NA MISSA EM LUANDA, A DOR DO PAPA PELA MORTE, ONTEM, DE DUAS JOVENS FIÉIS
Luanda, 22 mar (RV) - Diante de um milhão de pessoas e sob um forte calor,
o papa presidiu esta manhã uma celebração eucarística na esplanada de Cimangola, a
14 km de Luanda, em seu penúltimo dia de viagem à África. No início do encontro, Bento
XVI expressou seu profundo pesar pela morte de duas jovens ontem, no estádio de Luanda,
e fez seus votos de rápida recuperação aos feridos. Ouça:
PAPA
O diretor
da Sala de Imprensa do Vaticano, Pe. Federico Lombardi, informou ontem que a morte
de dois jovens angolanos em um tumulto no estádio Dois Coqueiros, em Luanda, causou
dor e desconcerto tanto a Bento XVI como ao séquito papal. O episódio aconteceu na
entrada do estádio, horas antes que o papa chegasse. Pe. Lombardi acrescentou que
o incidente só foi revelado às 20h, duas horas depois do término do encontro do pontífice
com os jovens angolanos. As autoridades angolanas confirmaram ao séquito papal as
mortes dos dois jovens em um acidente, sem precisar mais detalhes sobre o ocorrido.
Segundo médicos do Hospital Josina Machel, os dois jovens morreram durante um tumulto
nos portões do estádio, onde milhares de pessoas tentavam entrar. A imprensa local
disse que o incidente aconteceu ao meio-dia, quando os portões foram abertos.
Após
as palavras iniciais, expressando sua dor, a missa teve início. Em sua homilia, o
papa agradeceu a presença dos membros da Associação Inter-regional dos Bispos da África
Austral e de fiéis de Botsuana, Lesoto, Moçambique, Namíbia, África do Sul, Suazilândia
e Zimbábue.
Inspirando-se na primeira leitura da liturgia de hoje, que narra
o convite ao povo exilado para regressar a Jerusalém e reconstruir o templo do Senhor,
o papa refletiu sobre a experiência pessoal de tantos angolanos que enfrentam as consequências
da guerra civil, “infelizmente, disse, uma experiência familiar a toda a África”.
O
Evangelho de hoje nos ensina que a reconciliação só pode ser fruto de uma conversão,
de uma mudança do coração, de um novo modo de pensar. E ensina também que só a força
do amor de Deus pode mudar os nossos corações e nos fazer triunfar sobre o poder do
pecado e da divisão. Só Deus pode fazer novas todas as coisas. Bento XVI explicou
ainda que foi à África justamente para proclamar a mensagem de perdão, de esperança
e de uma nova vida em Cristo. Exortando o povo angolano a ser construtor de um
futuro melhor para o seu país, Bento XVI ressaltou os profundos valores humanos da
sua cultura originária e tradições: famílias solidárias, profundo sentido religioso,
celebração festiva do dom da vida, apreço pela sabedoria dos mais velhos e pelas aspirações
do jovens. Bento XVI também recordou a contribuição de gerações e gerações de missionários,
professores cristãos, catequistas, presbíteros, religiosas e religiosos, que sacrificaram
sua vida pessoal para vos transmitir este tesouro precioso.
Em seguida, o
papa falou das tragédias que obscureceram esta parte do mundo:
“Pensemos no
flagelo da guerra, nos frutos terríveis do tribalismo e das rivalidades étnicas, na
avidez que corrompe o coração do homem, reduz à escravidão os pobres e priva as gerações
futuras dos recursos de que terão necessidade para criar uma sociedade mais solidária
e justa: uma sociedade verdadeira e autenticamente africana no seu estro e nos seus
valores”.
E citou as insidias morais do presente:
“O espírito de egoísmo
que fecha os indivíduos em si mesmos, divide as famílias e, espezinhando os grandes
ideais de generosidade e abnegação, conduz inevitavelmente ao hedonismo, à fuga para
falsas utopias através do uso da droga, à irresponsabilidade sexual, ao enfraquecimento
do vínculo matrimonial, à destruição das famílias e à eliminação de vidas humanas
inocentes por meio do aborto?”.
A tudo isso – incitou, concluindo a homilia
– a Igreja católica deve dar uma resposta, buscando antes de tudo, a unidade interna
e entre as etnias do continente:
“Coragem! Ponham-se a caminho! Olhem o futuro
com esperança, confiem nas promessas de Deus e vivam na sua verdade. Deste modo, construirão
algo destinado a permanecer e deixarão às gerações futuras uma herança duradoura de
reconciliação, justiça e paz”. (CM)