Roma, 16 mai (RV) - O papa Ratzinger se inclinou sobre a urna das cinzas das
vítimas dos campos de extermínio nazistas, em Yad Vashem; o papa Ratzinger com os
refugiados de Aida diante do Muro que divide a Cisjordânia de Israel, os israelenses
do medo e os palestinos de uma vida normal. São imagens que − segundo a imprensa internacional
− não devem ser esquecidas, da viagem de Bento XVI à Jordânia, Israel e Territórios
Palestinos.
A XII Peregrinação Apostólica Internacional do pontificado de Bento
XVI, talvez tenha sido a mais difícil e intensa de seu pontificado, por causa do mesclar-se
de temas políticos e inter-religiosos, pelo significado dos lugares visitados, pelos
trinta discursos escritos e pronunciados com atenção e cuidado.
Oito dias
na Jordânia, Israel e Territórios Palestinos dentro de um emaranhado de relações e
problemas políticos, inter-religiosos e pastorais, vividos num momento crucial do
conflito israelense-palestino, com a frustração palestina próxima à explosão, e a
reviravolta que o presidente norte-americano Obama deseja dar à diplomacia internacional
para desbloquear as negociações sobre o Oriente Médio.
Uma viagem que não reuniu
grandes multidões − como já era previsto − mas que chamou atenção pelos temas que
o papa abordou. Uma viagem "difícil", como reconheceu o próprio Santo Padre durante
o vôo de retorno a Roma, ocasião em que forneceu aos jornalistas um primeiro e sintético
balanço: emoções por alguns lugares visitados, e a "impressão fundamental" de que
em todos − judeus, cristãos e muçulmanos – haja uma decidida vontade de colaboração…
entre as religiões e não por motivos políticos.
O pontífice disse ainda, que
existe a consciência do fato que, na Terra Santa, são muitas as "dificuldades": "Pudemos
ver isso e devemos vê-las e esclarecê-las, e infelizmente não é tão visível o desejo
comum de paz e de fraternidade", sublinhou o Santo Padre.
Os objetivos desta
sua 12ª viagem apostólica internacional já haviam sido claramente evidenciados pelo
próprio Bento XVI, muitos antes de ela iniciar: "ser peregrino de paz" na terra de
Jesus; confirmar a fé dos cristãos da Terra Santa − pequena minoria, próxima à extinção
e tentada pela emigração; reforçar as relações com o Islamismo e o Judaísmo, promovendo,
entre outras coisas, uma "mesa de diálogo trilateral", e a questão do ecumenismo.
E
se, com o Islamismo moderado, o papa podia contar com as boas relações iniciadas após
Regensburg, com o Judaísmo era muito recente a crise derivada das declarações negacionistas
do bispo tradicionalista lefébvriano, Dom Williamson.
Os católicos da Terra
Santa, por sua vez, temiam que a delicadeza das relações com muçulmanos e judeus pudesse
prejudicar a viagem, fazendo com que as palavras do Santo Padre não chegassem aos
corações de todos os habitantes da região.
Diante dessa complexidade de situações
e aspirações, Bento XVI optou por falar claramente com todos, dizendo tudo aquilo
que queria dizer, agradando ou não a seus interlocutores. Assim, aos israelenses recordou
os direitos dos palestinos a um seu Estado, e o direito à liberdade de livre circulação
e de religião; e aos palestinos, o direito dos israelenses, de viverem seguros dentro
de seus confins, e a rejeição ao terrorismo.
Sobretudo falou de paz, seja no
momento da sua chegada a Israel, seja no dia passado em Belém, nos Territórios da
Autoridade Nacional Palestina, reafirmando o direito dos palestinos a uma "Pátria
soberana", "segura e em paz com os seus vizinhos, dentro de fronteiras internacionalmente
reconhecidas".
A etapa jordaniana viu o reforço das relações com os muçulmanos,
e comportamentos de grande respeito e simpatia, como a colocação de um tapete na mesquita
de al-Hussein Bin-Talal, de Amã, para que o papa pudesse visitá-la sem ter que tirar
os sapatos.
Nos últimos dias, Bento XVI procurou, por diversas vezes, infundir
coragem aos cristãos e católicos da Terra Santa, que estão diminuindo por causa das
dificuldades econômicas e, mais ainda, em virtude das pressões sociais dos israelenses
e muçulmanos. Uma atitude esta, que deu novo ânimo a esse pequeno rebanho que vive
nos lugares onde Cristo viveu.
Durante o vôo de retorno a Roma e ao Vaticano,
Bento XVI fez votos ainda, de que outros peregrinos tomem a estrada da Terra Santa.
Duas
últimas curiosidades: excepcionalmente, para este vôo de retorno, a companhia aérea
de bandeira israelense – El Al – emitiu um ticket de embarque para o Santo Padre:
não se sabe se em nome de Bento XVI ou de Joseph Ratzinger. Durante a viagem de regresso,
o papa saudou a jornalista do canal inglês da televisão "Al Jazeera" – Barbara Serra
– a primeira repórter de um meio de comunicação árabe a fazer parte da comitiva de
repórteres que viajou com o pontífice. (SP)