PAPA: CRISTO É O BISPO DAS ALMAS PARA QUE O HOMEM NÃO SE EMPOBREÇA
Cidade do Vaticano, 29 jun (RV) - Dia 29 de junho, Solenidade dos Santos Pedro
e Paulo, Bento XVI presidiu à concelebração eucarística na Basílica Vaticana com 34
arcebispos metropolitanos, aos quais, durante a Santa Missa, impôs o pálio.
Como
é tradição na Festa dos Santos Apóstolos, padroeiros da Cidade de Roma, estava presente
na Santa Missa uma delegação do patriarcado ecumênico de Constantinopla.
Na
homilia, comentando a Primeira Carta de São Pedro, Bento XVI destacou a riqueza do
texto, que tem Cristo como figura central. Neste Ano Sacerdotal, questionou o pontífice,
o que São Pedro tem a dizer a respeito da tarefa do sacerdote?
Primeiramente,
São Pedro concebe o ministério sacerdotal totalmente a partir de Cristo. Cristo é
o "bispo das almas" – diz Pedro. Isso significa que Ele nos vê na perspectiva de Deus,
vê os perigos, assim como as esperanças e as possibilidades.
Se Cristo é o
bispo das almas, disse o papa, o objetivo é evitar que a alma no homem se empobreça,
é fazer com que o homem não perca a sua essência, a capacidade pela verdade e pelo
amor. Fazer com que ele conheça Deus; que não se esmoreça em ruelas cegas; que não
caia no isolamento, mas permaneça aberto a todos.
"Jesus, o 'bispo das almas',
é o protótipo de todo ministério episcopal e sacerdotal. Ser bispo, ser sacerdote
significa assumir a posição de Cristo. Pensar, ver e agir a partir de sua posição
elevada. A partir Dele, estar à disposição dos homens, para que encontrem a vida."
Assim,
a palavra "bispo" se aproxima ao termo "pastor". Aliás, os dois conceitos se tornam
intercambiáveis. Pedro, em seu discurso aos presbíteros, evidencia ainda uma coisa
importante: não basta falar. Os pastores devem ser "modelos do rebanho": "A palavra
de Deus é trazida do passado ao presente, quando é vivida. Isto significa ser pastor,
modelo de rebanho: viver a Palavra agora, na grande comunidade da Santa Igreja".
Comentando
ainda a Primeira Carta de São Pedro, Bento XVI retomou outro conceito presente no
texto: a fé cristã como esperança.
A fé cristã é uma esperança que possui razão,
explicou o pontífice. A fé não contradiz a razão, mas caminha a seu lado e, ao mesmo
tempo, a conduz para a Razão mais elevada de Deus. Como pastores, acrescentou o papa,
temos a tarefa de não deixá-la permanecer simplesmente uma tradição, mas reconhecê-la
como resposta às nossas perguntas. A fé exige a nossa participação racional, que se
aprofunda e se purifica em uma compartilha de amor.
Todavia, advertiu, o pensar,
sozinho, não basta. Assim como o falar, sozinho, não basta. Como afirma Pedro em sua
Carta, é preciso "provar" o Senhor.
"Além do pensar e do falar, necessitamos
da experiência da fé; da relação vital com Jesus. A fé não deve permanecer teoria:
deve ser vida. Se no Sacramento encontramos o Senhor; se na oração falamos com Ele;
se nas decisões do cotidiano aderimos a Cristo – então 'vemos' sempre mais quanto
Ele é bom. Desta certeza vivida, deriva depois a capacidade de comunicar a fé aos
outros de modo crível."
Por fim, Bento XVI ressaltou outro conceito contido
na Carta de São Pedro: a salvação das almas. O papa ressalvou que, no mundo da linguagem
e do pensamento da atual cristandade, a palavra "alma" caiu em descrédito, seja por
representar uma divisão do homem em espírito e físico, em alma e corpo, seja por indicar
um cristianismo individualista, uma perda de responsabilidade perante o mundo no seu
conjunto.
"Mas nada disso se encontra na Carta de São Pedro" – explicou o
pontífice. "Permanece verdadeiro que a falta de cuidado pelas almas, o empobrecimento
do homem interior não destrói somente o indivíduo, mas ameaça o destino da humanidade
no seu conjunto. (...) São Pedro qualificou a verdadeira doença das almas como ignorância,
ou seja, como falta de conhecimento de Deus. Quem não conhece Deus, quem pelo menos
não O busca sinceramente, permanece fora da verdadeira vida."
Bento XVI concluiu
a homilia dirigindo-se aos arcebispos que receberam o pálio: "O pálio nos recorda
o rebanho de Jesus Cristo, que vocês, caros irmãos, devem apascentar em comunhão com
Pedro. O pálio nos recorda o próprio Cristo, que como Bom Pastor tomou a ovelha perdida,
a humanidade, para levá-la de volta para casa. Nos recorda o fato de que Ele, o Pastor
supremo, quis fazer-se Ele mesmo Ovelha, para responsabilizar-se do destino de todos
nós".
Após a homilia, o papa entregou o pálio – a estola de lã branca com cruzes
pretas, símbolo da união com o sucessor de Pedro – a 34 arcebispos metropolitanos
de recente nomeação, provenientes de diversos países do mundo.
Quatro deles
eram brasileiros: de Teresina (PI), Dom Sérgio da Rocha; de Botucatu (SP), Dom Maurício
Grotto de Camargo; de Juiz de Fora (MG), Dom Gil Antônio Moreira; e do Rio de Janeiro
(RJ), Dom Orani João Tempesta. (BF)