BENTO XVI: "DEPOIS DAS GUERRAS, A VERGONHA DA FOME NO MUNDO"
Cidade do Vaticano, 04 mai (RV) – Bento XVI recebeu em audiência, na manhã
desta segunda-feira, os participantes da 15ª Sessão Plenária da Pontifícia Academia
das Ciências Sociais, que se realizou nos últimos dias, no Vaticano. Esse organismo
tem como missão aprofundar a Doutrina Social da Igreja nas áreas de Direito, Economia,
Política e outras ciências sociais. Sua presidente é a Prof. Mary Ann Glendon, a quem
o papa agradeceu, inicialmente, por suas cordiais palavras de saudação.
Além
de estudar trabalho, democracia, globalização, solidariedade e subsidiariedade em
relação aos ensinamentos sociais da Igreja, essa Academia se dedica, atualmente, ao
estudo da dignidade da pessoa humana e dos direitos humanos: um ponto de encontro
entre a Doutrina da Igreja e a sociedade contemporânea.
O papa recordou que
as grandes religiões e filosofias do mundo têm iluminado alguns desses aspectos dos
direitos humanos, assim como concisamente expressos na regra de ouro contida no Evangelho:
"O que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles."
A Igreja sempre
afirmou que os direitos fundamentais são inerentes à natureza do homem, que é criado
à imagem e semelhança de Deus. Se todos os seres humanos são criados à imagem e semelhança
de Deus, eles compartilham uma natureza comum, que os une e evoca o respeito universal.
Assimilando os ensinamentos de Cristo, a Igreja considera a pessoa como "o bem maior
da natureza", e tem ensinado que os aspectos éticos e de ordem política que regem
as relações entre as pessoas têm origem na própria estrutura do ser humano.
"A
própria mensagem de Cristo – que proclama que Deus ama cada homem e mulher, e que
todo ser humano é chamado a amar a Deus livremente – demonstra que todos, independentemente
de sua condição social e cultural, por natureza, merecem liberdade. Ao mesmo tempo,
devemos sempre lembrar que a própria liberdade deve ser libertada. E é Cristo que
a liberta."
Em seguida, Bento XVI lembrou que, em meados do século passado,
após os sofrimentos causados pelas duas guerras mundiais e pelos crimes perpetrados
por ideologias totalitárias, a comunidade internacional estabeleceu um novo sistema
de Direito, baseado nos direitos humanos. Com isso, os direitos humanos se tornaram,
para a maioria da humanidade, o ponto de referência de uma ética universal compartilhada.
Estritamente falando, esses direitos humanos não são verdades da fé, mas recebem
ulterior confirmação da fé. Em última análise, se alicerçam em uma participação de
Deus, criador de todas as pessoas humanas, dotadas de inteligência e liberdade. Quando
essa base ética e essa política são ignoradas, os direitos humanos se fragilizam,
pois são privados de seus sólidos fundamentos.
Em seu discurso aos participantes
da 15ª Sessão Plenária da Pontifícia Academia das Ciências Sociais, o pontífice citou
alguns dos problemas sociais mais críticos das últimas décadas, como a crescente consciência
– nascida da globalização e da atual crise econômica – da existência de um flagrante
contraste entre a justa atribuição de direitos iguais e injustos meios de acesso a
tais direitos.
"Para nós, cristãos, que regularmente pedimos a Deus que "nos
dê o pão cotidiano", é uma vergonhosa tragédia que um quinto da humanidade ainda passe
fome – disse o Santo Padre. Para garantirmos a adequada oferta de alimentos e recursos
vitais, como a água e a energia, é preciso a colaboração e a disposição de todos os
líderes internacionais. Eles devem trabalhar em boa fé, respeitando as leis naturais
e promovendo a solidariedade e subsidiariedade nas regiões e povos das áreas mais
pobres do Planeta, além de uma estratégia mais eficaz, capaz de eliminar as desigualdades
sociais entre os países e as sociedades, e aumentar a segurança global."
Encerrando
seu discurso, o papa exortou os cientistas e acadêmicos a serem testemunhas críveis
e consistentes da defesa e da promoção desses direitos inegociáveis, fundados na lei
divina. (CM)