2009-05-12 17:27:44

“Os que crêem no Deus de misericórdia – quer se identifiquem como Judeus, Cristãos ou Muçulmanos – têm de ser os primeiros a promoverem a cultura da reconciliação e da paz, sem desanimarem com a penosa lentidão dos progressos, nem pelo pesado fardo das recordações do passado”. Bento XVI na homilia da Missa no Vale de Cedron em Jerusalém


(12/5/2009) O evento conclusivo do dia foi a celebração da Missa no Vale de Cedron entre o Monte das Oliveiras e a Cidade Santa de Jerusalém.
A agonia do povo palestiniano e a falta de um estado livre e independente para ele foi denunciada pelo patriarca latino de Jerusalém Fouad Twal na saudação ao Papa antes da Missa, a primeira celebrada publicamente desde que chegou a Israel.O Patriarca citou também a agonia dos israelitas: assistimos – disse – por um lado á agonia do povo palestiniano que sonha viver num Estado palestiniano livre e independente, mas não chega lá; e assistimos do outro lado á agonia de um povo israelita que sonha uma vida normal na paz e na segurança, mas, não obstante a sua potencia mediática e militar não o consegue.
Na homilia, Bento XVI começou por declarar ter querido, como sucessor de Pedro, seguir os seus passos para proclamar Cristo ressuscitado no meio dos cristãos da Terra Santa, confirmando-os na fé dos seus antepassados e invocando sobre eles a consolação que é dom do Paráclito:

“Desejo aqui hoje, na vossa presença, reconhecer as dificuldades, a frustração e a aflição e sofrimentos que muitos de vós têm suportado em razão dos conflitos que têm afectado estas terras, e às amargas experiências de deslocação a que muitos de vós foram constrangidos e que – Deus nos livre! – poderiam ainda voltar a acontecer”.

Interrompido pelos aplausos da assembleia, o Papa assegurou aos fiéis que não são esquecidos e que a “presença e testemunho perseverante” que dão “são sem dúvida preciosos aos olhos de Deus e uma componente integrante do futuro destas terras”.

“Precisamente devido às profundas raízes que tendes nesta terra, à vossa forte e antiga cultura cristã e à inquebrantável confiança nas promessas de Deus, vós, os cristãos da Terra Santa, sois chamados a servir não só como farol de fé para a Igreja universal, mas também como fermento de harmonia, de sabedoria e de equilíbrio na vida de uma sociedade que tradicionalmente tem sido, e continua a ser, pluralista, multiétnica e multi-religiosa”.

“A comunidade cristã nesta Cidade onde teve lugar a ressurreição de Cristo e onde foi derramado o Espírito deve por maioria de razão (sublinhou o Papa) manter-se firme na esperança do Evangelho, apoiada na promessa da vitória definitiva de Cristo sobre o pecado e a morte, testemunhando a potência do perdão e tornando visível a natureza mais profunda da Igreja: ser sinal e sacramento de uma humanidade reconciliada, renovada e unida em Cristo”.

Concentrando depois o olhar sobre Jerusalém, Bento XVI pôs em relevo a universalidade que a caracteriza e a que está chamada. “Reunidos aqui aos pés das muralhas desta Cidade que os discípulos das três grandes religiões consideram sagradas, como não pensar na vocação universal de Jerusalém?” – exclamou o Papa. “Anunciada pelos profetas, esta vocação aparece como um facto indiscutível, uma realidade enraizada para sempre na complexa história desta cidade e do seu povo”.

“Judeus, muçulmanos e cristãos – todos eles consideram esta Cidade como a sua pátria espiritual. Como resta ainda tanto por fazer para que ela seja verdadeiramente uma cidade de paz para todos os povos, onde todos possam vir em peregrinação, para procurar Deus e escutar a sua voz, uma voz que anuncia a paz!”

“De facto – prosseguiu – Jerusalém sempre foi uma cidade com ruas onde ressoam diferentes línguas, uma cidade cujas pedras foram edificadas por gente de todas as raças e línguas, cuja muralhas são um símbolo do cuidado providente de Deus por toda a família humana”.

“Como um microcosmos do nosso mundo globalizado, esta Cidade, se quiser viver a sua vocação universal, tem que ser um lugar que ensine universalidade, respeito pelos outros, diálogo e compreensão mútua. Um lugar onde os preconceitos, a ignorância e o medo que os alimentam, são vencidos pela honestidade, pela integridade e pela busca da paz. Não deveria haver lugar dentro deste muros para a estreiteza de espírito, para a discriminação, a violência e a injustiça”.

“Os que crêem no Deus de misericórdia – quer se identifiquem como Judeus, Cristãos ou Muçulmanos – têm de ser os primeiros a promoverem este cultura da reconciliação e da paz, sem desanimarem com a penosa lentidão dos progressos, nem pelo pesado fardo das recordações do passado”.

Quase a concluir a homilia da Missa nesta terça de tarde no Vale do Cédron, em Jerusalém, Bento XVI quis ainda “referir abertamente a trágica realidade” - que (sublinhou) “não pode deixar de ser fonte de preocupação para todos os que amam esta Cidade e esta terra” – que é a partida de tantos membros da comunidade cristã, nos últimos anos. Embora reconhecendo como “compreensíveis” as motivações que levam tantos, sobretudo jovens, a emigrar, o Papa sublinhou que tal constitui “um grande empobrecimento espiritual e cultural para a Cidade”.

“Na Terra Santa há lugar para todos e cada um! Ao mesmo tempo que Insto as autoridades a respeitarem, apoiarem e valorizarem a presença cristã aqui, quero assegurar-vos a solidariedade, amor e apoio de toda a Igreja e da Santa Sé”.








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