Dublin, 21 mai (RV) - O cardeal-arcebispo de Armagh, Irlanda, Séan Baptist
Brady, declarou-se "profundamente envergonhado" pelos abusos contra crianças perpetrados
por instituições ligadas à Igreja.
A declaração do cardeal foi feita após
a publicação, nesta quarta-feira, em Dublin, de um relatório que denuncia décadas
de abusos contra menores em instituições "correcionais" irlandesas, administradas
por ordens religiosas.
O relatório – de 2.500 páginas − custou 70 milhões
de euros e levou quase dez anos para ser elaborado. No documento, relata-se um clima
de medo criado através de "punições arbitrárias e excessivas" e de abuso sexual "endêmico"
em institutos masculinos.
Denuncia-se também, o silêncio da hierarquia da Igreja
irlandesa, que estava informada dos métodos violentos com os quais crianças e adolescentes
"difíceis" eram tratados. A comissão foi instituída em 2000 pelo Governo irlandês,
e reuniu 700 testemunhos de pessoas que sofreram violências em reformatórios, orfanatos
e escolas.
Dura a condenação de tais episódios também por parte do arcebispo
de Dublin, Dom Diarmuid Martin, comentando a publicação do relatório.
O prelado
se disse consciente do fato que "seria extremamente superficial" comentar o relatório,
falando apenas de "uma injustiça às vítimas". Ele acrescentou que "as histórias dessas
pessoas, sobre os horríveis abusos sofridos, em muitos casos provocam uma reviravolta
no estômago". "A coragem das vítimas, em contar o que lhes aconteceu - acrescentou
Dom Diarmuid Martin - é admirável."
Para o arcebispo, todas as organizações
e instituições da Igreja mencionadas no relatório deveriam "examinar seriamente" como
"seus ideais foram degradados, em virtude de tais abusos sistemáticos".
"Devemos
assegurar que o choro e as ânsias das crianças sejam ouvidos. Este relatório não pode
ir parar numa gaveta. Se lamentamos realmente o que houve no passado _ acrescentou
Dom Diarmuid Martin _ devemos nos empenhar para que no futuro, coisas do gênero não
voltem a acontecer."
Em junho próximo, será a vez de a Arquidiocese de Dublin
apresentar um análogo relatório, sobre os abusos perpetrados em sua jurisdição.
Em
discurso aos bispos da Conferência Episcopal da Irlanda, em visita "ad Limina" ao
Vaticano, em outubro de 2006, Bento XVI citou os casos "dolorosos" de abusos contra
menores, que são ainda mais trágicos quando cometidos por um eclesiástico.
"As
feridas causadas por atos do gênero são profundas, e é urgente a tarefa de restabelecer
a confiança. É importante estabelecer a verdade do que aconteceu no passado, tomar
todas as medidas aptas a evitar que tais atos se repitam no futuro, garantir que os
princípios da Justiça sejam plenamente respeitados e, sobretudo, curar as vítimas
e todos aqueles que foram atingidos por esses crimes fora do comum" – disse o papa
na ocasião. (BF/AF)