PAPA EM ANGOLA: "CHEGOU PARA A ÁFRICA O TEMPO DA ESPERANÇA"
Luanda, 20 mar (RV) - Bento XVI realizou esta tarde, na segunda etapa de sua
viagem apostólica internacional à África, uma visita de cortesia ao presidente da
República de Angola. O presidente José Eduardo dos Santos recebeu o Santo Padre na
entrada do palácio presidencial, onde foi festivamente acolhido com o comitê de honra,
seguido da execução dos hinos nacional de Angola e do Vaticano.
Logo em seguida,
teve lugar, no estúdio presidencial, o colóquio privado entre José Eduardo e Bento
XVI, acompanhado do cardeal secretário de Estado, Tarcisio Bertone, e um colaborador.
Concluído
o colóquio, a esposa do presidente e familiares entraram no estúdio presidencial para
a foto oficial. Ao término, o presidente acompanhou o pontífice até o Salão de honra
– para o encontro com autoridades políticas e civis e o corpo diplomático – onde o
presidente e o papa pronunciaram um discurso dirigido ao mundo político angolano e
internacional.
"Angola vive um tempo novo e de esperança", disse o presidente
José Eduardo, que em seu discurso abordou também temas internacionais, evocando a
pobreza e os conflitos que ainda martirizam o continente africano.
"O mundo
está vivendo uma grave crise econômica e financeira, mas também uma crise de valores
e de princípios éticos e morais", afirmou o presidente angolano, acrescentando que
os países pobres serão atingidos particularmente por essa crise internacional.
"Queremos
colaborar com a Igreja para construir a justiça através do diálogo político, cultural
e inter-religioso. Mas também para combater o integrismo e o terrorismo", ressaltou
o presidente, recordando que Angola é um Estado laico, onde, todavia, 70% de seus
habitantes são cristãos católicos.
"Queremos construir uma sociedade moderna
que inclua todos sem exclusões sociais", acrescentou o presidente José Eduardo, que
concluiu fazendo votos de que o seu país possa realizar o sonho da paz duradoura e
de um futuro melhor.
Por sua vez, o Santo Padre, o iniciou seu discurso agradecendo
ao presidente angolano pela acolhida e pelas palavras a ele dirigidas de estima ao
Sucessor de Pedro e de confiança na ação da Igreja Católica. Bento XVI contextualizou
a sua visita e convidou os responsáveis ao esforço para o progresso do país e do continente.
"Após
vinte e sete anos de guerra civil que devastou o país, a paz começou a se enraizar,
trazendo consigo os frutos da estabilidade e da liberdade. Os esforços palpáveis do
Governo para estabelecer as infra-estruturas e recriar as instituições indispensáveis
ao desenvolvimento e bem-estar da sociedade fizeram voltar a esperança entre os cidadãos",
frisou o pontífice, acrescentando que "chegou para a África o tempo da esperança".
"Podereis
transformar este continente – exortou Bento XVI – libertando o vosso povo do flagelo
da avidez, da violência e da desordem e guiando-o pelo caminho indicado por princípios
indispensáveis a qualquer democracia civil moderna: o respeito e a promoção dos direitos
humanos, um governo transparente, uma magistratura independente, uma comunicação social
livre, uma administração pública honesta, uma rede de escolas e de hospitais que funcionem
de modo adequado, e a firme determinação, radicada na conversão dos corações, de acabar
de uma vez por todas com a corrupção."
Em seguida, o papa ressaltou que "o
desenvolvimento econômico e social da África requer a coordenação das ações governamentais
nacionais com as iniciativas regionais e com as decisões internacionais". -"Uma
tal coordenação – acrescentou – supõe que as nações africanas não sejam apenas consideradas
como destinatárias dos planos e soluções elaborados por outros. Os próprios africanos,
trabalhando juntos para o bem das suas comunidades, devem ser os agentes primários
do seu desenvolvimento."
"Quanto à comunidade internacional no seu todo – observou
o pontífice – é de urgente importância a coordenação dos esforços para enfrentar a
questão das alterações climáticas, a realização plena e honesta dos compromissos em
prol do desenvolvimento indicados pela rodada de Doha e, de igual forma, a realização
desta promessa muitas vezes repetida pelos países desenvolvidos: destinarem 0,7% do
seu PIB (produto interno bruto) para ajudas oficiais ao desenvolvimento. Esta assistência
é ainda mais necessária hoje com a tempestade financeira mundial em curso; que ela
não seja mais uma das suas vítimas."
Bento XVI se deteve sobre o papel da família,
mas também sobre a difícil situação na qual ela se encontra. «A família representa
a base sobre a qual está construído o edifício da sociedade» (Ecclesia in Africa,
80). Por fim, o papa ressaltou a importância do compromisso da Igreja, que está ao
lado dos mais pobres do continente africano. (RL)