Reaberta ao culto a Capela Paulina . As pinturas e decorações desta Capela ajudam
a rezar, particularmente os dois grandes frescos de Miguel Angelo
(4/7/2009) Com a celebração das I Vésperas deste domingo, Bento XVI reabriu ao culto,
neste sábado à tarde, após cinco anos de apurado restauro, a “Capela Paulina”, situada
“no coração do Palácio Apostólico”. Uma capela desejada pelo Papa Paulo III, em meados
do século XVI, “como lugar de oração reservado ao Papa e à Família pontifícia”. As
pinturas e decorações desta Capela ajudam a rezar, particularmente os dois grandes
frescos de Miguel Ângelo, as duas últimas obras da sua longa existência: um representando
a conversão de Paulo e o outro a crucifixão de Paulo.
Na sua homilia, Bento
XVI deteve-se na contemplação meditada destas duas representações, fazendo notar que
o que mais salta à vista é o rosto dos dois Apóstolos. Surpreendentemente, Paulo
é representado como um homem de idade, não obstante o artista soubesse bem que a conversão
no caminho de Damasco ocorreu quando Saulo era um adulto ainda jovem. Vale a pena
aprofundar o sentido desta representação.
“O rosto de Saulo/Paulo - que é
afinal o do próprio artista, já velho, inquieto, que procura a luz da verdade – representa
o ser humano carecido de uma luz superior. É a luz da graça divina, indispensável
para adquirir uma nova vista, de modo a advertir a realidade orientada para a esperança
que vos espera nos céus…”
Iluminado do Alto, à luz do Ressuscitado, não
obstante toda a sua dramaticidade, o rosto de Paulo inspira paz, infunde segurança,
introduzindo-nos assim num nível mais profundo:
“Aqui, portanto, no rosto
de Paulo, podemos já encontrar o coração da mensagem espiritual desta Capela: o prodígio
da graça de Cristo, que transforma e renova o homem mediante a luz da sua verdade
e do seu amor. Nisto consiste a novidade da conversão, da chamada à fé, que encontra
a sua realização no mistério da Cruz”.
Passando depois ao fresco que representa
o martírio de Pedro, Bento XVI sublinhou o facto de que, no momento de ser crucificado
Pedro volta-se para fixar o olhar naqueles que contemplam a cena. Como se nos quisesse
interrogar. Não é uma imagem de sofrimento, pois a figura de Pedro comunica um surpreendente
vigor físico. O seu rosto… parece exprimir “o estado de espírito do homem perante
a morte e o mal: há como que um desassossego, um olhar vivo, intenso, como que a procurar
algo ou alguém, na hora final”. Pedro experimenta toda a amargura da Cruz, no seguimento
de Cristo. O discípulo não é mais do que o Mestre.
“Quem vem meditar nesta
Capela – afirmou o Papa – não pode deixar de contemplar a radicalidade da questão
que a Cruz nos coloca: o drama do mistério pascal: a Cruz de Cristo, Chefe e Cabeça
da Igreja, e a cruz de Pedro, seu Vigário na terra”.
Bento XVI observou ainda
que há como que uma troca de olhares entre os dois frescos: embora sem respeitar a
cronologia dos factos, Miguel Ângelo apresenta Pedro a contemplar, na hora da sua
morte, a iluminação de Paulo no momento da conversão:
“É como se Pedro, na
hora da suprema provação, procurasse aquela luz que deu a Paulo a verdadeira fé. E
assim, neste sentido, os dois ícones podem-se tornar em dois actos de um único drama:
o drama do Mistério pascal: Cruz e Ressurreição, morte e vida, pecado e graça”.
Nesta
Capela, que continuará a ser reservada ao Papa e seus directos colaboradores da Cúria,
emerge – das imagens de que está repleta – aquele desígnio de salvação levado a cumprimento
por Cristo, como refere a Carta aos Filipenses.
“Para quem vem rezar nesta
Capela, e antes de mais para o Papa, Pedro e Paulo tornam-se mestres na fé. Com o
seu testemunho convidam a ir em profundidade, a meditar em silêncio o mistério da
Cruz, que acompanha a Igreja até ao fim dos tempos, e a acolher a luz da fé, graças
à qual a Comunidade apostólica pode estender até aos confins da terra a acção missionária
e evangelizadora que lhe confiou Cristo ressuscitado”.
A concluir, o Papa
referiu ainda o mistério da Eucaristia, “o sacramento em que se concentra toda a obra
da Redenção: em Jesus Eucaristia (disse) podemos contemplar a transformação da morte
em vida, da violência em amor”:
“Aqui, tudo – poderíamos dizer – conflui num
mesmo único hino à vitória da vida e da graça sobre a morte e sobre o pecado, numa
sinfonia – altamente sugestiva - de louvor e de amor a Cristo redentor”.