REPRESENTANTE VATICANO NA FAO: NÃO ÀS ESPECULAÇÕES QUE LUCRAM SOBRE ALIMENTOS-BASE
DAS POPULAÇÕES POBRES
Bangcoc, 1º abr (RV) - O observador da Santa Sé junto aos organismos da ONU
para a agricultura e a alimentação, Mons. Renato Volante, fez um veemente pronunciamento
na Conferência regional da FAO para a Ásia e o Pacífico, realizado dias atrás em Bangcoc,
na Tailândia. O monsenhor afirmou, entre outras coisas, que toda e "qualquer estratégia
ou normativa dirigida ao mundo rural deve considerar a centralidade da pessoa e as
suas necessidades concretas".
Mons. Volante destacou que, de um lado, se vê
milhões de pessoas na linha da fome, ou abaixo dela, buscando sobreviver tirando algo
de terras comumente pouco férteis ou cultivadas de modo improdutivo. Por outro lado,
se vê o jogo da especulação, com produtos como o arroz sendo explorado para encher
os bolsos de poucos, ao invés de saciar a fome de muitos.
Diante dos delegados
internacionais da FAO para a região da Ásia e do Pacífico, Mons. Volante denunciou
os dois lados dessa situação. Há tempos, nas reuniões internacionais, se discute a
fim de identificar as melhores "estratégias para garantir a segurança alimentar",
no "esforço de libertar, da fome e da desnutrição, os mais vulneráveis e desfavorecidos",
ressaltou o representante, acrescentando que sem um compromisso direto e responsável
dos governos, também a eficácia de organismos como a FAO acaba sendo condicionada.
O
representante vaticano observou que nos encontramos diante de um cenário difícil:
milhões de pessoas a serem sustentadas em áreas rurais onde o "principal obstáculo"
permanece sendo "o inadequado processo de desenvolvimento" que acaba incidindo na
"perspectiva de vida" dos mais pobres.
O representane precisou que se trata
de "situações evidentes" que "para serem afrontadas necessitam de decisões de política
nacional e internacional, a começar com linhas orientadoras para a atividade agrícola
e para a produção alimentar que respondam à realidade atual".
Mons. Volante
chamou a atenção para o fato que o nível das próximas colheitas dá algumas esperanças
para o futuro imediato, mas, todavia, "apesar dos sinais positivos para alcançar um
nível mínimo de segurança alimentar, a crise que atinge os mercados, as atividades
financeiras, o nível dos preços dos alimentos requer uma revisão das políticas agrícolas
mostrando a necessidade de se atuar com todos os instrumentos e medidas possíveis".
Ele
ressaltou ainda a importância das novas metodologias "para aumentar a produção de
modo estável", desde que as tradições locais não sejam desestruturadas.
Mons.
Volante destacou também a necessidade de que se dê atenção não somente ao consumo,
"mas também a um nível de nutrição sadio e seguro", e se dêem "melhores condições
de trabalho agrícola, sobretudo naquelas áreas estruturalmente em risco ou que se
tornaram tais devido a fatores ambientais ou da ação do homem".
Ao confirmar
a colaboração da Igreja Católica com as instituições civis para combater o problema
da insegurança alimentar, Mons. Volante reiterou que, "embora consciente das dificuldades",
a delegação da Santa Sé confia na capacidade daqueles que se encontram diariamente
comprometidos nas diferentes funções e responsabilidades da região" Ásia e Pacífico,
onde existem muitos sinais positivos de um melhoramento da situação.
O observador
vaticano concluiu dizendo que esses sinais "podem ser reforçados por um ulterior desenvolvimento
da vida cultural e social da região, e aprofundados de modo que o antigo valor da
solidariedade realmente permeie a vida cotidiana das pessoas, das comunidades e dos
Estados, e ninguém se sinta sozinho ou abandonado". (RL)