BENTO XVI: AS RENÚNCIAS POR AMOR A DEUS TORNAM A VIDA AUTÊNTICA
Cidade do Vaticano, 05 abr (RV) - O Santo Padre presidiu esta manhã, numa Praça
São Pedro lotada de fiéis e peregrinos, principalmente de jovens, a solene celebração
litúrgica do Domingo de Ramos.
A celebração teve início com o tradicional rito
da bênção dos ramos, seguido da procissão, após a qual teve lugar a santa missa da
Paixão do Senhor. Com a celebração do Domingo de Ramos tem início a Semana Santa,
ponto alto do ano litúrgico.
Neste Domingo de Ramos celebrou-se também o XXIV
Dia Mundial da Juventude, este ano celebrado nas dioceses. Com isso, a celebração
desta manhã teve grande participação dos jovens da Diocese de Roma, além dos quatro
mil jovens espanhóis e seicentos australianos.
A missa foi concelebrada também
pelo arcebispo de Sydney, Cardeal George Pell, e pelo arcebispo de Madri, Cardeal
Antonio María Rouco Varela. De fato, ao término da missa, antes do Angelus, foi feita
a entrega da cruz do Dia Mundial da Juventude, abençoada pelo Santo Padre. A delegação
de jovens da Austrália passou a cruz para a delegação de jovens da Espanha, onde em
2011, em Madri, terá lugar o Dia Mundial da Juventude.
Na homilia da celebração,
o Santo Padre iniciou a sua reflexão partindo da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém
– proposta na liturgia deste Domingo de Ramos – afirmando que não sabemos exatamente
o que os peregrinos entusiastas que acolheram Jesus consideravam que fosse o Reino
de Davi, que vem. O papa questionou se também nós entendemos o que vem a ser o Reino
do qual Jesus falou no interrogatório diante de Pilatos.
"Compreendemos o que
significa dizer que este Reino não é deste mundo? Ou desejamos, talvez que, ao invés,
seja deste mundo? – perguntou-se Bento XVI.
Em seguida, o papa ressaltou que
São João, em seu Evangelho, após a narração da entrada em Jerusalém, traz uma série
de palavras de Jesus, nas quais Ele explica o essencial desse novo tipo de Reino.
O Santo Padre chamou a atenção para o fato que o verdadeiro objetivo dos peregrinos
em Jerusalém era o de adorar Deus, afirmando que isso corresponde perfeitamente àquilo
que Jesus diz por ocasião da purificação do Templo: "Minha casa será chamada casa
de oração para todos os povos" (Mc 11, 17).
"A verdadeira finalidade
da peregrinação deve ser encontrar Deus; adorá-lo, e assim colocar na justa ordem
a relação de fundo da nossa vida. Uma grande palavra: 'Queremos ver Jesus'. Caros
amigos, para isso estamos aqui reunidos. Queremos ver Jesus. Com essa finalidade,
no ano passado, milhares de jovens foram a Sydney. Certamente, terão tido muitas expectativas
para essa peregrinação. Mas o objetivo essencial era este: Queremos ver Jesus."
Retomando
a expressão Reino de Deus, o papa ressaltou, em sua homilia, que podemos reconhecer
duas características essenciais desse Reino. "A primeira é que esse Reino passa através
da cruz. Porque Jesus se doa totalmente, pode como Ressuscitado pertencer a todos
e tornar-se presente a todos. Na santa Eucaristia recebemos o fruto do grão morto,
a multiplicação dos pães que prossegue até o fim do mundo e em todos os tempos" –
observou o pontífice.
A segunda característica diz: O seu Reino é universal.
Realiza-se a antiga esperança de Israel: essa realeza de Davi não tem mais fronteiras.
"O seu domínio irá de mar a mar e do Rio às extremidades da terra", como diz o profeta
Zacarias (9, 10), ou seja, abraça o mundo inteiro. Bento XVI observou que isso só
é possível porque não se trata da realeza de um poder político, mas se baseia unicamente
na livre adesão do amor.
Quem ama a sua vida a perde e quem odeia a sua
vida neste mundo guardá-la-á para a vida eterna (Jo, 12, 25). "Somente
no abandono de si mesmos, somente na doação desinteressada do eu em favor do outro,
somente no 'sim' à vida maior, própria de Deus, também a nossa vida se torna ampla
e grande", frisou Bento XVI, acrescentando que esse princípio fundamental, que o Senhor
estabelece, em última análise, é simplesmente idêntico ao princípio do amor.
Na
realidade concreta – observou – não se trata, porém, de simplesmente reconhecer um
princípio, mas de viver a sua verdade, a verdade da cruz e da ressurreição. E por
isso, não basta uma única decisão. É certamente importante ousar a grande decisão
fundamental, ousar o grande 'sim', que o Senhor nos pede num certo momento da nossa
vida.
"Também o sacrifício, a renúncia, pertencem a uma vida reta. Quem
promete uma vida sem essa sempre nova doação de si, engana as pessoas. Não existe
uma vida realizada sem sacrifício. Se lanço um olhar retrospectivo sobre a minha vida
pessoal, me dou conta de que justamente nos momentos em que eu disse 'sim' a uma renúncia,
foram esses os grandes e importantes momentos de minha vida."
Chamando
a atenção para o fato que como ser humano, também Jesus se sentiu impelido a pedir
que lhe fosse poupado o terror da paixão, o pontífice evidenciou que também nós podemos
rezar desse modo.
"Também nós podemos lamentar-nos diante do Senhor como
Jó, apresentar-lhe as nossas interrogações que, diante da injustiça no mundo e das
dificuldades do nosso próprio eu, são suscitadas em nós. Diante d'Ele não devemos
refugiar-nos em frases piedosas, num mundo fictício. Rezar significa sempre também
lutar com Deus, e com Jacó podemos dizer-Lhe: 'Eu não te deixarei se não me abençoares'
(Gn 32, 27).
Uma circunstância – ressaltou Bento XVI – que nos ensina,
como cristãos, que a vontade de Deus "é sempre mais importante e mais verdadeira"
que a nossa, e que "a sua vontade é a verdade e o amor".
Um pensamento que
o pontífice dirigiu em particular aos jovens que, ao término da missa – antes da oração
do Angelus e após a alocução do Santo Padre – passaram a cruz do Dia Mundial
da Juventude para a delegação de jovens da Espanha: "Quanto mais por amor à
grande verdade e a Deus formos capazes de fazer alguma renúncia, maior e mais rica
será a vida. Quem quiser reservar a sua vida para si mesmo a perde. Quem doa a sua
vida – diariamente nos pequenos gestos, que fazem parte da grande decisão – esse a
encontra. Essa é a verdade exigente, mas também profundamente bela e libertadora,
na qual queremos passo a passo entrar durante o caminho da Cruz através dos continentes."
(RL)
Ao término da celebração, nosso colega Alberto Goroni entrevistou alguns
dos presentes na Praça São Pedro. Eis o que disse um dos concelebrantes da missa,
o prefreito da Congregação para o Clero, o cardeal brasileiro Cláudio Hummes, acerca
da celebração deste Domingo de Ramos e do Dia Mundial da Juventude: