2009-03-22 17:51:08

As mulheres têm «pleno direito de se inserir activamente em todos os âmbitos públicos, e o seu direito há-de ser afirmado e protegido, inclusivamente através de instrumentos legais, onde estes se revelem necessários: Bento XVI em Luanda no encontro com movimentos católicos para a promoção da mulher


(22/3/2009) “Uma saudação minha carregada de estima e de esperança vai para as mulheres, a quem Deus confiou as fontes da vida: Vivei e apostai na vida, porque Deus vivo apostou em vós!”
Esta a saudação que Bento XVI reservou, logo no início da alocução pronunciada, nesta tarde de domingo, na igreja de Santo António, na periferia de Luanda, às mulheres angolanas, após a que dirigira aos diversos grupos presentes. O Papa saudou também os leigos em geral, e de entre estes os fiéis unidos pelo sacramento do matrimónio, assim como “os responsáveis e animadores dos movimentos eclesiais mobilizados nomeadamente para a promoção da mulher angolana”.

“A todos exorto a tomar efectiva consciência das condições desfavoráveis a que estiveram – e continuam a estar – sujeitas muitas mulheres, examinando em que medida a conduta e as atitudes dos homens, às vezes falhos de sensibilidade ou responsabilidade, possam ser a causa daquelas. Os desígnios de Deus são outros”.

Ouvimos na leitura que o povo inteiro respondeu numa só voz: «Faremos tudo o que o Senhor mandar». Diz a Sagrada Escritura que o Criador divino, ao examinar a obra por Ele realizada, viu nela um senão: era tudo bom, senão fosse o homem estar só! Como podia o homem sozinho ser imagem e semelhança de Deus que é uno e trino, de Deus que é comunhão? «Não é conveniente que o homem esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele» (cf. Gn 2, 18-20). Deus de novo pôs mãos ao trabalho para criar a auxiliar que faltava, dotando-a de modo privilegiado com a ordem do amor que não via suficientemente representada na criação.
Como sabeis, irmãos e irmãs, esta ordem do amor pertence à vida íntima do próprio Deus, à vida trinitária, sendo o Espírito Santo a hipóstase pessoal do amor. Pois bem, «no fundamento do desígnio eterno de Deus – como dizia o saudoso Papa João Paulo II – a mulher é aquela na qual a ordem do amor no mundo criado das pessoas encontra um terreno para deitar a sua primeira raiz» (Carta apostólica Mulieris dignitatem, 29). De facto, à vista do gracioso encanto que irradia da mulher pela íntima graça que Deus lhe deu, o coração do homem ilumina-se e revê-se nela: «Esta é, realmente, osso dos meus ossos e carne da minha carne» (Gn 2, 23). A mulher é um outro «eu» na comum humanidade.

“Há que reconhecer, afirmar e defender a igual dignidade do homem e da mulher: ambos são pessoas, diversamente dos outros seres vivos do mundo que os rodeia. Ambos são chamados a viver em profunda comunhão, no recíproco reconhecimento e dom de si mesmos, trabalhando juntos para o bem comum com as características complementares do que é masculino e do que é feminino. Quem não adverte, hoje, a necessidade de dar mais espaço às «razões do coração»? Num mundo como o actual dominado pela técnica, sente-se necessidade desta complementaridade da mulher, para o ser humano poder viver nele sem se desumanizar de todo”.

Bento XVI referiu expressamente “as terras onde abunda a pobreza, as zonas devastadas pela guerra e tantas situações trágicas resultantes de emigrações, forçadas ou não”, observando que “são quase sempre as mulheres que ali mantêm intacta a dignidade humana, defendem a família e tutelam os valores culturais e religiosos”. Apesar da história registar quase exclusivamente as conquistas dos homens – observou o Papa, “na realidade uma parte importantíssima da mesma deve-se a acções determinantes, perseverantes e benéficas realizadas por mulheres”.

Neste contexto, “de entre muitas mulheres extraordinárias”, Bento XVI quis evocar expressamente duas, ligadas à história recente da Igreja em Angola: a angolana Teresa Gomes e a italiana Maria Bonino.
A primeira (recordou o Papa) faleceu em 2004 na cidade de Sumbe, depois duma vida conjugal feliz de que nasceram 7 filhos:

“inquebrantável foi a sua fé cristã e admirável o seu zelo apostólico, sobretudo nos anos 1975 e 1976 quando uma feroz propaganda ideológica e política se abateu sobre a paróquia de Nossa Senhora das Graças, de Porto Amboim, conseguindo quase fechar as portas da igreja. Teresa tornou-se a líder dos fiéis inconformados com a situação, apoiando-os, defendendo com bravura as estruturas paroquiais e tudo fazendo para terem de novo a santa Missa. O seu amor à Igreja tornou-a incansável na obra da evangelização, sob a orientação dos sacerdotes”.

Quanto a Maria Bonino, Bento XVI explicou tratar-se de uma médica pediatra italiana, que se ofereceu como voluntária para diversas missões em África, tendo sido a responsável do sector pediátrico no Hospital provincial do Uíje, nos dois últimos anos da sua vida.

“Devotada ao seu cuidado diário de milhares de crianças lá internadas, Maria haveria de pagar com o sacrifício mais alto o serviço lá prestado durante uma terrível epidemia da febre hemorrágica de Marburg, acabando ela mesma contagiada; ainda transferida para Luanda, aqui faleceu e aqui repousa desde 24 de Março de 2005 – faz depois de amanhã 4 anos. A Igreja e a sociedade humana foram – e continuam a ser – imensamente enriquecidas pela presença e as virtudes das mulheres, em particular daquelas que se consagraram ao Senhor e, apoiadas n’Ele, puseram-se ao serviço dos outros.”

Hoje em dia “já ninguém deveria nutrir dúvidas de que as mulheres têm, na base da sua igual dignidade com os homens, pleno direito de se inserir activamente em todos os âmbitos públicos, e o seu direito há-de ser afirmado e protegido, inclusivamente através de instrumentos legais, onde estes se revelem necessários” – sublinhou o Papa, logo advertindo, porém, que “o reconhecimento do papel público das mulheres não deve diminuir a função insubstituível que têm no interior da família”, onde “a sua contribuição para o bem e o progresso social, apesar de pouco considerado, é de um valor realmente inestimável”:

“A presença materna no seio da família é tão importante para a estabilidade e o crescimento desta célula fundamental da sociedade que deveria ser reconhecida, louvada e apoiada de todos os modos possíveis. E, pelo mesmo motivo, a sociedade deve chamar os maridos e pais às próprias responsabilidades para com a família”.

Bento XVI sublinhou ainda que “a edificação de cada família cristã se situa no contexto da família maior que é a Igreja, que a apoia e abraça no seu seio garantindo-lhe que sobre ela pousa, agora e no futuro, o «sim» do Criador”.

A concluir, o Papa exortou as mulheres angolanas a tomar Maria como (disse) “Advogada [de cada uma ]junto do Senhor”.

“Assim A conhecemos desde as bodas de Caná: como a Mulher benigna, cheia de materna solicitude e coragem, a Mulher que Se dá conta das necessidades alheias e, no desejo de pôr-lhes remédio, leva-as diante do Senhor. Junto d’Ela, poderemos todos, mulheres e homens, recuperar aquela serenidade e íntima confiança que nos torna felizes em Deus e incansáveis na luta pela vida. Seja a Senhora da Muxima a estrela da vossa vida, que vos guarde unidos na grande família de Deus. Ámen.”
(testo integral em "Viagens apostólicas"







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