2009-07-23 11:50:41

EM MEIO À GRANDE EMOÇÃO, COMEÇAM ATIVIDADES DO INTERCLESIAL


Porto Velho, 23 jul (RV) - Apresentamos um relato do primeiro dia de trabalhos do 12º Encontro Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), em andamento em Porto Velho, Rondônia. As informações são da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

A manhã de ontem começou com uma oração que reuniu os três mil participantes no ginásio do SESI. Conduzida pelos indígenas Guarani, do Mato Grosso do Sul, a oração foi acompanhada com atenção e fé pelo público.

“O que fizemos aqui, não foi um momento cultural, mas um ato de respeito e de espiritualidade, com Deus, no Espírito Santo”, disse, ao final da oração, o cacique da aldeia Tupã, no rio Tapajós, Flávio Silvio Rodrigues.

“Estamos aqui, indígenas da Amazônia, para dar testemunho de que também nós somos pessoas humanas” - afirmou o cacique, que condenou a perseguição contra indígenas e outros povos da Amazônia. “Sempre fomos perseguidos por causa de nossas terras. É dela que sobrevivemos. Sem nossa mãe terra, não podemos viver!” - protestou.

Muito aplaudido, Rodrigues deixou um forte testemunho da crença dos povos indígenas. “Vocês não estão aqui por acaso, mas vieram buscar vida. Só com Deus podemos viver. Nosso ritual foi neste sentido. Vamos levar o apoio de nosso pai Tupã a todos os povos” - concluiu.

Terminada a oração, os participantes do Intereclesial foram divididos em 12 grupos de 250 pessoas cada um. Os grupos passaram a tarde reunidos nas escolas da cidade debatendo o tema do dia: “Grito profético da terra e dos povos da Amazônia, símbolos da humanidade”.

À tarde, houve uma plenária com a apresentação dos trabalhos feitos nos pequenos grupos, e em seguida, os participantes do Intereclesial realizaram a “Caminhada dos mártires” até a capela Santo Antônio, onde houve uma celebração penitencial. Nesta comunidade, está sendo construída a usina hidrelétrica Santo Antônio.

Um dos participantes do encontro é o teólogo Benedito Ferraro, que ontem, afirmou que as Comunidades Eclesiais de Base são o “jeito normal de ser Igreja”. Desde que foram fundadas, as CEBs se identificam como “novo jeito de ser Igreja”. A nova expressão, segundo Ferraro, foi cunhada por Dom Pedro Casaldálig, prelado emérito de São Felix, MT, grande defensor das CEBs.

“O modo normal de ser igreja é a ligação da fé com a vida” - disse o teólogo durante a coletiva de imprensa organizada pela assessoria Intereclesial. “Por isso, as CEBs são o jeito normal de ser Igreja” - afirmou, referindo-se à participação das CEBs nas lutas sociais e políticas da sociedade.
Segundo Ferraro, o compromisso social é a grande novidade das CEBs, reforçada pela inserção na luta política pela libertação dos pobres e excluídos. A raiz deste compromisso, de acordo com o teólogo, está no livro do Êxodo, nos profetas e em Jesus de Nazaré. “É isto que vivemos no intereclesial: uma nova forma de viver a missão” - frisou.

Ainda na coletiva de imprensa, o arcebispo de Porto Velho, Dom Moacyr Grechi, afirmou: “Eu escutei o grito do meu povo”. O arcebispo explicou a importância e a responsabilidade da realização do Intereclesial na capital de Rondônia. “A força do povo vindo de todas as dioceses do Brasil e que estão reunidas aqui é de se emocionar”.

Dom Moacyr disse que os povos da Amazônia necessitavam desse tipo de encontro, porque “a Amazônia ainda é considerada como uma espécie de colônia pelos governos, ou seja, tudo é explorado, retirado e depredado, mas nada é investido, contribuído, melhorado em nossa região”. O arcebispo ressaltou ainda que o “egoísmo é autodestrutivo, destrói tudo, inclusive o meio ambiente”.

O anfitrião explicou as atuais condições dos povos do Norte do Brasil, afirmando que as periferias das grandes cidades que rodeiam a Amazônia não têm condições de vida. “São condições subumanas e a grande maioria dessa população é formada por indígenas que tiveram suas terras tomadas, sua cultura destruída, são subjugados e marginalizados” - explicou Dom Moacyr, que finalizou dizendo a frase que se tornou característica dele neste 12º Intereclesial: “Gente simples, fazendo coisas pequenas, em comunidades distantes, conseguem mudanças extraordinárias”.

A cerimônia de abertura, terça-feira, 21, na praça Madeira Mamoré, na capital de Rondônia, contou com a presença de mais de 4 mil pessoas. Nem mesmo o cansaço de dias nas estradas até chegar a Porto Velho, inclusive com ônibus quebrando no caminho, tirou o ânimo das lideranças que vieram de todos os estados do país como delegados para o encontro.

No altar, indígenas, negros, seringueiros ficaram ao lado de vários bispos. Dom Moacyr acolheu os participantes e destacou a importância do encontro debater o tema da Amazônia. “Amazônia é sempre, na história, tratada como colônia e vocês dirão a todos que a Amazônia quer ser irmã e ser tratada com dignidade” – disse, recebendo a aprovação da assembleia que aplaudiu efusivamente. “Os índios devem ser respeitados, os seringueiros devem ter onde trabalhar, nossa cidade precisa ser humanizada. O grito da Amazônia repercutirá como o grito da esperança”, completou.

Na assembleia, pessoas vestindo camisetas do Intereclesial, lenços no pescoço, chapéu, mochilas e faixas não pararam de cantar e dançar aguardando o início da oração, marcada também por muita música, dança e símbolos. Tudo levava as pessoas à interiorização e à meditação, mesmo em meio ao ritmo forte de flautas, tambores e outros instrumentos musicais.
Todos se emocionaram, por exemplo, ao ouvir, de velas acesas, um coro de crianças entoar “Curupira”: “O dia está escurecendo, será que não vai voltar. Se ele não chegar logo, vou mandar lhe procurar, vou levar uma lamparina pra poder alumiar” - diz a letra do canto.

Outro momento que chamou a atenção do povo foi a benção da água, com a qual todos foram aspergidos. Igualmente, a bênção e distribuição de milhares de bombons, produzidos com frutas da região, emocionou a multidão.

“O 12º Encontro das CEBs começou muito bem com esta celebração que foi linda e muito participada. Este encontro é especial não só por ser na Amazônia, mas também pelo que exigiu de todos que vieram aqui” - disse o arcebispo emérito da Paraíba, Dom José Maria Pires.
(CM)
 







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