XARIÁ É CONTRA OS PRINCÍPIOS PAQUISTANESES, AFIRMA ARCEBISPO
Lahore, 21 abr (RV) – A aplicação da xariá (a lei islâmica) no vale do Swat
é uma "total falta de consideração" para com as minorias e seus direitos, reconhecidos
pelos fundadores da pátria, na Assembléia Constituinte de 1947. A afirmação é do arcebispo
de Lahore, Dom Lawrence John Saldanha, presidente da Conferência Episcopal Paquistanesa.
Ele expressou preocupação especial pela questão da Justiça.
O prelado enviou
uma carta aberta ao presidente Asif Ali Zardari, ao primeiro-ministro, Raza Gilani,
e ao ministro da Justiça, na qual salienta com "pesar", a falta de avaliação das "preocupações
manifestadas pela sociedade civil, sobre a introdução da xariá no vale do Swat".
Segundo
Dom Saldanha, a questão "coloca em risco o crescimento socioeconômico e cultural"
da região. Além disso – afirma o arcebispo − a ação legitima as reivindicações dos
talebãs, de destruir "as normas consagradas pela Constituição para proteger as mulheres
e as minorias".
A carta também foi assinada por Peter Jacob, secretário-executivo
da Comissão Nacional "Justiça e Paz". Os líderes católicos explicaram que o clima
de "impunidade" que gira em torno da "máquina de morte e terror" dos talebãs perpetua
crimes e violências "em detrimento da pequena comunidade hinduísta, sikh e cristã".
As minorias da província estão "sem trabalho" e são constrangidas a migrar,
por imposição da "Jizya" (a taxa estabelecida pelos muçulmanos, para os fiéis cristãos
e judeus). Os extremistas islâmicos mutilaram as "estátuas de Buda" e destruíram a
paróquia de Santa Maria, o convento e a capela em Sagota, no vale do Swat.
Também
a escola "Don Bosco", em Bannu, está na mira dos fundamentalistas. Dom Saldanha disse
que muitas das escolas católicas têm sofrido ameaças.
O prelado se preocupa
de modo especial com a criação de um "sistema Judiciário paralelo", baseado na lei
islâmica. "Essa decisão – esclarece o arcebispo – deve ser submetida à votação dos
juízes e do povo.
Em sua carta, Dom Saldanha faz aberta referência ao discurso
inaugural, de 1947, do padre fundador da pátria à Assembléia Constituinte: Quaid-e-Azam
Mohammad Ali Jinnah recordou, naquela ocasião, que a religião é um fato pessoal e
não tem nada a ver com questões de Estado.
Numa segunda carta, endereçada ao
movimento "Muttahida Quami", Dom Saldanha e Peter Jacob manifestaram seu "reconhecimento"
pelo único partido da Câmara que "foi contra a introdução da xariá no vale do Swat".
Segundo eles, essa contribuição buscou evitar que a nação fosse lançada na escuridão
e, por isso. "será sempre recordada". (TM)