2009-03-20 11:24:30

Angola á espera de Bento XVI : o Papa chega no inicio da tarde a Luanda, depois de três dias nos Camarões


(20/3/2009) Bento XVI chega esta Sexta-feira a Angola para cumprir a segunda etapa da sua viagem a África, depois de três dias no Camarões.
O Papa aterra no Aeroporto internacional 4 de Fevereiro, de Luanda. Logo neste dia, Bento XVI encontra-se com o presidente José Eduardo dos Santos, com autoridades civis e políticas, com o corpo diplomático e com os Bispos da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé.
No Sábado, 21, o programa do Papa inclui uma Missa na Igreja de São Paulo e um encontro com os jovens, mais tare, no Estádio dos Coqueiros.
No Domingo tem lugar uma Missa na esplanada de Cimangola e à tarde um encontro com os movimentos católicos responsáveis pela promoção da mulher.
A viagem, que em Angola assinala os 500 anos de evangelização deste país lusófono, conclui-se Segunda-feira, 23 de Março, com uma cerimónia de despedida no aeroporto de Luanda.
Em finais de Outubro de 2008, na conclusão do Sínodo dos Bispos, Bento XVI anunciou que iria visitar Angola "para homenagear a uma das Igrejas subsaarianas mais antigas".
Actualmente os católicos em Angola são 8,6 milhões (55,6% da população), distribuídos por 18 Dioceses e 307 paróquias, com 27 Bispos e 794 sacerdotes, para além de 2178 religiosas e 30.394 catequistas.
O Arcebispo de Luanda, D. Damião Franklin, refere à Ecclesia que a visita do Papa a um país é sempre “uma alegria e também um compromisso”, um privilégio.
“Angola exultou pelo facto de o Santo Padre ter escolhido o seu país para a primeira visita a África”, desde a Igreja aos órgãos de soberania, indica.
O presidente da Conferência Episcopal, afirma que para a Igreja o mais importante é a “preparação espiritual”, para que tudo não se reduza a “folclore”, promovendo “uma vida cristã autêntica”, em todos os sentidos.
D. Joaquim Lopes, português que está à frente da Diocese angolana de Viana, diz que “é natural que haja essas leituras políticas” nesta visita e que os políticos” procurem tirar dividendos dessa visita, sobretudo em ano de eleições presidenciais, mas temos insistido na necessidade de informar bem que esta visita papal é feita essencialmente numa dimensão essencialmente eclesial”.
“Claro que o Papa é Chefe de Estado, do Vaticano, mas nós temos privilegiado a dimensão pastoral, ele vem para visitar o Povo de Deus, como um pastor que visita o seu rebanho, há apenas sete anos num clima de paz total, para dar um pouco mais de elan para que as comunidades cristãs adquiram força e coragem, para que Angola não só mantenha e incremente o clima de paz, mas também que o desenvolvimento e progresso se desenvolvam nesta linha, sabendo que a Igreja tem um papel preponderante neste país”, refere.
Igreja-Estado
O Pe. Jerónimo Cahinga, teólogo angolano, diz que a Igreja Católica neste apís lusófono corre o risco de viver uma «paz constantiniana», como aconteceu no séc. IV: “Passado o tempo da perseguição e martírio, a Igreja de Roma, apanhada de surpresa, procurou encontrar no âmbito do Império romano um espaço de acomodação. Ela viu-se na necessidade de recorrer às estruturas estatais para se organizar. O Estado, por sua vez, tinha todo o interesse de se apoiar na Igreja, não tanto porque se tinha convertido, mas sobretudo para se estabilizar”.
“Em Angola, depois da instrumentalização da religião no tempo colonial, depois da perseguição e martírio durante a guerra civil, surge agora uma paz semelhante à constantiniana. O receio é de vermos uma Igreja angolana com sinais obnubilados de subserviência”, escreve no artigo publicado neste dossier.
Segundo este sacerdote, “o que pode acontecer é que a Igreja angolana confie demasiadamente num Estado secularizado e não realmente convertido (como o fez a Igreja primitiva), e venha a sofrer a mesma crise como outrora”.
500 anos
D. António Couto, Presidente da Comissão Episcopal das Missões, fala à Agência ECCLESIA da importância de Bento XVI se deslocar a África. “O Papa esteve já noutros continentes, e quer agora dar um sinal a África. Uma das tónicas a focar será certamente a existência de África, as muitas potencialidades e energia. O mundo não pode esquecer África”, acentua.
O Presidente da Comissão aponta, em especial, a responsabilidade que os portugueses têm de “continuar a apoiar e a animar para que o povo viva intensamente o Cristianismo”.
