Criar oásis de paz e de meditação profunda, onde de novo se possa escutar a voz de
Deus foi o convite do Papa no encontro com as organizações para o diálogo inter-religioso
no Auditório de Notre Dame, no Jerusalem Center.
(11/5/2009) Bento XVI teve no fim da tarde desta segunda feira a um encontro com
as organizações para o diálogo inter-religioso no Auditório de Notre Dame, no Jerusalem
Center. “Que contribuição pode dar a religião às culturas do mundo, perante os
efeitos de uma rápida globalização?” – foi a questão para a qual Bento XVI esboçou
uma resposta na sua intervenção. “Cada cultura, com a sua capacidade interna
de dar e receber, é um sinal da unidade da natureza humana” – reflectiu o Papa. “Contudo,
o indivíduo nunca se exprime plenamente através da sua própria cultura; pelo contrário,
transcende-a, na sua busca constante de qualquer coisa que a ultrapassa”.
“É
nesta perspectiva que nós entrevemos, caros amigos, a possibilidade de uma unidade
que não é dependente da uniformidade. Embora as diferenças que nós identificamos no
diálogo inter-religioso possam por vezes aparecer como barreiras, contudo é necessário
que não lancem qualquer sombra sobre o sentido comum de adoração e de respeito pelo
universal, pelo absoluto e pela verdade que leva os membros das religiões a falarem
entre si, em primeiro lugar”.
“A crença religiosa pressupõe a verdade” – prosseguiu
Bento XVI. “A pessoa que crê é alguém que procura a verdade e que dela vive”. Ora,
“a verdade deveria ser proposta a todos, pois está ao serviço de todos os membros
da sociedade. A verdade ilumina os fundamentos da moral e da ética, e insufla à razão
a força de superar os seus próprios limites para dar forma às aspirações mais profundas
que temos em comum”.
“Longe de ser uma ameaça para a tolerância perante as
diferenças culturais, na sua pluralidade, a verdade torna possível um consenso e permite
ao debate público permanecer racional , honesto e sólido, abrindo finalmente o caminho
para a paz. Encorajar a vontade de obedecer à verdade, permite de facto alargar a
nossa concepção da razão e o seu campo de aplicação e torna possível o diálogo autêntico
entre as culturas e as religiões que é tão urgente desenvolver hoje em dia”.
Bento
XVI reconheceu que é hoje em dia mais difícil ouvir claramente a voz de Deus, até
porque muitas vezes a razão se torna surda ao divino. Há um vazio que não é silêncio,
mas sim a cacofonia das exigências do egoísmo, das promessas vãs e das falsas esperanças
que na maioria dos casos ocupa os espaços onde Deus nos procura”. Haverá portanto
que criar oásis de paz e de meditação profunda, onde de novo se possa escutar a voz
de Deus, descoberta no coração da razão universal, onde cada indivíduo, independentemente
da sua origem, pertença étnica ou política, ou crença religiosa, possa ser respeitada
como pessoa, como um semelhante”.
Quase a concluir o seu denso discurso,
Bento XVI saudou expressamente os variados grupos culturais presentes – empenhados
por exemplo no diálogo inter-religioso ou na promoção de iniciativas culturais em
variados níveis: desde instituições académicas a grupos de pais em dificuldade; desde
iniciativas musicais ou artísticas até grupos organizados de diálogo, ou associações
caritativas…
“Dia após dia, vós mostrais acreditar que o nosso dever para
com Deus não se exprime apenas através do culto que Lhe prestamos, mas também no amor
e na preocupação que temos em relação à sociedade, à cultura, ao nosso mundo e a todos
os que vivem nesta terra”.
“Há quem queira fazer crer que as nossas diferenças
são forçosamente causa de divisão e que por isso deveremos ser, quando muito, tolerados,
senão mesmo reduzidos ao silêncio” – observou o Papa. “Mas nós sabemos que as nossas
diferenças nunca devem ser desnaturadas a ponto de serem consideradas causa inevitável
de fricção ou de tensão entre nós, ou na sociedade no seu conjunto”. Pelo contrário:
“(As
nossas diferenças) oferecem-nos uma maravilhosa oportunidade para as pessoas de diferentes
religiões viverem juntos com grande respeito, estima e consideração, encorajando-se
uns aos outros pelos caminhos de Deus. Animados por Deus e iluminados por esta
verdade, podemos continuar passo a passo com coragem, respeitando tudo o que nos diferencia
e promovendo tudo o que nos une como criaturas abençoadas pelo desejo de dar esperança
às nossas comunidades e ao mundo! Que Deus nos guie ao longo deste caminho”.