2009-07-04 18:38:19

Reaberta ao culto a Capela Paulina . As pinturas e decorações desta Capela ajudam a rezar, particularmente os dois grandes frescos de Miguel Angelo


(4/7/2009) Com a celebração das I Vésperas deste domingo, Bento XVI reabriu ao culto, neste sábado à tarde, após cinco anos de apurado restauro, a “Capela Paulina”, situada “no coração do Palácio Apostólico”. Uma capela desejada pelo Papa Paulo III, em meados do século XVI, “como lugar de oração reservado ao Papa e à Família pontifícia”. As pinturas e decorações desta Capela ajudam a rezar, particularmente os dois grandes frescos de Miguel Ângelo, as duas últimas obras da sua longa existência: um representando a conversão de Paulo e o outro a crucifixão de Paulo.

Na sua homilia, Bento XVI deteve-se na contemplação meditada destas duas representações, fazendo notar que o que mais salta à vista é o rosto dos dois Apóstolos. Surpreendentemente, Paulo é representado como um homem de idade, não obstante o artista soubesse bem que a conversão no caminho de Damasco ocorreu quando Saulo era um adulto ainda jovem. Vale a pena aprofundar o sentido desta representação.

“O rosto de Saulo/Paulo - que é afinal o do próprio artista, já velho, inquieto, que procura a luz da verdade – representa o ser humano carecido de uma luz superior. É a luz da graça divina, indispensável para adquirir uma nova vista, de modo a advertir a realidade orientada para a esperança que vos espera nos céus…”

Iluminado do Alto, à luz do Ressuscitado, não obstante toda a sua dramaticidade, o rosto de Paulo inspira paz, infunde segurança, introduzindo-nos assim num nível mais profundo:

“Aqui, portanto, no rosto de Paulo, podemos já encontrar o coração da mensagem espiritual desta Capela: o prodígio da graça de Cristo, que transforma e renova o homem mediante a luz da sua verdade e do seu amor. Nisto consiste a novidade da conversão, da chamada à fé, que encontra a sua realização no mistério da Cruz”.

Passando depois ao fresco que representa o martírio de Pedro, Bento XVI sublinhou o facto de que, no momento de ser crucificado Pedro volta-se para fixar o olhar naqueles que contemplam a cena. Como se nos quisesse interrogar. Não é uma imagem de sofrimento, pois a figura de Pedro comunica um surpreendente vigor físico. O seu rosto… parece exprimir “o estado de espírito do homem perante a morte e o mal: há como que um desassossego, um olhar vivo, intenso, como que a procurar algo ou alguém, na hora final”. Pedro experimenta toda a amargura da Cruz, no seguimento de Cristo. O discípulo não é mais do que o Mestre.

“Quem vem meditar nesta Capela – afirmou o Papa – não pode deixar de contemplar a radicalidade da questão que a Cruz nos coloca: o drama do mistério pascal: a Cruz de Cristo, Chefe e Cabeça da Igreja, e a cruz de Pedro, seu Vigário na terra”.

Bento XVI observou ainda que há como que uma troca de olhares entre os dois frescos: embora sem respeitar a cronologia dos factos, Miguel Ângelo apresenta Pedro a contemplar, na hora da sua morte, a iluminação de Paulo no momento da conversão:

“É como se Pedro, na hora da suprema provação, procurasse aquela luz que deu a Paulo a verdadeira fé. E assim, neste sentido, os dois ícones podem-se tornar em dois actos de um único drama: o drama do Mistério pascal: Cruz e Ressurreição, morte e vida, pecado e graça”.

Nesta Capela, que continuará a ser reservada ao Papa e seus directos colaboradores da Cúria, emerge – das imagens de que está repleta – aquele desígnio de salvação levado a cumprimento por Cristo, como refere a Carta aos Filipenses.

“Para quem vem rezar nesta Capela, e antes de mais para o Papa, Pedro e Paulo tornam-se mestres na fé. Com o seu testemunho convidam a ir em profundidade, a meditar em silêncio o mistério da Cruz, que acompanha a Igreja até ao fim dos tempos, e a acolher a luz da fé, graças à qual a Comunidade apostólica pode estender até aos confins da terra a acção missionária e evangelizadora que lhe confiou Cristo ressuscitado”.

A concluir, o Papa referiu ainda o mistério da Eucaristia, “o sacramento em que se concentra toda a obra da Redenção: em Jesus Eucaristia (disse) podemos contemplar a transformação da morte em vida, da violência em amor”:

“Aqui, tudo – poderíamos dizer – conflui num mesmo único hino à vitória da vida e da graça sobre a morte e sobre o pecado, numa sinfonia – altamente sugestiva - de louvor e de amor a Cristo redentor”.








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