta, 25 jul (RV) - Famílias em dificuldade, crise econômica e as violências
em ato no mundo, sinais de que “uma sociedade sem Deus é uma sociedade sem bússola”,
foram os temas centrais da visita no dia de ontem de Bento XVI a Aosta, que durou
cerca de uma hora.
Sem poder escrever nestes dias por causa de sua fratura
no pulso direito, o Papa improvisou a sua homilia na catedral de Aosta que se encontra
a 20 km da localidade de Les Combes, onde passa um período de repouso. As palavras
de Bento XVI se converteram no momento culminante das vésperas que presidiu junto
a cerca de 400 sacerdotes, religiosos, religiosas e representantes leigos das paróquias
da diocese.
A celebração foi introduzida pelo bispo de Aosta, Dom Giuseppe
Anfossi, que chamou a atenção para o tema da família “que hoje sofre muito” por causa
da crise, solicitando um maior apoio a elas.
Já na sua homilia, com tom eminentemente
teológico, Bento XVI foi preciso ao afirmar que “uma sociedade sem Deus é uma sociedade
sem bússola, incapaz de encontrar uma orientação para aprofundar a crise econômica
atual, mas também os dramas, os sofrimentos, as injustiças das quais sofre o mundo.
Certamente a relação com Deus é algo profundamente pessoal; a pessoa é um ser em relação
e se a relação fundamental – a relação com Deus – não é viva, não é vivida, também
as outras relações não podem encontrar a sua justa forma, disse o papa. Mas isso vale
também para a sociedade, para a humanidade como tal. Por isso, prosseguiu Bento XVI,
“devemos levar novamente ao nosso mundo a realidade de Deus, fazer com que todos o
conheçam”, exortando os presentes a não terem medo da palavra “onipotência” divina.
O
Papa em seguida falou do poder, explicando como no mundo de hoje o poder se identifica
“com quem tem grandes capitais, ou forças militares”, enquanto “o verdadeiro poder
é feito de graça e de misericórdia”. Palavras bem radicadas no contexto da história,
tanto que o Santo Padre chegou a citar Stalin.
“A pergunta de Stalin sobre
quantas divisões o Papa tem? ainda hoje caracteriza a nossa idéia de poder. O poder
tem aquele que pode ser perigoso, que pode ameaçar, que pode destruir, que tem em
mãos tantas coisas do mundo. Mas a revelação nos diz: “Não é assim”; o verdadeiro
poder é o poder da graça e da misericórdia. Na misericórdia Deus demonstra o verdadeiro
poder”. O Poder de Deus – continuou o papa – é “o de sofrer conosco” e, através
do perdão, mudar o mundo. “Deus perdoa transformando o mundo, para que o rio do bem
seja maior do que todo o mal que possa existir. E se isso se verifica “o mundo mesmo
torna-se liturgia, o cosmo torna-se hóstia viva”, disse o Santo Padre.
Palavras
que ressoaram como se vindas do céu, junto com uma improvisa chuva, que banhou a Praça
João XXIII diante da catedral de Aosta, onde foi montado um pequeno palco. Após a
celebração das Vésperas, fora da igreja, o papa abençoou algumas crianças e desejou
aos presentes boas férias, com um tempo bom, e brincando disse – mostrando o gesto
no braço direito – “sem incidentes”.
Impossibilitado de escrever por causa
do gesso, Bento XVI, sublinhou nessa homilia as suas últimas meditações na paz de
Les Combes, interrompida somente por poucos compromissos de trabalho.
O próximo
encontro do papa, para o qual são esperadas cerca de 5 mil pessoas, é a oração do
Angelus neste domingo, em Les Combes. Na manhã deste sábado, o Santo Padre foi submetido
a uma visita de controle do pulso direito. Presentes os médicos de Aosta que o operaram,
o seu médico pessoal e um especialista encarregado de prosseguir as curas em Castel
Gandolfo, para onde o papa se transferirá no início de agosto. (SP)