Foram os portugueses que estiveram envolvidos no trabalho de evangelização há 500 anos. “Foi um trabalho com muitas curvas”, recorda o também Bispo auxiliar de Braga.
A fim de satisfazer os pedidos do Rei do Congo, saiu de Lisboa, em 1490 a primeira missão de cooperação e evangelização, chegando a 29 de Março de 1491 ao Soyo, foz do Rio Zaire. A catequese começou pelo rei e pelos nobres, enquanto os operários portugueses construíram a primeira igreja. Nesta primeira fase destaca-se o rei Dom Afonso I, Mvémba–Nzínga (1506-1543), que foi naquele tempo o maior missionário do seu povo.
D. António Couto assinala que os primeiros missionários abriram caminhos “nunca antes tentados”. Já na época moderna, a evangelização foi confrontada com a revolução e a Igreja travou uma “bela luta. O povo angolano está fortemente evangelizado, com raízes profundamente fundadas no Evangelho”.
Missionários
É Português, mas está em Angola há mais de 25 anos. Foi para este país lusófono – “lá para o interior, no meio da guerra” - com mais dois dominicanos. Posteriormente, Frei João Domingos foi chamado pelos bispos para Luanda. Em declarações à Agência ECCLESIA, este dominicano relata a sua experiência no país que receberá Bento XVI neste mês de Março.
Deixou o interior angolano para conduzir a Paróquia do Carmo e “fiquei encarregado do ICRA (Instituto de Ciências Religiosas de Angola)” que forma professores de Educação Moral e Cívica e Educadores Sociais. O seu dinamismo é notório. Em 2005, criou o Instituto João Paulo II que dá cursos superiores na mesma área do ICRA.
O jesuíta Estêvão Jardim está em Angola há cerca de 28 anos. Vive nos arrabaldes de Luanda porque “esta cidade não se pode chamar cidade”. Corresponde a cerca de 7 milhões de habitantes, “numa área sem limites e incomensurável ” – frisou. Apesar das suas especificidades, “o catolicismo em Angola tem muito fundamento”. Este sacerdote jesuíta e natural da Ilha da Madeira conhece Angola de Norte a Sul. Desde Cabinda, ao Cunene. “Pessoalmente, já estive em quase todos os lugares”
A implantação do Apostolado da Oração e a devoção a Cristo na primeira Sexta-Feira do mês é “uma coisa indescritível” – disse o sacerdote jesuíta. E exemplifica: “no Cunene, lá no fim do mundo, estive numa reunião que onde uma senhora me mostrou uma fita do Apostolado de Oração, de 1968”. As fitas vermelhas do Apostolado da Oração são “como um fogo que percorre o país”.
Este jesuíta também é Secretário Nacional do Apostolado da Oração em Angola. As “pessoas percorrem dezenas de quilómetros para p0derem confessar-se e receberem a comunhão reparadora do Coração de Jesus”. O que “segurou este povo durante a guerra” foi o Apostolado da Oração.
Os portugueses “passaram mal” porque “ouvimos tanta coisa” – lamenta o Frei João Domingos. No entanto – realça o dominicano – os missionários da Igreja Católica “não abandonaram as suas missões”. E acrescenta: “os missionários ficaram com o povo”.
Com a sua capacidade, as religiosas salvaram “a vida a muita gente” e, através da angariação de medicamentos, “salvaram a vida a muita gente”. Muitas vezes, a igreja serviu de “intermediária para tentar mostrar que não tinha nada a ver com a guerra e os partidos” – frisou o sacerdote dominicano.
Também é portuguesa, mas exerce o seu múnus pastoral em Kakuaco. “Nesta zona, os jovens, as crianças e o povo em geral procura muito a Palavra de Deus” – disse à Agência ECCLESIA a Irmã Maria Isabel Mira. Perante esta busca, a salesiana realça que se nota uma “grande proliferação de muitas igrejas e muitos movimentos religiosos”. Só na casa de D. Bosco daquela localidade, a Irmã Isabel Mira sublinha que existem mais de oito centenas de crianças e 600 jovens na catequese. “É uma grande procura” – exclamou.
Ao olhar para o panorama religioso deste país, a Irmã Maria Isabel Mira salienta algumas pessoas “trocam de religião”, mas “não andam em duas confissões religiosas”.
Esta religiosa das salesianas é a única portuguesa naquela comunidade, mas “o povo aceita-nos muito bem”. E adianta: “não é o facto de ser portuguesa mas de ser religiosa”. Tudo o que é da Igreja tem “uma respeito muito grande”. Para além da acção social, as cinco irmãs salesianas daquela comunidade apostaram na vertente educativa. “É uma das respostas mais necessárias” – aponta.
( Ecclesia)








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