Cidade do Vaticano, 03 jul (RV) – O prefeito dos Arquivos Secretos do Vaticano,
Dom Sergio Pagano, concedeu ontem, uma coletiva à imprensa, para apresentar a nova
edição das atas do processo de Galileu.
Galileu Galilei foi um cientista italiano
condenado pela Inquisição em 1633, por ter aderido à teoria heliocêntrica de Nicolau
Copérnico, que defendia que o Sol era o centro do Universo, e não a Terra, como se
imaginava na época.
Galileu foi condenado, e seus livros, proibidos de circular.
O cientista começou a ser reabilitado pela Igreja por iniciativa de João Paulo II.
Em 1982, esse pontífice ordenou a criação de grupos de estudos para investigar o caso.
Em 1992, o papa endossou, publicamente, as descobertas de Galileu, e afirmou que houve
uma trágica incompreensão mútua entre a Igreja e o cientista.
Ontem, diante
dos jornalistas, o prefeito dos Arquivos Secretos do Vaticano comentou que às vezes
"tem a impressão de que estamos condenados aos mesmos preconceitos existentes na época
da teoria copernicana".
"O "caso Galileu" ensina a ciência a não se presumir
professora da Igreja em matéria de fé e Sagradas Escrituras, e, ao mesmo tempo, ensina
a Igreja a se aproximar dos problemas científicos (por exemplo, os relativos aos mais
modernos estudos sobre células-tronco e genética) com muita humildade e humanidade"
− explicou Dom Sergio Pagano.
O prefeito dos Arquivos Secretos Vaticanos observou
também que, com o seu "Diálogo" sobre os dois máximos sistemas do mundo − ptolomaico
e copernicano (obra em que os personagens debatem as diferentes interpretações da
astronomia), Galileu, "pareceu ensinar aos teólogos como interpretar a Bíblia, e ao
papa como ser papa".
Com suas teorias, o cientista demonstrou que a Bíblia
não pode ser interpretada ao pé da letra, e que boa parte dela se presta a diferentes
interpretações.
A coletiva de imprensa foi uma ocasião também, para o anúncio
de que os arquivos sobre Pio XII "serão abertos dentro de cinco anos, e deverão isentá-lo
das acusações de ter-se omitido diante do Holocausto" – disse Dom Sergio.
"Pio
XII foi um grande papa e, como se sabe, é atacado pelo seu suposto silêncio sobre
a Shoah" – disse aos jornalistas, acrescentando que "ele fez muitas coisas pelos judeus
e pelos prisioneiros na II Guerra Mundial".
Segundo o prefeito, 20 arquivistas
do Vaticano estão trabalhando em tempo integral, em milhões de páginas de documentos,
contidos em mais de 15 mil lotes, apenas sobre o pontificado de Pio XII. Preparar
e catalogar os arquivos é uma empreitada que levará ainda mais cinco ou seis anos,
depois dos quais, deverão estar à disposição de todos. (CM)