São grandes os desafios que esperam a África: a Igreja fará a sua parte, disse Bento
XVI durante a audiência geral dedicada aos momentos salientes da sua primeira viagem
apostólica á África
Na primeira audiência geral depois da sua viagem á África, Bento XVI quis recordar
com emoção, nesta quarta feira na Praça de São Pedro a sua recente viagem apostólica,
convidando a rezar pelas populações africanas, que lhe são muito queridas, para que
possam enfrentar com coragem os grandes desafios sociais, económicos e espirituais
do nosso tempo. O Santo Padre recordou com emoção o acolhimento caloroso que recebeu
e manifestou viva gratidão aos episcopados de Angola e Camarões, os dois países visitados
e a todos aqueles que estiveram envolvidos na visita pastoral Percorrendo depois
as etapas da sua estadia em África Bento XVI sublinhou de Yaoundé a capital dos Camarões,
a alma profundamente religiosa que une todos os grupos étnicos onde , com a entrega
do documento preparatório “instrumentum laboris, iniciou simbolicamente o percurso
do segundo sínodo especial africano, programado aqui em Roma em Outubro próximo “Sem
dúvida, um dos momentos culminantes da viagem foi a entrega do “Instrumento de trabalho”
(Instrumentum laboris) da II Assembleia sinodal para a África, a 19 de Março, meu
onomástico, dia de São José, no estádio de Yaoundé. No final da solene celebração
eucarística em honra de São José. Isso teve lugar na coralidade do Povo de Deus, no
meio de cânticos de alegria e de louvor de uma multidão em festa, como diz o Salmo
(vimos realizada esta visão do Salmo). A assembleia sinodal tem lugar em Roma,
mas num certo sentido, teve já início no coração do continente africano, no coração
da família cristã que ali vive, sofre e espera. Por isso me pareceu feliz a coincidência
da publicação do “Instrumentum laboris” com a festa de S. José, que é modelo de fé
e de esperança, como o primeiro patriarca Abraão. A fé no Deus próximo, que em Jesus
nos mostrou o seu rosto de amor, é a garantia de uma esperança fiável para a África
e para o mundo inteiro, garantia de um futuro de reconciliação, de justiça e de paz. Após
a solene assembleia litúrgica, a festiva apresentação do Documento de Trabalho, pude-me
deter, na Nunciatura Apostólica de Yaoundé, com os membros do Conselho especial para
a África do Sínodo dos Bispos, vivendo com eles um momento de intensa comunhão. Conjuntamente
reflectimos sobre a história da África, numa perspectiva teológica e pastoral. Era
quase como uma primeira reunião do próprio Sínodo, um debate fraterno entre os diversos
episcopados e eu próprio, sobre as perspectivas do Sínodo – da reconciliação e da
paz em África. De facto, o cristianismo – e isto podia-se ver – lançou profundas
raízes no solo africano, como atestam os numerosos mártires, santos, pastores, doutores,
catequistas…………..” “Segunda etapa e segunda parte da minha viagem
foi Angola, país esse também, sobre certos aspectos, emblemático. Saído, de facto,
de uma longa guerra interna, está agora empenhado na obra da reconciliação e da reconstrução
nacional. Mas como poderiam ser autênticas esta reconciliação e esta reconstrução
se tivessem lugar em detrimento dos mais pobres, que têm direito, como todos, a participar
nos recursos da sua terra? Por isso é que, com esta minha visita, o primeiro objectivo
foi obviamente o de confirmar na fé a Igreja, (mas) quis também encorajar o processo
social em curso. Em Angola, na verdade toca-se com a mão o que diversas vezes
os meus venerados predecessores repetiram: Tudo se perde com a guerra, tudo pode renascer
com a paz! Mas para reconstruir uma nação, são necessárias grandes energias morais.
E aqui, uma vez mais, se revela importante o papel da Igreja, chamada a desempenhar
uma função educativa, trabalhando em profundidade para renovar e formar as consciências. O
padroeiro da cidade de Luanda, capital de Angola, é São Paulo. Por isso escolhi celebrar
a Eucaristia com os sacerdotes, seminaristas, religiosos, catequistas e outros agentes
pastorais, sábado 21 de Março, na igreja dedicada ao Apóstolo. Uma vez mais a experiência
pessoal de S. Paulo nos falou do encontro com Cristo Ressuscitado, capaz de transformar
as pessoas e a sociedade. Mudam os contextos históricos, e naturalmente há que tê-lo
em conta, mas Cristo permanece a verdadeira força de renovamento radical do homem
e da comunidade humana. Por isso, voltar a Deus, converter-se a Cristo, significa
avançar para a plenitude da vida”. Para manifestar a proximidade da Igreja dos
esforços de reconstrução em Angola e de tantas regiões africanas, em Luanda – prosseguiu
o Papa - quis dedicar dois encontros especiais respectivamente aos jovens e ás mulheres.
Com os jovens, no estádio, foi uma festa de alegria e de esperança, infelizmente entristecida
com a morte de duas raparigas, espezinhadas no momento da entrada no estádio. A
África é um continente muito jovem, mas muitos dos seus filhos, crianças e adolescentes
já sofreram feridas graves que somente Jesus Cristo pode sarar, o Crucificado – Ressuscitado,
pode sarar infundindo neles, com o Seu Espírito, a força de amar e de se empenhar
a favor da justiça e da paz.. As mulheres depois, prestei homenagem pelo serviço
que tantas delas oferecem á fé, á dignidade humana, á vida, á família. Reafirmei o
seu pleno direito de empenhar-se na vida publica, contudo sem que seja mortificado
o seu papel na família, uma missão que é fundamental e deve ser sempre desenvolvida
em partilha responsável com todos os outros elementos da sociedade e sobretudo com
os maridos e pais.. Eis portanto a mensagem que deixei ás novas gerações e ao mundo
feminino estendendo-a depois a todos na grande assembleia eucarística de Domingo 22
de Março, concelebrada com os Bispos dos Países da África Austral, com a participação
de um milhão de fiéis. Se os povos africanos, como o antigo Israel – disse-lhes,
acrescentou Bento XVI – fundam a sua esperança na Palavra de Deus, ricos do seu património
religioso e cultural, podem realmente construir um futuro de reconciliação, e de pacificação
estável para todos.