2009-07-22 11:40:38

INTERECLESIAL RESGATA DIGNIDADE DOS AMAZÔNICOS


Porto Velho, 22 jul (RV) - Abriu-se ontem, em Porto Velho (RO), o 12º Encontro Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), com o lema “Do Ventre da Terra, o Grito que vem da Amazônia” e o tema “CEBs: Ecologia e Missão”.

Dentre os 3 mil inscritos, 100 delegados representam 38 povos indígenas.

A Irmã Emília Altini, do Conselho Indigenista Missionário de Rondônia, comenta com a imprensa que os indígenas são um verdadeiro exemplo de CEBs, dada sua forma de viver. “Os indígenas, na sua maneira de viver, são o primeiro exemplo de CEB, porque vivem a partilha, discutem seus problemas, têm seus rituais e suas crenças” - esclarece.

Ontem, coube a eles dar o toque da flauta que marcou a abertura do encontro, e sucessivamente, em outros três momentos: após a acolhida, antes da proclamação das leituras bíblicas e na ação de graças.

Na cerimônia, os vários povos que participam do encontro foram apresentados, e os primeiros foram os indígenas, que entraram tocando o maracá (instrumento semelhante ao chocalho).
Hoje, a oração da manhã, às 7.30h, foi no rito indígena. Logo após, os indígenas participarão da Caminhada dos Mártires, durante a qual lembrarão os indígenas mártires. Sábado, dia 25, eles deverão participar da celebração inter-religiosa.

272 dioceses do Brasil, organizadas nos 17 regionais da CNBB, estão representadas.
Hoje, começam os debates. Neste cenário amazônico, os grupos de trabalho serão divididos em "Rios’' e "Portos". Quando todos os participantes se reúnem, para fazer a oração da manhã, formam o "Porto", e ao sair para as discussões, se subdividem em "Rios", que funcionam nas escolas e faculdades da cidade.

Os Rios são 12 grupos de 250 pessoas, que debaterão temas diversos, acompanhados por cerca de 50 assessores. Cada um dos Rios será subdividido em 12 pequenos grupos com 20 pessoas cada, chamados de Canoas. É nos Rios e Canoas que se realiza a maior parte das atividades do Intereclesial, que tem, portanto, um Porto, 12 Rios e 144 Canoas.

Voluntários trabalham há pelo menos quatro anos para garantir o êxito do encontro: dez equipes, com uma média de 200 pessoas cada, atuam na liturgia, infra-estrutura, acolhida, transporte, alimentação, animação, saúde, comunicação, ornamentação e secretaria.
Além deles, 3 mil famílias, de 16 paróquias de Porto Velho, se ofereceram para hospedar gratuitamente os participantes do Intereclesial.

Além dos momentos dedicados à reflexão, e palestras com convidados como o teólogo Leonardo Boff, a senadora Marina Silva e o arcebispo emérito da Paraíba, Dom José Maria Pires, o 12º Intereclesial propõe uma aproximação com diversas realidades da região. Neste sentido, estão agendadas visitas a presídios, centros de recuperação de dependentes químicos, povoados indígenas e comunidades ribeirinhas.

Estima-se que no Brasil existam entre 80.000 e 100.000 Comunidades Eclesiais de Base. As CEBs estruturam-se basicamente em quatro pontos: a fé, os sacramentos, a comunhão, e a missão. São comunidades cristãs formadas por pessoas de regiões próximas, que se reúnem na fé para ouvir e refletir a Palavra de Deus, levando estes ensinamentos para a vida cotidiana.

No Acre, nas décadas de 70 e 80, as CEBs ajudaram índios, seringueiros e outros povos da floresta a se defenderem dos fazendeiros do Centro-Sul que queriam expulsá-los de suas terras para transformar a floresta do Estado num grande pasto para o gado. A luta era também para ajudar Chico Mendes e seus companheiros a apresentarem ao mundo o valor da grande floresta amazônica.

Depois de 20 anos, neste encontro, delegados das CEBs voltam a alertar o mundo para a preciosidade da última grande floresta tropical do planeta.

De acordo com o Padre Luis Ceppi, membro da coordenação do 12º Intereclesial, a Amazônia é uma região de interesse de todos pelas riquezas naturais que possui, mas poucos atentam para as civilizações que vivem na região: “O encontro visa a resgatar a dignidade dos seres que povoam a Amazônia” - alerta.

Padre Luis Ceppi assinala ainda que o Intereclesial quer mostrar que é possível viver em comunhão com o meio ambiente sem prejudicá-lo: “Indígenas, quilombolas e outros povos vivem na região sem destruí-lo; eles são o sinal de uma nova civilização, que resiste ao mundo do consumo”. (CM)







All the contents on this site are copyrighted ©.