2009-04-05 17:54:34

BENTO XVI: AS RENÚNCIAS POR AMOR A DEUS TORNAM A VIDA AUTÊNTICA


Cidade do Vaticano, 05 abr (RV) - O Santo Padre presidiu esta manhã, numa Praça São Pedro lotada de fiéis e peregrinos, principalmente de jovens, a solene celebração litúrgica do Domingo de Ramos.

A celebração teve início com o tradicional rito da bênção dos ramos, seguido da procissão, após a qual teve lugar a santa missa da Paixão do Senhor. Com a celebração do Domingo de Ramos tem início a Semana Santa, ponto alto do ano litúrgico.

Neste Domingo de Ramos celebrou-se também o XXIV Dia Mundial da Juventude, este ano celebrado nas dioceses. Com isso, a celebração desta manhã teve grande participação dos jovens da Diocese de Roma, além dos quatro mil jovens espanhóis e seicentos australianos.

A missa foi concelebrada também pelo arcebispo de Sydney, Cardeal George Pell, e pelo arcebispo de Madri, Cardeal Antonio María Rouco Varela. De fato, ao término da missa, antes do Angelus, foi feita a entrega da cruz do Dia Mundial da Juventude, abençoada pelo Santo Padre. A delegação de jovens da Austrália passou a cruz para a delegação de jovens da Espanha, onde em 2011, em Madri, terá lugar o Dia Mundial da Juventude.

Na homilia da celebração, o Santo Padre iniciou a sua reflexão partindo da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém – proposta na liturgia deste Domingo de Ramos – afirmando que não sabemos exatamente o que os peregrinos entusiastas que acolheram Jesus consideravam que fosse o Reino de Davi, que vem. O papa questionou se também nós entendemos o que vem a ser o Reino do qual Jesus falou no interrogatório diante de Pilatos.

"Compreendemos o que significa dizer que este Reino não é deste mundo? Ou desejamos, talvez que, ao invés, seja deste mundo? – perguntou-se Bento XVI.

Em seguida, o papa ressaltou que São João, em seu Evangelho, após a narração da entrada em Jerusalém, traz uma série de palavras de Jesus, nas quais Ele explica o essencial desse novo tipo de Reino. O Santo Padre chamou a atenção para o fato que o verdadeiro objetivo dos peregrinos em Jerusalém era o de adorar Deus, afirmando que isso corresponde perfeitamente àquilo que Jesus diz por ocasião da purificação do Templo: "Minha casa será chamada casa de oração para todos os povos" (Mc 11, 17).

"A verdadeira finalidade da peregrinação deve ser encontrar Deus; adorá-lo, e assim colocar na justa ordem a relação de fundo da nossa vida. Uma grande palavra: 'Queremos ver Jesus'. Caros amigos, para isso estamos aqui reunidos. Queremos ver Jesus. Com essa finalidade, no ano passado, milhares de jovens foram a Sydney. Certamente, terão tido muitas expectativas para essa peregrinação. Mas o objetivo essencial era este: Queremos ver Jesus."

Retomando a expressão Reino de Deus, o papa ressaltou, em sua homilia, que podemos reconhecer duas características essenciais desse Reino. "A primeira é que esse Reino passa através da cruz. Porque Jesus se doa totalmente, pode como Ressuscitado pertencer a todos e tornar-se presente a todos. Na santa Eucaristia recebemos o fruto do grão morto, a multiplicação dos pães que prossegue até o fim do mundo e em todos os tempos" – observou o pontífice.

A segunda característica diz: O seu Reino é universal. Realiza-se a antiga esperança de Israel: essa realeza de Davi não tem mais fronteiras. "O seu domínio irá de mar a mar e do Rio às extremidades da terra", como diz o profeta Zacarias (9, 10), ou seja, abraça o mundo inteiro. Bento XVI observou que isso só é possível porque não se trata da realeza de um poder político, mas se baseia unicamente na livre adesão do amor.

Quem ama a sua vida a perde e quem odeia a sua vida neste mundo guardá-la-á para a vida eterna (Jo, 12, 25). "Somente no abandono de si mesmos, somente na doação desinteressada do eu em favor do outro, somente no 'sim' à vida maior, própria de Deus, também a nossa vida se torna ampla e grande", frisou Bento XVI, acrescentando que esse princípio fundamental, que o Senhor estabelece, em última análise, é simplesmente idêntico ao princípio do amor.

Na realidade concreta – observou – não se trata, porém, de simplesmente reconhecer um princípio, mas de viver a sua verdade, a verdade da cruz e da ressurreição. E por isso, não basta uma única decisão. É certamente importante ousar a grande decisão fundamental, ousar o grande 'sim', que o Senhor nos pede num certo momento da nossa vida.

"Também o sacrifício, a renúncia, pertencem a uma vida reta. Quem promete uma vida sem essa sempre nova doação de si, engana as pessoas. Não existe uma vida realizada sem sacrifício. Se lanço um olhar retrospectivo sobre a minha vida pessoal, me dou conta de que justamente nos momentos em que eu disse 'sim' a uma renúncia, foram esses os grandes e importantes momentos de minha vida."

Chamando a atenção para o fato que como ser humano, também Jesus se sentiu impelido a pedir que lhe fosse poupado o terror da paixão, o pontífice evidenciou que também nós podemos rezar desse modo.

"Também nós podemos lamentar-nos diante do Senhor como Jó, apresentar-lhe as nossas interrogações que, diante da injustiça no mundo e das dificuldades do nosso próprio eu, são suscitadas em nós. Diante d'Ele não devemos refugiar-nos em frases piedosas, num mundo fictício. Rezar significa sempre também lutar com Deus, e com Jacó podemos dizer-Lhe: 'Eu não te deixarei se não me abençoares' (Gn 32, 27).

Uma circunstância – ressaltou Bento XVI – que nos ensina, como cristãos, que a vontade de Deus "é sempre mais importante e mais verdadeira" que a nossa, e que "a sua vontade é a verdade e o amor".

Um pensamento que o pontífice dirigiu em particular aos jovens que, ao término da missa – antes da oração do Angelus e após a alocução do Santo Padre – passaram a cruz do Dia Mundial da Juventude para a delegação de jovens da Espanha:
"Quanto mais por amor à grande verdade e a Deus formos capazes de fazer alguma renúncia, maior e mais rica será a vida. Quem quiser reservar a sua vida para si mesmo a perde. Quem doa a sua vida – diariamente nos pequenos gestos, que fazem parte da grande decisão – esse a encontra. Essa é a verdade exigente, mas também profundamente bela e libertadora, na qual queremos passo a passo entrar durante o caminho da Cruz através dos continentes." (RL)

Ao término da celebração, nosso colega Alberto Goroni entrevistou alguns dos presentes na Praça São Pedro. Eis o que disse um dos concelebrantes da missa, o prefreito da Congregação para o Clero, o cardeal brasileiro Cláudio Hummes, acerca da celebração deste Domingo de Ramos e do Dia Mundial da Juventude: RealAudioMP3







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