2009-04-10 18:20:42

PALAVRAS DE JESUS NA CRUZ


Cidade do Vaticano, 10 abr (RV) - Hoje, quando revivemos a paixão e morte de Jesus, eis uma reflexão sobre duas frases pronunciadas por Ele no alto da Cruz:

"Depois, sabendo que tudo estava consumado e para que se cumprisse a Escritura, Jesus disse: “Tenho sede”. Estava ali um vaso cheio de vinagre. Embeberam uma esponja no vinagre, fixando-a a um ramo de hissopo, levaram-lha à boca. Quando Jesus tomou o vinagre, exclamou: “Tudo esta consumado”. E inclinando a cabeça rendeu o espírito." (Jo, 18, 28-30)

Relendo estas palavras de Jesus "Tenho sede", vem logo à cabeça a imagem de Madre Teresa de Calcutá. Ela, de fato, conta que foram precisamente estas palavras que lhe revelaram o verdadeiro "rosto" de Jesus Cristo na sua divindade e também no sofrimento, no corpo e na alma de qualquer homem, mulher e criança que sofre. Ela diz que estas palavras permitiram-lhe não só sentir, mas também e sobretudo experimentar, na sua vida, de uma maneira única e definitiva, esta "sede de Jesus" e percebeu que era fundamentalmente um apelo e, por conseguinte, uma oração. Estas palavras não são só expressão de uma dor física, mas principalmente uma oração que é, ao mesmo tempo, o grito de um apelo que vem do alto da Cruz redentora a toda a humanidade e, de modo particular, aos homens e mulheres de boa vontade.

Neste sentido, Madre Teresa de Calcutá revela-nos o sentido místico, religioso e espiritual destas palavras pronunciadas por Jesus no alto da Cruz e que, com toda a certeza, tem esse peso e significado. Quando Jesus diz "tenho sede" não é só um problema de ter sede naquele preciso momento, tal como acontece com qualquer um que está à beira da morte. Por alguma razão, Lhe dão vinagre para atenuar um pouco as dores; mas o sofrimento de Jesus na Cruz não é principalmente o sofrimento físico, é o sofrimento de Deus que nos vê perdidos, aflitos, e que nos quer ver finalmente libertos, aliviados de todo esse peso do sofrimento humano. É, por conseguinte, o sofrimento de quem cai na conta de que, não obstante a sua oblação na cruz por amor e para a nossa redenção, nós continuamos a não Lhe corresponder, a não percebermos o alcance do seu amor revelado desde a criação de tantas maneiras, na natureza, na vida; enfim, em tantos dons que Ele nos faz, e continua vendo esta humanidade extraviada, que não corresponde a esse mesmo amor que levaria a amar a Deus sobre todas as coisas, com todo o coração, com toda a alma e com todo o entendimento, mas também, da mesma medida, amar o próximo como a si próprio.

Por conseguinte, esta sede de Jesus na Cruz é, antes de mais, a sede de Deus e, ao mesmo tempo, o grande desejo do Jesus Cristo Libertador que nos convida a olhar para o nosso próximo, os nossos irmãos que, no silêncio da cruz, continuam morrendo diariamente de várias formas de "sede" humana por causa do egoísmo e das estruturas do pecado do homem.

"Desde a hora sexta, até à hora nona, as trevas envolveram toda a terra. E, cerca da hora nona, Jesus clamou em voz alta: “Eli, Eli, lema sabactani”? Isto é: “Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonastes?" (Mt 27, 45-46).

Nestas palavras, se revela toda a dramaticidade daquilo que Jesus viveu e experimentou na cruz: uma luta dramática entre a vida e a morte, entre a luz e as trevas, entre a esperança e o desespero, entre a reconciliação e o muro do ódio. Jesus vive esta luta até as ultimas consequências no seu corpo. Esta oração do salmo que Jesus faz própria, é um lamento afetuoso, não uma contestação de Deus, mas sim um lamento que se verifica no interior de uma relação de profunda confidência que põe em discussão a própria capacidade de compreender aquilo que estava acontecendo, o evento que estava vivendo. É uma nova maneira, mesmo se dramática e misteriosa, de tornar presente a proximidade que Jesus, enquanto Filho, tem com o Pai.

"Tenho sede….Eli…" são, portanto, duas expressões, duas orações, dois apelos, que nos recordam que a nossa é uma humanidade constituída por uma grande maioria de crucificados: povos inteiros crucificados que constituem os Lázaros da nossa era da globalização e que clamam por "sede" de amor, de justiça, de misericórdia, de reconciliação e de paz. Possa essa Páscoa da Ressurreição do Senhor ser uma ocasião para fazermos nossa a oração do S. Inácio de Loyola: "Senhor, que temos feito para que a nossa gente acabe por ser crucificada? Que devemos nos fazer para os fazer descer da cruz"? (BF)







All the contents on this site are copyrighted ©.