PAPA ASSEGURA SOLIDARIEDADE, AMOR E APOIO DE TODA A IGREJA AOS CRISTÃOS NA TERRA SANTA
Jerusalém, 12 mai (RV) - Bento XVI presidiu nesta terça-feira − quinto dia
de sua peregrinação na Terra Santa, segundo em Jerusalém − às 16h30 locais (10h30
de Brasília), à santa missa no Vale de Josafá, que se encontra diante da Basílica
do Getsêmani e do Horto das Oliveiras. Ao chegar à entrada do vale, o Santo Padre
transferiu-se do automóvel fechado – que o levara da sede da Delegação Apostólica
até aquele local – para o papamóvel, dando uma volta entre os fiéis e peregrinos presentes,
que o acolheram com entusiasmo e muita alegria.
No início da celebração, o
patriarca latino de Jerusalém, Dom Fouad Twal, dirigiu algumas palavras de saudação
ao Santo Padre. Ao dar as boas-vindas ao papa à cidade onde Jesus Cristo obteve a
vitória sobre o pecado e sobre a morte, e a salvação para aqueles que acreditam n'Ele,
o patriarca ressaltou que em muitos aspectos, a situação hoje não mudou muito, em
relação ao tempo de Jesus.
"De um lado, assistimos à agonia do povo palestino,
que sonha viver num Estado palestino livre e independente, mas não consegue; de outro,
assistimos à agonia de um povo israelense, que sonha uma vida normal na paz e na segurança,
mas, não obstante a sua potência midiática e militar, não consegue" – ponderou Dom
Twal.
"Deste Vale de Josafá, vale de lágrimas, façamos subir a nossa oração
para que se realizem os sonhos desses dois povos" – acrescentou.
"Com a sua
visita – disse Dom Twal – o senhor nos traz a solicitude e a solidariedade de toda
a Igreja, e atrai a atenção do mundo para esta região, para estes povos, sua história,
seus combates e suas esperanças, seus sorrisos e suas lágrimas. "A sua visita hoje
– continuou – é um grande conforto para os nossos corações e a ocasião de dizer a
todos que o Deus de compaixão e aqueles que acreditam n'Ele não são nem cegos, nem
esquecidos, nem insensíveis."
Agradecendo ao patriarca pelas palavras de boas-vindas
a ele dirigidas, Bento XVI quis expressar, em primeiro lugar, também a sua alegria
por estar ali, para celebrar a Eucaristia com os presentes, Igreja de Jerusalém. O
papa quis saudar também os fiéis da Terra Santa que, por várias razões, não puderam
estar presentes.
Como sucessor de Pedro – disse o pontífice – percorri os seus
passos, para proclamar, entre vocês, o Senhor Ressuscitado, para confirmá-los na fé
de seus pais e invocar sobre vocês a consolação que é o dom do Paráclito.
"Espero
que minha presença aqui seja um sinal de que vocês não foram esquecidos – frisou o
Santo Padre – que sua perseverante presença e testemunho são, de fato, preciosas aos
olhos de Deus, e são um componente do futuro dessas terras." Dito isso, o pontífice
fez uma exortação aos cristãos daquele lugar:
"Vocês, cristãos da Terra Santa,
são chamados a servir não somente como um farol de fé para a Igreja presente no mundo
inteiro, mas também como fermento de harmonia, sabedoria e equilíbrio na vida de uma
sociedade que, tradicionalmente, foi e continua sendo pluralista, multiétnica e multirreligiosa."
Referindo-se
à liturgia da palavra, o papa ressaltou que, na segunda leitura, o Apóstolo Paulo
pede aos colossenses que "busquem as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita
de Deus" (Col 3, 1). A exortação de Paulo a "buscar as coisas do alto" – frisou
o pontífice – deve ressoar continuamente em seus corações. As suas palavras nos indicam
o cumprimento da visão de fé naquela Jerusalém celeste, onde, em conformidade com
as antigas profecias, Deus enxugará toda lágrima e preparará um banquete de salvação
para todos os povos (cfr Is 25, 6-8; Ap 21, 2-4).
"Infelizmente
– constatou o Santo Padre – entre os muros desta mesma cidade, somos levados a considerar
como o nosso mundo se encontra distante do cumprimento dessa profecia e promessa.
Nesta mesma Cidade Santa onde a vida derrotou a morte, onde o Espírito foi infundido
como primeiro fruto da nova criação, a esperança continua combatendo o desespero,
a frustração e o cinismo, enquanto a paz, que é dom e chamado de Deus, continua sendo
ameaçada pelo egoísmo, pelo conflito, pela divisão e pelo peso das ofensas sofridas."
Por
essa razão – continuou Bento XVI em sua homilia – a comunidade cristã nesta cidade
que viu a ressurreição de Cristo e a efusão do Espírito, deve fazer todo o possível
para conservar a esperança oferecida pelo Evangelho, considerando grandemente o penhor
da vitória definitiva de Cristo sobre o pecado e sobre a morte, testemunhando a força
do perdão e manifestando a natureza mais profunda da Igreja como sinal e sacramento
de uma humanidade reconciliada, renovada e feita una em Cristo, o novo Adão.
"Reunidos
entre os muros desta cidade, sagrada para os seguidores das três grandes religiões,
como não dirigir os nossos pensamentos à vocação universal de Jerusalém? Anunciada
pelos profetas, essa vocação se mostra como um fato indiscutível, uma realidade irrevogável
fundada na complexa história desta cidade e de seu povo. Judeus, muçulmanos e cristãos
juntos, qualificam, esta cidade como a sua pátria espiritual."
Quanto ainda
precisa ser feito para torná-la realmente uma "cidade da paz" para todos os povos
– ressaltou – onde todos possam vir em peregrinação em busca de Deus, e para ouvir
a voz, "uma voz que fala de paz" (cf. Sl 85, 8)!
Como um microcosmo
do nosso mundo globalizado, esta cidade deve viver a sua vocação universal – exortou
o pontífice – deve ser um lugar que ensina a universalidade, o respeito pelos outros,
o diálogo e a compreensão recíproca; um lugar onde o preconceito, a ignorância e o
medo que os alimenta, sejam superados pela honestidade, pela integridade e pela busca
da paz.
Entre esses muros – enfatizou – não deveria haver lugar para a discriminação,
a violência e a injustiça. Aqueles que crêem num Deus de misericórdia – sejam eles
judeus, cristãos ou muçulmanos – devem ser os primeiros a promover essa cultura da
reconciliação e da paz, por mais lento que o processo possa ser, e por pesado que
seja o fardo das recordações passadas.
O papa concluiu, exortando as autoridades
a respeitarem a presença cristã naquela terra, assegurando, ao mesmo tempo, a solidariedade,
o amor e o apoio de toda a Igreja e da Santa Sé aos cristãos na Terra Santa. (RL)