São Nuno de Santa Maria canonizado por Bento XVI na Praça de São Pedro com outros
quatro Beatos.
(26/4/2009) Nuno de Santa Maria tornou-se este Domingo, 26 de Abril, o primeiro português
a ser canonizado desde que Paulo VI, a 3 de Outubro de 1976, declarou Santa a religiosa
Beatriz da Silva. Foi no decorrer da celebração eucarística que Bento XVI presidiu
esta manhã, na Praça de São Pedro, na presença de milhares de pessoas, e entre elas
duas mil portuguesas. Cinco os novos Santos: para além do Condestável, os italianos
Arcangelo Tadini, Bernardo Tolomei, Gertrude Comensoli e Caterina Volpicelli. Na
homilia, em que comentou as Leituras do dia, Bento XVI, para além de evocar os traços
fundamentais da santidade de vida de cada um dos canonizados, sublinhou a centralidade
do mistério pascal – e da Eucaristia – para todos eles.
“As diferentes
vicissitudes humanas e espirituais destes novos Santos mostram-nos a profunda renovação
que realiza no coração do homem o mistério da ressurreição de Cristo; mistério fundamental
que orienta e guia toda a história da salvação. Justamente, portanto, sempre e mais
ainda neste tempo pascal, a Igreja nos convida a dirigir os nossos olhares para Cristo
ressuscitado, realmente presente no Sacramento da Eucaristia”.
Nas referências
que foi fazendo aos diversos santos agora canonizados, Bento XVI começou por Arcangelo
Tadini, um modesto pároco que viveu no norte de Itália no século XIX e princípios
do século XX. “Passava longas horas em oração diante da Eucaristia, e, tendo sempre
em vista no seu ministério pastoral a pessoa humana na sua totalidade, ajudava os
seus paroquianos a crescer humana e espiritualmente” – sublinhou o Papa.
“Este
santo sacerdote, este santo pároco homem todo de Deus, pronto em todas as circunstâncias
a deixar-se guiar pelo Espírito Santo, era ao mesmo tempo disponível para advertir
as urgências do momento e dar-lhes remédio”.
Por sua vez, Bernardo Tolomei,
que viveu no século XIV, na Itália central, foi o “iniciador de um singular movimento
monástico beneditino”. Nele – observou o Papa, “sobressai o amor pela oração e pelo
trabalho manual”.
“A sua vida foi uma existência eucarística, toda consagrada
à contemplação, que se traduzia em humilde serviço ao próximo”.
Seguiu-se,
na homilia, a referência do Papa, em português, ao Beato Nuno, partindo das palavras
do Salmo Responsorial – “Sabei que o Senhor fez em mim maravilhas. Ele me ouve, quando
eu o chamo”:
“Estas palavras
do Salmo Responsorial exprimem o segredo da vida do bem-aventurado Nuno de Santa Maria,
herói e santo de Portugal. Os setenta anos da sua vida situam-se na segunda metade
do século XIV e primeira do século XV, que viram aquela nação consolidar a sua independência
de Castela e estender-se depois pelos Oceanos – não sem um desígnio particular de
Deus –, abrindo novas rotas que haviam de propiciar a chegada do Evangelho de Cristo
até aos confins da terra. São Nuno sente-se instrumento deste desígnio superior e
alistado na militia Christi, ou seja, no serviço de testemunho que cada cristão é
chamado a dar no mundo. Características dele são uma intensa vida de oração e
absoluta confiança no auxílio divino. Embora fosse um óptimo militar e um grande chefe,
nunca deixou os dotes pessoais sobreporem-se à acção suprema que vem de Deus. São
Nuno esforçava-se por não pôr obstáculos à acção de Deus na sua vida, imitando Nossa
Senhora, de Quem era devotíssimo e a Quem atribuía publicamente as suas vitórias.
No ocaso da sua vida, retirou-se para o convento do Carmo por ele mandado construir.
Sinto-me feliz por apontar à Igreja inteira esta figura exemplar nomeadamente
pela presença duma vida de fé e oração em contextos aparentemente pouco favoráveis
à mesma, sendo a prova de que em qualquer situação, mesmo de carácter militar e bélica,
é possível actuar e realizar os valores e princípios da vida cristã, sobretudo se
esta é colocada ao serviço do bem comum e da glória de Deus.”
A concluir a
homilia, a referência a duas novas Santas, ambas italianas. Antes de mais Gertrudes
Comensóli (de Bréscia, norte de Itália, no século XIX), que “desde pequenina sentiu
uma particular atracção por Jesus presente na Eucaristia”. “A adoração de Cristo eucarístico
tornou-se o objectivo principal da sua vida, poderíamos quase dizer a condição habitual
da sua existência”.
“Foi de facto diante da Eucaristia que santa Gertrudes
compreendeu a sua vocação e missão na Igreja: dedicar-se sem reservas à acção apostólica
e missionária, especialmente a favor da juventude”.
Finalmente, evocada Caterina
Volpicelli, que viveu em Nápoles, em finais do século XIX, “tempo de crise espiritual
e social”:
“Também para ela o segredo foi a Eucaristia. Às suas primeiras
colaboradoras recomendava que cultivassem ma oração uma intensa vida espiritual e
sobretudo o contacto vital com Jesus eucarístico”.
O Papa concluiu dando graças
a Deus pelo dom da santidade que refulge nos cinco novos canonizados:
Deixemo-nos
atrair pelo seu exemplo, deixemo-nos guiar pelos seus ensinamentos, para que também
a nossa existência se torne um cântico de louvor a Deus, seguindo os passos de Jesus,
adorado com fé no mistério eucarístico e servido com generosidade no nosso próximo”.