Muitas vezes, e isso está se tornando habitual, os meios de comunicação optam
pelo sensacionalismo em detrimento da verdade e, pior, provocando total desserviço,
com uma má informação. Quero destacar o que aconteceu com a entrevista dada
pelo Santo Padre Bento XVI a bordo do avião que o levava à África. Indagado sobre
o modo como a Igreja se posiciona em relação à Aids ser frequentemente considerada
irrealista e ineficaz , o Papa comentou que, pelo contrário, a Igreja se coloca como
a realidade mais eficiente, mais presente em primeira linha na luta contra a AIDS,
citando o trabalho de congregações religiosas e de associações leigas e que é necessário
responsabilidade pessoal. A seguir o Papa falou que o combate à doença não
é superado com a distribuição de preservativo, ao contrário, isso aumenta o problema.
Disse que a solução só poderá vir pela conjunção de dois fatores: a humanização da
sexualidade e a verdadeira amizade, se referindo às pessoas que tratam dos doentes.
Mas a única coisa que ficou na memória de alguns jornalistas foi o comentário sobre
o uso de preservativo e, mesmo assim, dentro da capacidade mental deles, ou seja,
no enquadramento exíguo, viciado e impossibilitado de enxergar mais além, ou o que
lhes era dito. Tendo essa notícia sido lançada aos quatro cantos do planeta,
a reação foi imediata e, mais uma vez o Papa e a Igreja foram achincalhados e os pseudo
defensores da Humanidade tiveram seu palanque para discursos e distribuição farta
e gratuita de “camisinhas”. Se tudo se reduzisse a isso, seria triste, mas não tanto.
Talvez seja somente uma visão a partir da cultura ocidental e não da cultura e realidades
africanas? O pior é que com essa idéia de que basta usar preservativo para que a AIDS
não se propague, esquece-se de que existem outros meios terríveis de propagação dessa
doença, que é o não tratamento adequado. Por que não se colabora com a África,
na distribuição gratuita dos medicamentos antiretrovirais, como é feito no Brasil,
o pioneiro nesse método de combate? Nisso não se fala, pois supõe um gasto elevado
de dinheiro e abrir mão de lucro garantido. Por que será que os jovens africanos
fizeram uma declaração em favor do Pontífice e os que moram aqui, em Roma, no próximo
domingo, darão seu apoio ao Pontífice e irão denunciar essa propaganda enganadora
de que a camisinha resolve os problemas com a propagação da AIDS? Eles dirão: ”Não
à instrumentalização de mensagem do Papa para a África, não às especulações, não a
quem deseja fazer da África um dos principais mercados de distribuição de preservativos,
sim às curas eficazes para a AIDS na áfrica, e sim à educação.” São os africanos
os artífices e os protagonistas de seu futuro, isso a comunidade internacional tem
de aceitar. Acabou a era do colonialismo. Se ela quiser colaborar, colabore com o
que os jovens indicam como prioridade: alimento, água, energia, tratamento médico,
renda estável para as famílias e também “um sistema comercial que facilite a exportação
de produtos africanos e não somente a exportação das matérias-primas, valorizando
assim as próprias riquezas e não a exploração dos recursos”.