VATICANO: QUEDA DEMOGRÁFICA NÃO AJUDA A REDUZIR POBREZA
Nova York, 02 abr (RV) - O Arcebispo Celestino Migliore, núncio apostólico
junto às Nações Unidas, proferiu ontem um discurso na 42ª sessão da Comissão para
população e desenvolvimento, em Nova York.
A leitura dos documentos preparatórios
para esta sessão da Comissão – disse Dom Migliore – oferece a impressão de que as
populações são vistas como o maior obstáculo ao desenvolvimento econômico e social,
e não contribuintes vitais para o sucesso dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
e um maior desenvolvimento sustentável. Somada às declarações de algumas ONGs, esta
leitura sugere que a própria instituição que propôs os Objetivos de Desenvolvimento
do Milênio, quinze anos atrás, está dando prioridade ao controle populacional e induzindo
os pobres a aceitar essas regras, ao invés de se concentrar nos compromissos assumidos
para resolver os problemas da educação, cuidados básicos de saúde, acesso à água,
saneamento e emprego.
Antes da Conferência Internacional sobre População e
Desenvolvimento, especialistas em demografia e políticos alertaram que o aumento da
população mundial criaria um enorme fardo sobre o mundo, com terríveis consequências:
carência alimentar, fome de massa, destruição ambiental e de recursos, novos conflitos.
Hoje, quinze anos mais tarde, o crescimento da população tem se reduzido; a produção
de alimentos continua a aumentar e seria até suficiente para todos, tanto que uma
parte está sendo desviada para a produção de combustíveis.
É quase irônico
que a destruição ambiental é praticada principalmente pelos países com menores índices
de crescimento e que os países ricos apóiem o incremento da população em suas casas,
ao mesmo tempo em que trabalham para reduzi-la nos países pobres.
Além disso,
os peritos interpretam o aumento das taxas de natalidade na África, ao longo das últimas
décadas, como uma oportunidade para gerar vantagens em termos econômicos sobre as
regiões cujo crescente envelhecimento populacional cria desafios econômicos. Neste
sentido, é preciso maior empenho e assistência, além de infra-estruturas e financiamentos
adicionais, para apoiar o crescimento econômico.
A Santa Sé continua a acreditar
que o acesso à educação, oportunidades econômicas, estabilidade política, cuidados
básicos de saúde e apoio às famílias devem a ser a base para alcançar os Objetivos
de Desenvolvimento do Milênio.
No final do discurso, em nome da Santa Sé,
Dom Migliore, reafirmou as reservas feitas nas Conferências do Cairo e Pequim: o aborto
não é uma forma legítima de saúde sexual e reprodutiva, direitos ou serviços. A delegação
vaticana espera que as organizações internacionais e os responsáveis políticos mantenham
ou, se necessário, redirecionem esforços públicos para uma abordagem humana no alcance
dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. (CM)