2009-04-11 12:20:45

Ásia em destaque na Via Sacra do Coliseu. Jesus crucificado: o Amor que vence o ódio e a violência


A Ásia voltou a estar em destaque na Via-Sacra a que o Papa presidiu esta Sexta-feira Santa, no Coliseu de Roma, com as meditações do arcebispo indiano de Guwahati, D. Thomas Menamparampil. Em 2008, os textos tinham sido escritos pelo Bispo de Hong Kong, Cardeal Zen Ze-kiun. Milhares de pessoas acompanharam a celebração no local e outros milhões o fizeram através da rádio e da televisão, em todo o mundo.

Intervindo no final do rito, o Papa observou que “revivemos a trágica vicissitude de um Homem único na história de todos os tempos, que mudou o mundo, não matando os outros, mas deixando-se matar pregado numa cruz”. “É por nosso amor que Cristo morre na cruz. No decurso dos milénios, falanges de homens e mulheres deixaram-se fascinar por este mistério e seguiram a Jesus, fazendo da própria vida por sua vez, como Ele e graças ao seu auxílio, um dom para os irmãos. São os santos e os mártires, muitos dos quais nos são desconhecidos. Mesmo neste nosso tempo, quantas pessoas, no silêncio da sua vida diária, unem os seus sofrimentos aos do Crucificado, tornando-se apóstolos de uma autêntica renovação espiritual e social!”
“A dolorosa paixão do Senhor Jesus – reflectiu o Papa - não pode deixar de mover à piedade mesmo os corações mais duros, porque constitui o cume da revelação do amor de Deus por cada um de nós. Como observa São João: «Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que n’Ele acredita não pereça mas tenha a vida eterna».
“Nesta noite, detenhamo-nos a contemplar o seu rosto desfigurado: é o rosto do Homem das dores, que assumiu todas as nossas angústias mortais. O seu rosto reflecte-se no de cada pessoa humilhada e ofendida, doente e atribulada, só, abandonada e desprezada. Derramando o seu sangue, resgatou-nos da escravidão da morte, quebrou a solidão das nossas lágrimas, entrou em cada uma das nossas penas e aflições”.

Os textos proclamados ao longo das 14 estações falavam do mistério do sofrimento cristão, da violência que atinge grupos étnicos e religiosos, da pobreza, da discriminação das mulheres e dos conflitos entre interesses económicos e políticos. Males, segundo o arcebispo Menamparampil, que brotam da avareza e do orgulho.

A escolha do arcebispo indiano aparece como um sinal de solidariedade aos cristãos na Índia, que, sobretudo no ano passado, foram alvo de violência da parte de facções fundamentalistas hindus. As meditações continham muitas alusões à realidade actual, onde muitas vezes o sentido do sagrado e o impulso em direcção a Deus são sufocados pelo efémero e por escolhas oportunistas.
Diante do ódio e das guerras, escreve o prelado indiano - "quando a justiça é administrada de modo distorcido nos tribunais, quando a corrupção é radicada, as estruturas injustas oprimem os pobres, as minorias são suprimidas e os refugiados e os migrantes, maltratados, …quando as mulheres são obrigadas a humilharem-se e as crianças dos bairros pobres buscam comida no lixo” - não devemos perguntar-nos de quem é a culpa, mas “que responsabilidade temos nessas formas de desumanidade”.

O cristão, afirma D. Thomas, deve ter uma conduta justa, íntegra e honesta, deve ter a coragem de assumir decisões responsáveis quando presta um serviço público, deve combater pela justiça, desafiando o inimigo com a certeza da própria causa, suscitando a boa vontade do opositor, para que desista da injustiça com a conversão do coração. O bispo indiano cita como exemplo desta atitude Mahatma Gandhi. Diante das ofensas históricas que ferem as memórias das sociedades, o perdão “deve fazer-nos transformar a ira colectiva em novas energias de amor”, assinala.
“As tragédias fazem-nos reflectir. Um tsunami diz que a vida deve ser levada seriamente. Hiroshima e Nagasaki continuam a ser lugares de peregrinação. Quando a morte nos atinge, um outro mundo se apresenta ao nosso lado. Então libertamo-nos das ilusões e temos a percepção de uma realidade mais profunda”, pode ler-se.

“Não é a eloquência que convence e converte”, recorda o arcebispo na reflexão da 11ª estação: “É um olhar de amor no caso de Pedro; a serenidade sem ressentimento no sofrimento, no caso do bom ladrão. A conversão verifica-se como um milagre. Deus abre os nossos olhos”. Nas palavras de D. Menamparampil não faltaram referências à Índia: “O modo de Jesus de combater pela justiça não é o de suscitar a ira colectiva das pessoas contra o opositor, com a consequência de formas ainda maiores de injustiça”.
Na 8ª estação, dedicada ao Cirineu que ajuda Jesus a levar a Cruz, as meditações falaram no “protótipo do discípulo fiel que toma sobre si mesmo a cruz e segue Cristo. Não é diferente de milhões de cristãos de humildes origens, com um profundo apego a Jesus. Privados de fascínio, de elegância, mas com uma fé profunda. Homens e mulheres com tal fé continuam a crescer em terras da África e da Ásia e nas ilhas distantes”.

As imagens do livro com que os fiéis acompanharam a celebração são um produto típico da arte indiana, da autoria da Irmã Marie Claire Naidu. A cruz passou pelas mãos de dois jovens de Roma, uma família, uma jovem e duas religiosas da Índia, uma pessoa com deficiência, duas jovens africanas, um doente em cadeira de rodas e dois franciscanos da Terra Santa.








All the contents on this site are copyrighted ©.