NOBEL DA PAZ EM MIANMAR PODE SER CONDENADA A ATÉ 5 ANOS DE RECLUSÃO
Yangún, 14 mai (RV) - A líder oposicionista e vencedora do prêmio Nobel da
Paz-1991, Aung San Suu Kyi, de 63 anos, pode ser condenada a até cinco anos de reclusão,
apenas por ter recebido a visita de um norte-americano, por dois dias, em sua residência,
onde ela cumpre prisão domiciliar.
No início do mês, John William Yettaw,
de 53 anos, chegou à casa de Aung San Suu Kyi, que fica à beira de um lago, na capital
de Mianmar, Yangún, a nado. O norte-americano passou dois dias na casa da líder e
depois foi embora, sempre a nado. Ao chegar ao hotel em que estava hospedado, foi
preso. O motivo da visita é desconhecido.
Segundo investigações das autoridades,
essa foi a segunda vez que Yettaw − descrito como estudante de psicologia e morador
no estado de Missouri, EUA − tenta chegar até a casa da prêmio Nobel da Paz. A primeira
tentativa, sem sucesso, ocorreu no ano passado.
As autoridades proíbem que
estrangeiros durmam na casa dos cidadãos de Mianmar e obrigam a notificação sobre
visitas noturnas, de qualquer pessoa que não seja parente.
A incidente ocorreu
duas semanas antes do fim da pena imposta a ela em 2003, pela luta não-violenta em
favor da democracia. No passado, a Junta Militar que governa o país − e que considera
Aung San Suu Kyi como a maior ameaça à ditadura − já havia encontrado motivos para
prorrogar sua prisão domiciliar, o que, segundo especialistas internacionais, é ilegal
mesmo no contexto das leis do país.
Segundo ativistas que apóiam Aung San Suu
Kyi, o novo julgamento é um truque dos militares para evitar um confronto eleitoral
no próximo pleito, previsto para 2010. O partido da Nobel da Paz − Liga Nacional para
a Democracia − que conseguiu a vitória apenas nas eleições de 1990 (resultado rejeitado
pelos militares) condenou fortemente o novo julgamento.
Aung San Suu Kyi passou
13 dos últimos 19 anos, presa. A maior parte desse tempo, incomunicável, com as linhas
dos telefones cortadas, sem correspondência e com visitas restritas. Segundo a lei
do país, a visita do norte-americano pode ser vista como "uma grave violação das restrições
impostas". Há ainda outras informações de que a líder poderá ser condenada também
por ter violado as leis de imigração.
De acordo com seus advogados, Aung San
Suu Kyi tem enfrentado diversos problemas de saúde, como desidratação e pressão baixa.
As Nações Unidas condenam sua prisão prolongada, e afirmam que sua detenção é ilegal,
uma vez que a Justiça do país não permite a prisão por cinco anos consecutivos antes
do fim da pena anterior. (AF)