Líderes religiosos da Guiné Bissau escrevem à população e pedem o fim da violência
e a viragem rumo ao desenvolvimento almejado
(6/4/2009) Os líderes religiosos das comunidades Católica, Evangélica e Muçulmana
da Guiné-Bissau, escreveram conjuntamente uma carta ao povo guineense onde expressam
que o actual momento vivido neste país africano requer “um exame de consciência profundo”
e uma “necessidade urgente de mudança de comportamentos na nossa vida social e comunitária”.
“Os últimos acontecimentos dramáticos provam que a sociedade guineense ainda não
está reconciliada consigo mesma”, afirmam os líderes numa missiva assinada por dois
responsáveis de cada religião. “O gravíssimo momento social que estamos a atravessar
não é de muitas palavras, ou de oportunísticas e enganadoras promessas”, reconhecem.
A carta lança fortes apelos para o fim da violência, da “vingança individual” e da
“corrupção no uso dos bens públicos ou na participação em negócios escondidos, imorais
e ilegais”. Alertam os líderes para a necessidade de passar para um modo de vida
sem “o recurso à violência física mas sim à justiça legalmente exercida e ao respeito
pelas exigências comuns da ética” O facto de os líderes terem publicado conjuntamente
uma mensagem é sintoma simultaneamente de que “há um bom dialogo entre as religiões
na Guiné-Bissau e que o momento actual do país é mesmo grave”, explica D. Pedro Zili,
Bispo de Bafatá e um dos subscritores por parte da Igreja católica. Sublinham
os líderes ser “verdadeiramente deplorável” o uso da força armada, geradora “de novos
problemas”. “Se continuarmos pelo caminho desta espiral de violência, o nosso país
corre o risco sério de não poder participar de cabeça erguida no concerto das nações”
e de nunca alcançar o desejado “desenvolvimento porque anseiam as nossas populações”.
Os líderes apontam o caminho da não violência para resolver os problemas político-sociais
e militares, com “diálogo confiante e persistente, no respeito pelas instituições
e pela legalidade”, como o único que “poderá levar a uma sociedade realmente desenvolvida
e democrática na Guiné-Bissau”. A missiva pede que os guineenses façam uma viragem
decisiva na sua maneira de viver em sociedade. “Não mais poderemos continuar a querer
persistir numa mentalidade mágica e de violência desumanizante, que leva aos resultados
desastrosos que já conhecemos; temos de apontar para horizontes mais positivos e humanizantes”.
“Temos que desejar uma convivência humana que seja diferente da convivência dos
animais, onde não seja a «lei do mais forte» a imperar, mas sim as leis respeitadoras
da dignidade e corresponsabilidade de cada ser humano”. Pedem ainda os líderes
que da vingança individual, se passe ao recurso à justiça. “A vingança individual
abre uma espiral de vingança quase interminável e constitui um insulto às instituições
vocacionadas para a resolução humana e legalizada dos conflitos sociais”. Assim, o
comportamento “irresponsável” deve ser substituído pela “sujeição às exigências da
ética”. “Cada ser humano tem de se sujeitar às regras e exigências da moral social,
apoiada não em conveniências de pessoas ou de pequenos grupos privilegiados, mas sim
nos valores fundamentais resultantes da dignidade de cada pessoa humana”. “A seriedade
no respeito pela ética (moral) é condição necessária para garantir a coesão social
e o respeito recíproco dos cidadãos”. “É justo que queiramos ser cidadãos de direitos,
mas não nos esqueçamos, de modo algum, que também temos de ser cidadãos de deveres”.
Os líderes religiosos pedem que durante esta semana, que termina a 12 de Abril,
se viva “uma semana de oração, e que também durante ela, cada comunidade escolha um
Dia particular de oração e de Penitência em favor da Paz e da verdadeira reconciliação
entre todos os guineenses”. Pedem ainda os líderes religiosos que, em cada comunidade
“os crentes descubram alguns gestos concretos que sejam o sinal visível de arrependimento,
de pedido de perdão e de reconciliação”. Especialmente aos crentes, os líderes
pedem um empenho conjunto no trabalho “árduo”, a favor da reconciliação nacional,
“em que estejam envolvidas todas as camadas sociais”. ( texto integral em "cultura
e sociedade")