África Ocidental saqueada pela criminalidade internacional: alerta do director do
departamento da ONU contra a droga e o crime
(9/7/2009) O tráfico ilegal de pessoas, drogas, petróleo, tabaco, medicamentos
falsos, resíduos industriais e diamantes está a tornar a África Ocidental uma mina
de ouro para o crime organizado internacional, alertou a ONU. "A África Ocidental
tem tudo o que a criminalidade necessita: recursos, localização estratégica, governos
fracos e um número ilimitado de soldados que vêem poucas alternativas viáveis a uma
vida criminosa", assegurou António Maria Costa, director do departamento das Nações
Unidas contra a Droga e o Crime . Este departamento divulgou terça feira o relatório
"Contrabando Internacional e o Império da Lei na África Ocidental - Uma Avaliação
das Ameaças", que conclui que "a criminalidade organizada está a saquear a região,
destruindo os governos, o meio ambiente, os direitos humanos e a saúde" dos seus habitantes. Anualmente,
5700 pessoas são enviadas para a Europa pelos traficantes, na sua maioria mulheres
para serem exploradas sexualmente, o que rende às máfias desta nova forma de escravidão
cerca de 300 milhões de dólares anuais (cerca de 215,11 milhões de euros), indica
o estudo. A ONU calcula que em 2008 outras 20 000 pessoas da África Ocidental entraram
clandestinamente na Europa, recorrendo para isso a organizações criminosas que ganharam
75 milhões de dólares. Em alguns casos, a quantidade de dinheiro que se consegue
com a actividade criminosa compete com o produto interno bruto (PIB) dos países da
zona, que se encontram entre os mais pobres do mundo, indica também o relatório. Assim,
os 438 milhões de dólares obtidos com o contrabando de 45 milhões de comprimidos anti-malária
falsos ultrapassam o PIB da Guiné-Bissau. Os 775 milhões gerados pelo tráfico ilegal
de tabaco excedem as contas da economia da Gambia e os 1000 milhões de dólares da
cocaína que transita pela África Ocidental estão ao mesmo nível que o PIB de Cabo
Verde ou da Serra Leoa. A ONU calculou que em 2006 uma quarta parte da cocaína
consumida na Europa (cerca de 40 toneladas) transitou pela África Ocidental e que
os 1000 milhões de dólares que rendeu ameaçam a segurança de toda a região. Estes
números reduziram-se nos últimos 18 meses, no que é o único aspecto positivo deste
relatório em relação ao contrabando ilegal nesta parte do continente africano. Na
África Ocidental, entre 50 a 60 por cento dos medicamentos são falsos e até 80 por
cento dos cigarros são de contrabando, estima a ONU. Na Nigéria, no delta do rio
Níger, cerca de 55 milhões de barris de petróleo são anualmente desviados da circulação
legal e os 1010 milhões de dólares que rendem acabam nas mãos de grupos criminosos
e da guerrilha secessionista, segundo o relatório. Na região existem 30 grupos
armados e mais de dois milhões de armas sem controlo, um negócio avaliado em 170 milhões
de dólares. "Os países ricos devem assumir a sua quota de responsabilidade para
travar o seu apetite por drogas, mão-de-obra barata e mercadorias exóticas que chegam
do contrabando na região e impedir que a África Ocidental seja usada como um depósito
de armas, resíduos e medicamentos falsos", pediu o director do departamento das Nações
Unidas contra a Droga e o Crime.