CARDEAL TAURAN: ASSISTIMOS A UM RETORNO DO FATO RELIGIOSO, A UM RENASCIMENTO DA SACRALIDADE
Paris, 06 jun (RV) - Realizou-se nestes dias em Montauban, na França, o Colóquio
internacional sobre o ensino das religiões, do qual participou, entre outros, o presidente
do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, Cardeal Jean-Louis Tauran.
A dimensão do diálogo inter-religioso esteve no centro do pronunciamento do purpurado
francês.
"Vivemos todos em sociedades pluriculturais e multirreligiosas, disse
o prelado recordando que "as religiões são capazes do melhor e do pior: podem colocar-se
a serviço de um projeto de santidade ou de um projeto de alienação".
Referindo-se
àqueles que praticam ações terroristas dizendo-se inspirados por motivos religiosos,
o cardeal reconheceu que tudo isso alimenta "o paradoxo que as religiões são percebidas
como perigo". A esse propósito, falando do Islã, o purpurado ressaltou que "tudo isso
não diz respeito ao verdadeiro Islã praticado pela maioria dos fiéis dessa religião".
O
presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso observou que "a religião
não é um momento particular da história, mas pertence à natureza do homem".
Contudo,
o Cardeal Tauran reconheceu que existem contextos, orientações e práticas particulares:
ele recordou uma certa filosofia iluminista segundo a qual somente a razão pode ter
acesso à verdade; ou um certo programa da Revolução francesa que queria construir
uma sociedade sem Deus; para não falar da "escuridão que a humanidade conheceu com
os dois totalitarismos do século passado".
Olhando para os nossos dias, o prelado
ressaltou que, apesar dos desafios, "a questão de Deus emergiu mais forte do que nunca"
e que assistimos a um retorno do fato religioso, a um renascimento da sacralidade.
"A religião tornou-se um fator capital na vida cultural, política e econômica, bem
como no ensino", na formação da pessoa.
Ressaltando que em algumas sociedades
ocidentais diminuiu o nível da participação comunitária, o purpurado citou a expressão
inglesa que resume o fenômeno: believing without belonging, ou seja, acreditar
sem pertencer, que significa um modo emocional e individualista de crer. Diante disso,
o Cardeal Tauran reiterou a importância do "conhecimento sério da própria tradição
religiosa" e, portanto, da clareza da própria identidade.
Em seguida, o prelado
afirmou que "a Igreja está aberta ao mundo" e concebe "o diálogo com os fiéis de outras
confissões como uma fonte de enriquecimento para todos". Mas advertiu: diálogo inter-religioso
não significa dizer que "todas as religiões ensinam mais ou menos a mesma coisa",
mas que "todas as pessoas que buscam Deus têm a mesma dignidade" e significa "fazer
o possível para compreender o ponto de vista do outro".
O purpurado recordou
que a dignidade da pessoa e o caráter sagrado da vida são pontos firmes para as nossas
tradições religiosas, e juntos com homens de boa vontade aspiramos à paz. Por fim,
o Cardeal Tauran citou palavras que Bento XVI proferiu no dia 1º de fevereiro de 2007:
"A busca e o diálogo inter-religioso não são uma opção, mas uma necessidade dos nossos
tempos". (RL)