2009-05-03 13:26:54

LEIA TEXTO DA HOMILIA DO PAPA NA ORDENAÇÃO DOS NOVOS SACERDOTES DA DIOCESE DE ROMA


Cidade do Vaticano, 03 mai (RV) - Bento XVI presidiu, na manhã deste domingo, na Basílica de São Pedro, a santa missa de ordenação sacerdotal a dezenove diáconos da Diocese de Roma. Além disso, hoje a Igreja celebra o 4° Domingo da Páscoa, Domingo do Bom Pastor, e 46° Dia Mundial de Oração pelas Vocações.

A seguir o texto da homilia do Santo Padre com a tradução livre de Mariângela Jaguraba.

Queridos irmãos e irmãs!

Segundo uma bonita tradição, no Domingo do “Bom Pastor” se reúnem os bispos de Roma e seus presbíteros para a ordenação de novos sacerdotes da diocese. Isto é a cada vez um grande dom de Deus; é a sua graça! Despertamos em nós um sentimento profundo de fé e de reconhecimento em viver a atual celebração. E neste clima saúdo com afeto o Cardeal Vigário Agostino Vallini, os bispos auxiliares, os demais irmãos no episcopado e no sacerdócio, e com afeto especial vocês, queridos diáconos candidatos ao presbiterado, junto com os seus familiares e amigos. A Palavra de Deus que ouvimos nos oferece alguns pontos chaves para a meditação: ilustrarei alguns, para que ela possa iluminar o caminho de suas vidas e de seus ministérios.

“Este Jesus é a pedra... pois não existe debaixo do céu outro nome dado à humanidade pelo qual devamos ser salvos” (At 4,11-12). Neste texto dos Atos dos Apóstolos, a primeira leitura, atinge e faz refletir sobre esta singular “homonímia” entre Pedro e Jesus: Pedro, que recebeu o seu nome do próprio Jesus, aqui afirma que é Ele, Jesus, “a pedra”. De fato, a única verdadeira rocha é Jesus. O único nome que salva é o seu. O apóstolo, e também o sacerdote, recebem o “nome”, ou seja, a própria identidade, de Cristo. Tudo o que faz, o faz em seu nome. O seu “eu” se torna totalmente relativo ao “eu” de Jesus. Em nome de Cristo, e não certamente em seu próprio nome, o apóstolo pode curar os irmãos, pode ajudar os “enfermos” a se levantar e a retomar o caminho (cfr At 4,10). No caso de Pedro, o milagre pouco antes realizado torna isto particularmente evidente. E também a referência ao que diz o salmo é essencial: “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular” (Sal 117[118],22). Jesus foi “descartado”, mas o Pai o colocou como fundamento da Nova Aliança. Assim o apóstolo, como o sacerdote, experimenta por sua vez a cruz, e somente por meio dela se torna realmente útil para a construção da Igreja. Deus ama construir a sua Igreja com pessoas que, seguindo Jesus, colocam toda a sua confiança em Deus, como diz o salmo: “É melhor refugiar-se no Senhor que confiar no ser humano. É melhor refugiar-se no Senhor que confiar nos poderosos” (vv. 8-9).

O discípulo tem esse mesmo destino do Mestre, que no último caso é o destino escrito na vontade de Deus Pai! Jesus o confessou no final de sua vida, na grande oração “sacerdotal”: “Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu te conheço” (Jo 17,25). Também antes tinha afirmado: “Ninguém conhece o Pai, a não ser o Filho” (Mt 11,27). Jesus experimentou sobre si a rejeição de Deus feita pelo mundo, a incompreensão, a indiferença, o rosto de Deus desfigurado. E Jesus passou “o testemunho” aos discípulos: “E eu tornei o teu nome conhecido para eles. E continuarei a torná-lo conhecido, para que o amor com que me amaste esteja neles, e eu mesmo esteja neles” (Gv 17,26). Por isso o discípulo, e especialmente o apóstolo, experimenta a mesma alegria de Jesus, de conhecer o nome e o rosto do pai; e partilha também a sua dor de ver que Deus não é conhecido, que o seu amor não é recíproco. Por outro lado exclamamos, como João na Primeira Carta : “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!; e por outro lado com amargura constatamos: “Se o mundo não nos conhece, é porque não conheceu o Pai.” (1 Jo 3,1). É verdade, e nós sacerdotes fazemos experiência: o “mundo”, segundo o evangelista João, não entende o cristão, não entende os ministros do Evangelho. Um pouco porque de fato não conhece Deus, e um pouco porque não quer conhecê-lo. O mundo não quer conhecer Deus e ouvir os seus ministros, porque isto o colocaria em crise.

