Cidade do Vaticano, 21 abr (RV) - O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé,
Pe. Federico Lombardi, comentou as polêmicas em Genebra, após as declarações do presidente
iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, na conferência da ONU sobre racismo.
Pe. Lombardi
confirmou que, apesar de intervenções como a do presidente iraniano, a Santa Sé permanecerá
na conferência das Nações Unidas, para "continuar afirmando com clareza, a necessidade
do respeito à dignidade da pessoa humana contra todo tipo de racismo e intolerância".
Em declaração à Rádio Vaticano, Pe. Lombardi afirmou que a conferência, em
si, é uma ocasião importante para levar avante a luta contra o racismo e a intolerância:
"A Santa Sé participa do evento com essa intenção, e pretende apoiar o esforço das
instituições internacionais para progredir nessa direção."
"A grande maioria
dos países do mundo está participando – acrescentou – e o esboço concordado na sexta-feira
passada é aceitável, pois foram retirados os elementos principais que suscitavam objeções."
"Naturalmente
– frisou Pe. Lombardi – intervenções como a do presidente iraniano são contra-corrente,
porque, embora ele não tenha negado o holocausto e o direito à existência de Israel,
utilizou expressões extremistas e inaceitáveis."
Hoje, a Sala de Imprensa
da Santa Sé voltou a se pronunciar sobre o assunto, para recordar as palavras de Bento
XVI no Regina Coeli de domingo passado, quando o papa fez votos de que os delegados
em Genebra pudessem trabalhar juntos, em espírito de diálogo e de acolhimento recíproco.
"Como
conseqüência, a Santa Sé deplora a utilização deste fórum da ONU para assumir posições
políticas extremistas e ofensivas, contra qualquer Estado. Isso não contribui para
o diálogo e provoca um estado de conflito inaceitável" – lê-se na nota publicada hoje.
A
Sala de Imprensa afirma ainda, que a conferência de Genebra é uma ocasião para dialogar
juntos, segundo a linha de ação que a Santa Sé sempre adotou, "em vista de uma luta
eficaz contra o racismo e a intolerância que ainda hoje atingem crianças, mulheres,
afrodescendentes, migrantes, povos indígenas, e tantos outros grupos, em todas as
partes do mundo".
Por fim, ao renovar o apelo do papa, a Santa Sé e garante
que é com este espírito que a sua delegação está presente e trabalha na conferência.
Por
sua vez, em entrevista à nossa emissora, o representante da Santa Sé no encontro,
Arcebispo Silvano Maria Tomasi, reiterou que o que mais importa é o conteúdo da conferência,
ou seja, as novas formas de racismo que se manifestam em discriminações contra grupos
de imigrantes e contra grupos economicamente marginalizados.
"Portanto – sublinho
o prelado − vê-se a necessidade de renovar, como as Nações Unidas propõem, um esforço
comum da comunidade internacional, para combater o racismo em todas as suas manifestações."
Falando
em especial do documento, Dom Tomasi disse que o texto reafirma a necessidade de combater
toda forma de antissemitismo, de "islamofobia" e de "cristianofobia", com uma menção
explícita ao holocausto. "Portanto – sublinhou − não se entende bem a ausência de
alguns países, o que cria dificuldades."
No discurso feito ontem, em Genebra,
Ahmadinejad acusou Israel de racismo e apontou a cumplicidade dos Estados Unidos e
de governos ocidentais na política israelense contra os palestinos.
A fala
de Ahmadinejad fez com que cerca de 40 diplomatas de países como Reino Unido e França
deixassem o local durante seu discurso. Os diplomatas também ameaçaram abandonar a
conferência, se houvesse novos apelos à retórica antissemita ou outras críticas igualmente
discriminatórias contra Israel.
Ahmadinejad disse que, após o fim da II Guerra
Mundial (1939-1945), os aliados "recorreram à agressão militar para tirar as terras
de uma nação inteira com o pretexto do sofrimento judeu". "Enviaram imigrantes da
Europa e dos Estados Unidos, para estabelecer um governo racista na Palestina ocupada"
– disse o presidente iraniano. (BF)