Porto Velho, 22 jul (RV) - Abriu-se ontem, em Porto Velho (RO), o 12º Encontro
Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), com o lema “Do Ventre da Terra,
o Grito que vem da Amazônia” e o tema “CEBs: Ecologia e Missão”.
Dentre os
3 mil inscritos, 100 delegados representam 38 povos indígenas.
A Irmã Emília
Altini, do Conselho Indigenista Missionário de Rondônia, comenta com a imprensa que
os indígenas são um verdadeiro exemplo de CEBs, dada sua forma de viver. “Os indígenas,
na sua maneira de viver, são o primeiro exemplo de CEB, porque vivem a partilha, discutem
seus problemas, têm seus rituais e suas crenças” - esclarece.
Ontem, coube
a eles dar o toque da flauta que marcou a abertura do encontro, e sucessivamente,
em outros três momentos: após a acolhida, antes da proclamação das leituras bíblicas
e na ação de graças.
Na cerimônia, os vários povos que participam do encontro
foram apresentados, e os primeiros foram os indígenas, que entraram tocando o maracá
(instrumento semelhante ao chocalho). Hoje, a oração da manhã, às 7.30h, foi no
rito indígena. Logo após, os indígenas participarão da Caminhada dos Mártires, durante
a qual lembrarão os indígenas mártires. Sábado, dia 25, eles deverão participar da
celebração inter-religiosa.
272 dioceses do Brasil, organizadas nos 17 regionais
da CNBB, estão representadas. Hoje, começam os debates. Neste cenário amazônico,
os grupos de trabalho serão divididos em "Rios’' e "Portos". Quando todos os participantes
se reúnem, para fazer a oração da manhã, formam o "Porto", e ao sair para as discussões,
se subdividem em "Rios", que funcionam nas escolas e faculdades da cidade.
Os
Rios são 12 grupos de 250 pessoas, que debaterão temas diversos, acompanhados por
cerca de 50 assessores. Cada um dos Rios será subdividido em 12 pequenos grupos com
20 pessoas cada, chamados de Canoas. É nos Rios e Canoas que se realiza a maior parte
das atividades do Intereclesial, que tem, portanto, um Porto, 12 Rios e 144 Canoas.
Voluntários
trabalham há pelo menos quatro anos para garantir o êxito do encontro: dez equipes,
com uma média de 200 pessoas cada, atuam na liturgia, infra-estrutura, acolhida, transporte,
alimentação, animação, saúde, comunicação, ornamentação e secretaria. Além deles,
3 mil famílias, de 16 paróquias de Porto Velho, se ofereceram para hospedar gratuitamente
os participantes do Intereclesial.
Além dos momentos dedicados à reflexão,
e palestras com convidados como o teólogo Leonardo Boff, a senadora Marina Silva e
o arcebispo emérito da Paraíba, Dom José Maria Pires, o 12º Intereclesial propõe uma
aproximação com diversas realidades da região. Neste sentido, estão agendadas visitas
a presídios, centros de recuperação de dependentes químicos, povoados indígenas e
comunidades ribeirinhas.
Estima-se que no Brasil existam entre 80.000 e 100.000
Comunidades Eclesiais de Base. As CEBs estruturam-se basicamente em quatro pontos:
a fé, os sacramentos, a comunhão, e a missão. São comunidades cristãs formadas por
pessoas de regiões próximas, que se reúnem na fé para ouvir e refletir a Palavra de
Deus, levando estes ensinamentos para a vida cotidiana.
No Acre, nas décadas
de 70 e 80, as CEBs ajudaram índios, seringueiros e outros povos da floresta a se
defenderem dos fazendeiros do Centro-Sul que queriam expulsá-los de suas terras para
transformar a floresta do Estado num grande pasto para o gado. A luta era também para
ajudar Chico Mendes e seus companheiros a apresentarem ao mundo o valor da grande
floresta amazônica.
Depois de 20 anos, neste encontro, delegados das CEBs voltam
a alertar o mundo para a preciosidade da última grande floresta tropical do planeta.
De
acordo com o Padre Luis Ceppi, membro da coordenação do 12º Intereclesial, a Amazônia
é uma região de interesse de todos pelas riquezas naturais que possui, mas poucos
atentam para as civilizações que vivem na região: “O encontro visa a resgatar a dignidade
dos seres que povoam a Amazônia” - alerta.
Padre Luis Ceppi assinala ainda
que o Intereclesial quer mostrar que é possível viver em comunhão com o meio ambiente
sem prejudicá-lo: “Indígenas, quilombolas e outros povos vivem na região sem destruí-lo;
eles são o sinal de uma nova civilização, que resiste ao mundo do consumo”. (CM)