Aqui é preciso fazer atenção a uma realidade de fato: que este “mundo” sempre no sentido evangélico, insídia também a Igreja, contagiando os seus membros e os seus ministros. O “mundo” é uma mentalidade, uma maneira de pensar e de viver que pode poluir também a Igreja, e de fato a polui, e requer constante vigilância e purificação. Enquanto Deus não se manifestar plenamente, também os seus filhos não serão ainda plenamente “iguais a Ele” (1 Jo 3,2). Estamos “no” mundo, e corremos o risco de sermos também “do” mundo. E muitas vezes o somos. Por isto Jesus não rezou pelo mundo, mas para os seus discípulos, para que o Pai os defendesse do maligno e eles fossem livres e diferentes do mundo, mesmo vivendo no mundo (cfr Jo 17,9.15). Naquele momento, ao final da Última Ceia, Jesus elevou ao Pai a oração de consagração para os apóstolos e para todos os sacerdotes de todos os tempos, quanto disse: “Consagra-os pela verdade: a tua palavra é a verdade” (Jo 17,17). E acrescentou: “Em favor deles eu me consagro, a fim de que também eles sejam consagrados com a verdade” (Jo 17,19). Sublinhei estas palavras de Jesus na homilia da Missa do Crisma, na Quinta-feira Santa. Hoje faço também esta reflexão referindo-me ao Evangelho do Bom Pastor, onde Jesus declara: “Eu dou a minha vida pelas minhas ovelhas” (cf. Jo 10,15.17.18).

Tornar-se sacerdote, na Igreja, significa entrar nesta auto-doação de Cristo, por meio do Sacramento da Ordem, e entrar de corpo e alma. Jesus deu a vida por todos, mas particularmente se consagrou por aqueles que o Pai os tinha dado, para que fossem consagrados na verdade, ou seja, Nele, e pudessem falar e agir em seu nome, representando-o, prolongando os seus gestos salvíficos: partir o pão da vida e perdoar os pecados. Assim o Bom Pastor ofereceu sua vida por todas as suas ovelhas, mas a doou e a doa de maneira especial aos que Ele mesmo, “com afeto predileto”, chamou e chama a segui-lo na vida do serviço pastoral. De maneira singular, Jesus rezou por Simão Pedro, e se sacrificou por ele, porque deveria dizer-lhe um dia, nas margens do Lago de Tiberíades: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21,16-17). Analogamente, todo sacerdote é destinatário de uma pessoal oração de Cristo, e de seu próprio sacrifício, e somente enquanto tal é chamado a colaborar com Ele no apascentar o rebanho que é todo e somente do Senhor.

Gostaria de tocar um ponto que está particularmente em meu coração: a oração e a sua ligação com o serviço. Vimos que ser sacerdote significa entrar de maneira sacramental e existencial na oração de Cristo para os “seus”. Daqui surge para nós presbitérios uma particular vocação à oração, no sentido fortemente cristocêntrico: somos chamados, ou seja, a “permanecer” em Cristo, como repete o evangelista João (cfr Jo 1,35-39; 15,4-10) -, e isto se realiza particularmente na oração. O nosso ministério é totalmente ligado a este “permanecer” que equivale a rezar, e a nascer dele a sua eficiência. Em tal perspectiva devemos pensar nas diferentes formas de oração de um sacerdote, sobretudo a Missa cotidiana. A celebração eucarística é o grande e o maior ato de oração, e constitui o centro e a fonte de que também as outras formas recebem a “linfa”: a liturgia das horas, a adoração eucarística, a lectio divina, o santo Rosário, a meditação. Todas estas expressões de oração, que possuem o seu centro na Eucaristia, fazem com que na vida cotidiana do sacerdote, e em toda a sua vida, se realize a Palavra de Jesus: “Eu sou o bom pastor, conheço minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou a minha vida pelas ovelhas” (Jo 10,14-15). De fato, este “conhecer” e “ser conhecidos” em Cristo e, por meio Dele, na Santíssima Trindade, não é outra coisa que a realidade verdadeira e mais profunda da oração. O sacerdote que reza muito, e que reza bem, é progressivamente expropriado de si e se torna sempre mais unido ao Bom Pastor e Servo dos irmãos. Conforme a Jesus, também o padre “dá a vida” pelas ovelhas a ele confiadas. Ele oferece si mesmo, em união com Cristo Senhor, que tem o poder de dar a sua vida e o poder de retomá-la não somente para si, mas também para os seus amigos, ligados a Ele pelo Sacramento da Ordem. Assim a mesma vida de Cristo, Cordeiro e Pastor, é comunicada a todo o rebanho, por meio dos ministros consagrados.

Queridos diáconos, que o Espírito Santo fixe esta Palavra divina, que comentei brevemente, em seus corações, a fim de que dê frutos abundantes e duradouros. O pedimos pela intercessão dos santos apóstolos Pedro e Paulo e de São João Maria Vianney, o Cura d’Ars, a quem escolhi como modelo para o próximo Ano Sacerdotal. Que vos ajude a Mãe do Bom Pastor, Maria Santíssima. Em todas as circunstâncias de suas vidas, olhem para Ela, estrela de seu sacerdócio. Como aos servos nas Bodas de Caná, também Maria repete: “Façam o que ele mandar” (Jo 2,5). Na escola da Virgem, sejam sempre homens de oração e de serviço, para se tornarem, no fiel exercício de seu ministério, sacerdotes santos segundo o coração de Deus.







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