ARGENTINA QUER CLAREZA SOBRE MORTE SUSPEITA DE BISPO DURANTE A DITADURA
La Rioja, 23 abr (RV) - Os restos mortais do bispo Enrique A. Angelelli Carletti,
o "Mártir dos pobres", morto em 1976, foram exumados ontem, a pedido da Justiça argentina
e submetidos a autópsia, a fim de estabelecer se ele foi assassinado pela ditadura
(1976/83) ou se sua morte foi causada por um acidente de trânsito, como alegaram as
autoridades militares da época.
O procedimento teve lugar na cripta da Catedral
de La Rioja, capital da província homônima, no noroeste do país, por ordem do juiz
federal Daniel Herrera Piedrabuena. O exame autóptico deve determinar o tipo de lesões
sofridas e as verdadeiras causas da morte do prelado. Os resultados estarão disponíveis
dentro de duas semanas.
Dom Angelelli, expoente e símbolo da luta social na
década de 70, comprometido com a opção pelos pobres, morreu aos 53 anos, num acidente
automobilístico ocorrido em agosto de 1976, depois de perder o controle do veículo
que conduzia, em La Rioja, segundo a versão das autoridades militares.
Em 1983,
com o retorno da democracia, o processo foi reaberto e, em 1986, ficou estabelecido
que o bispo fora assassinado fria e premeditadamente. Foi instaurado um inquérito
para identificar os autores do crime. Ficou provado que o carro em que viajava Dom
Angelelli colidiu contra outro, fazendo-o capotar. Após o acidente, o bispo foi retirado
do carro e foi agredido com um golpe na nuca; seu corpo foi arrastado até o meio da
estrada e disposto em forma de cruz.
Naquele dia, o bispo havia participado
de uma homenagem aos sacerdotes Gabriel Longueville, de origem francesa, e Carlos
Murias, sequestrados, torturados e assassinados duas semanas antes, numa cidade vizinha.
Consigo, Dom Angelelli levava um informe com o inquérito sobre o crime.
Na
segunda-feira passada, o ex-capitão do exército Alfredo Marcó, que atuou na repressão,
no período da ditadura e foi acusado de violações dos direitos humanos em La Rioja,
se suicidou. Segundo testemunhas, Marcó conhecia os presumíveis autores da morte de
Dom Angelelli.
Além do bispo de La Rioja, 19 sacerdotes desapareceram ou
foram assassinados, 11 foram sequestrados, torturados e a seguir libertados, e 22
foram detidos por causa de perseguição política na Argentina.
Entre as vítimas
da ditadura, (18 mil segundo cifras oficiais, 30 mil de acordo com organismos humanitários),
constam também 11 seminaristas e 4 religiosos, inclusive as francesas Ir. Leonie Duquet
e Ir. Alice Domon. (CM)