2009-03-21 10:47:32

Ajudemos a encontrar-se a miséria humana com a Misericórdia divina: o Papa na homilia da Missa em Luanda na Igreja de São Paulo.


(21/3/2009) Milhares de fiéis continuam a acompanhar Bento XVI nesta sua estadia em Luanda, no âmbito da primeira viagem apostólica do seu pontificado á Africa . Este Sábado, na igreja de São Paulo, o Papa presidiu a uma Missa, com a participação em particular dos movimentos eclesiais e catequistas, acompanhada também nas ruas da cidade, através de ecrãs gigantes.

O Papa dedicou a sua homilia dedicada à necessidade da evangelização, salientando que “cabe a vós, irmãos e irmãs” oferecer “Cristo ressuscitado aos vossos compatriotas”, condenando algumas crenças que ainda hoje se encontram presentes na sociedade do país.
Segundo Bento XVI, muitos angolanos “vivem no temor dos espíritos, dos poderes nefastos de que se crêem ameaçados; desnorteados, chegam a condenar meninos da rua e até os mais velhos, porque – dizem – são feiticeiros”.
No dia da sua eleição, Papa Ratzinger apresentou-se como “simples trabalhador na vinha do Senhor”. Neste sábado de manhã, na igreja paroquial de São Paulo, foi com esta expressão que Bento XVI designou os padres, religiosos e catequistas que participavam na celebração :
“Amados trabalhadores da vinha do Senhor”.

Comentando o evangelho deste sábado, dos dois homens que subiram ao templo para rezar, um dos quais voltou a casa justificado, enquanto o outro não, observou o Papa:

“Este último expusera todos os seus méritos diante de Deus, quase fazendo d’Ele um seu devedor. No fundo, não sentia necessidade de Deus, embora Lhe dê graças porque lhe concedeu ser tão perfeito e não como este publicano. Mas será precisamente o publicano a descer para casa justificado. Consciente dos seus pecados, que o fazem estar de cabeça baixa – na realidade, porém, todo voltado para o Céu –, tudo espera do Senhor: Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador. Bate à porta da Misericórdia, que se abre e o justifica, porque – conclui Jesus – todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado”.

Bento XVI fez notar que “é de Deus, rico em Misericórdia, que nos fala por experiência própria São Paulo”, aliás patrono da cidade de Luanda e da igreja onde decorria a celebração.

“Eis o testemunho que o apóstolo nos deixou: É digna de fé esta palavra e merecedora de toda a aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo salvar os pecadores, e eu sou o primeiro deles. Mas, se alcancei misericórdia, foi para que em mim, primeiramente, Jesus Cristo mostrasse toda a sua paciência. Eu era um exemplo para os que viriam a acreditar n’Ele, a fim de alcançarem a vida eterna. E, com o passar dos séculos, o número de agraciados não parou de aumentar. Tu e eu, somos um deles. Dêmos graças a Deus porque nos chamou a entrar nesta procissão dos tempos para fazer-nos avançar para o futuro.”

Bento XVI exprimiu a alegria de se encontrar no meio de tantos “companheiros de jornada na vinha do Senhor”, que preparam (disse) “o vinho da Misericórdia divina, derramando-o nas feridas do povo tão atribulado” – bispos, presbíteros, consagradas e consagrados, seminaristas, catequistas, líderes dos mais variados movimentos e associações desta amada Igreja de Deus. O Papa não esqueceu também as religiosas contemplativas, “presença invisível mas extremamente fecunda para os passos de todos nós”. Recordados também os salesianos responsáveis por esta paróquia de São Paulo, assim como todos os paroquianos. Ocasião pois para evocar de novo a figura do Apóstolo:

“Fundamental na vida de Paulo foi o seu encontro com Jesus, quando ia a caminho de Damasco: Cristo aparece-lhe como luz deslumbrante, fala-lhe, conquista-o. O apóstolo viu Jesus ressuscitado, ou seja, o homem na sua estatura perfeita. Dá-se então nele uma inversão de perspectiva, passando a ver tudo a partir desta estatura final do homem em Jesus: o que antes lhe parecia essencial e fundamental, agora para ele não passa de «lixo»; já não é «lucro», mas perda, porque agora só conta a vida em Cristo. Não se trata simplesmente de uma maturação do «eu» de Paulo, mas de morte para si mesmo e de ressurreição em Cristo: morreu nele uma forma de existência; uma forma nova nasceu nele com Jesus ressuscitado”.

O Papa recordou a vida nova que o cristão recebe através da fé e do baptismo, a ponto de poder dizer, com Paulo: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”. “Mediante o nosso ser cristificado por obra e graça do Espírito de Deus, se vai completando a gestação do Corpo de Cristo na história” – sublinhou Bento XVI, que evocou a existência nestas terras, “visitadas pelos portugueses no princípio do século XVI, do “primeiro reino cristão subsaariano”, criado “graças à fé e determinação do rei D. Afonso I Mbemba-a-Nzinga”. “O reino – sublinhou o Papa - permaneceu oficialmente católico nos séculos XVI a XVIII e com embaixador em Roma.

“Vedes como duas etnias muito diferentes – banta e lusíada – puderam encontrar na religião cristã uma plataforma de entendimento, esforçando-se por que esse entendimento perdurasse e as divergências – que as houve, e graves – não afastassem os dois reinos! De facto, o baptismo faz com que todos os crentes sejam um só em Cristo”.

Cabe aos cristãos de agora dar continuidade a estes “heróicos e santos mensageiros de Deus, oferecendo Cristo ressuscitado aos compatriotas” – para que possam viver a vida em plenitude, superando ideias supersticiosas, de nefastas consequências...

“Muitos deles vivem no temor dos espíritos, dos poderes nefastos de que se crêem ameaçados; desnorteados, chegam a condenar meninos da rua e até os mais velhos, porque – dizem – são feiticeiros. Quem pode ir ter com eles para lhes anunciar que Cristo venceu a morte e todos esses poderes obscuros?”

Perante a objecção dos que convidam a “deixar em paz”, com “a sua verdade”, os que não têm a nossa fé, limitando-nos a conviver pacificamente, “deixando cada um como é, realizando do melhor modo a sua autenticidade”, Bento XVI recordou as razões do apostolado e da missão:

“Se estamos convencidos e temos a experiência de que, sem Cristo, a vida é incompleta, falta uma realidade – e a realidade fundamental –, devemos também estar convencidos de que não fazemos injustiça a ninguém se lhe mostrarmos Cristo e lhe oferecermos a possibilidade de encontrar, deste modo, também a sua verdadeira autenticidade, a alegria de ter encontrado a vida. Antes, devemos fazê-lo, é obrigação nossa oferecer a todos esta possibilidade de alcançarem a vida eterna”.

Assim fez, a partir do momento que conheceu Cristo Ressuscitado e foi por ele “apanhado”, o Apóstolo Paulo, dedicando-se inteiramente ao anúncio do Boa Nova a toda a criatura, seguindo o comando do Mestre.

“Abracemos a sua vontade, como fez São Paulo: «Anunciar o Evangelho… é uma obrigação que me foi imposta. Ai de mim se não evangelizar!»”








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