Construir a paz dia a dia, colocando-se ao serviço dos outros e do bem comum: a exortação
do Papa aos jovens voluntários do Serviço Civil italiano
“A paz nunca se alcança de modo estável, definitivo; há que a construir continuamente”
– afirmação do Concilio Vaticano II, recordada neste sábado de manhã pelo Papa, ao
receber no Vaticano um consistente grupo de jovens do Serviço Civil (italiano).
Como
foi recordado, no início da audiência, na saudação ao Pontifice, o Serviço Civil foi
criado em Itália em 2001, proporcionando aos objectores de consciência uma alternativa
ao serviço militar então obrigatório. No primeiro ano eram 181, actualmente são quarenta
e quatro mil. Dado que entretanto deixou de existir em Itália o serviço militar obrigatório,
o serviço civil evoluiu, encontrando a sua identidade como “instrumento de defesa
não armada dos valores da pátria”, representando hoje em dia “um dos principais instrumentos
de intervenção em matéria de educação civil e de apoio aos cidadãos”. No centro das
actividades propostas aos voluntários do Serviço Civil está “o encontro dos jovens
com o próximo e a educação das novas gerações, entendida como transmissão dos valores
fundante da sociedade”. Uma “vontade de se colocar ao serviço do próximo”, que – como
foi recordado – coloca este Serviço Civil em sintonia com os valores cristãos testemunhados
actualmente, no mundo, por uns dezasseis mil missionários italianos, que “dedicam
a sua existência ao serviço dos mais pobres e dos mais marginalizados”.
Na
cordial alocução que dirigiu aos jovens voluntários do Serviço Civil, Bento XVI começou
por congratular-se pelo entusiasmo que os anima e pela generosidade com que desenvolvem
a sua missão de paz. Evocando a Constituição “Gaudium et Spes”, do Vaticano II, quando
enfrenta o tema da paz entre os povos, o Papa sublinhou como é real a observação de
que a paz tem que ser continuamente construída, porque nunca está estabelecida de
uma vez para sempre. “Em anos marcados pelo perigo de possíveis conflitos planetários
– observou o Papa – o Concílio Vaticano II denunciava com vigor a corrida aos armamentos”,
apresentada como “uma das mais graves pragas da humanidade, que prejudica de modo
intolerável os pobres”, pelo que os Padres conciliares faziam votos de que procurassem
“novos caminhos”, a começar pela “reforma dos espíritos”, das mentes e das consciências.
“Hoje
como então, a autêntica conversão dos corações representa o caminho justo, o único
que pode conduzir cada um de nós e toda a humanidade à alvejada paz. É o caminho indicado
por Jesus: Ele – que é o Rei do universo – não veio trazer a paz ao mundo, com um
exército, mas através da recusa da violência”.
“Foi este o caminho que seguiram
depois e que seguem hoje não só os discípulos de Cristo – observou o Papa – mas tantos
homens e mulheres de boa vontade, testemunhas corajosas da força da não violência”.
“A esta categoria de construtores da paz pertenceis também vós, caros jovens amigos”
– declarou o Papa.
“Sede, portanto, sempre e por toda a parte, instrumentos
de paz, rejeitando com decisão o egoísmo e a injustiça, a indiferença e o ódio, para
construir e difundir com paciência e perseverança a justiça, a igualdade, a liberdade,
a reconciliação, o acolhimento, o perdão, em cada comunidade”.
Congratulando-se
com a actividade desenvolvida por muitos destes jovens nos serviços da Caritas e noutras
estruturas sociais, o Papa, retomando palavras da sua Mensagem para o passado Dia
Mundial da Paz, exortou-os a “alargarem o coração às necessidades dos pobres e a fazerem
tudo o que for concretamente possível para lhes ir em ajuda”, pois “combater a pobreza
é construir a paz”.
“Na variedade dos âmbitos das vossas actividades, cada
um, através desta experiência de voluntariado, pode reforçar a sua própria sensibilidade
social, conhecendo mais de perto os problemas das pessoas e tornando-se promotor activo
de uma solidariedade concreta”.
Aliás – observou – será sem dúvida este “o
objectivo principal do Serviço Civil nacional, um objectivo formativo: educar as gerações
jovens para cultivarem um sentido de atenção responsável em relação às pessoas necessitadas
e ao bem comum”.
E o Papa concluiu recordando as palavras de Jesus: “quem
perde a sua vida por causa de Mim e do Evangelho, salvar-se-á”. “Trata-se – observou
o Papa – de uma verdade não só cristã, mas universalmente humana”:
“A vida
é um mistério de amor, que tanto mais nos pertence quando mais a damos. Melhor ainda:
quanto mais nos damos, ou seja, fazemos dom de nós próprios, do nosso tempo,
dos nossos recursos e qualidades, para bem dos outros. Di-lo uma célebre oração atribuída
a São Francisco de Assis, que começa assim: Ó Senhor, faz de mim um instrumento
da tua paz, e termina com estas palavras: Porque é dando que se recebe, é perdoando
que se é perdoado, é morrendo que se ressuscita para a vida eterna. Caros amigos,
seja sempre esta a lógica da vossa vida”.