Este encontro com os pastores
da Igreja Católica nos Camarões representa para mim uma grande alegria. Agradeço a
D. Simon-Victor Tonyé Bakot, Arcebispo de Yaoundé e Presidente da vossa Conferência
Episcopal, as amáveis palavras que me dirigiu em vosso nome. É a terceira vez que
o vosso país acolhe o Sucessor de Pedro e, como sabeis, o motivo da minha viagem é
primariamente uma ocasião para encontrar os povos deste amado continente africano
e entregar aos Presidentes das Conferências Episcopais o Instrumentum laboris da Segunda
Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a África. Nesta manhã, desejo, por vosso
intermédio, saudar afectuosamente todos os fiéis que estão confiados aos vossos
cuidados pastorais. A graça e a paz do Senhor Jesus estejam com cada um de vós, com
todas as famílias do vosso grande e belo país, como os presbíteros, os religiosos
e as religiosas, os catequistas e as pessoas comprometidas convosco no anúncio do
Evangelho.
Neste ano dedicado a São Paulo, é particularmente oportuno recordarmo-nos
da urgente necessidade de anunciar o Evangelho a todos. Este mandato, que a Igreja
recebeu de Cristo, permanece uma prioridade, porque são ainda numerosas as pessoas
que aguardam pela mensagem de esperança e amor que lhes permitirá «participar, livremente,
da glória dos filhos de Deus» (Rom 8, 21). E assim convosco, queridos Irmãos, são
enviadas as vossas comunidades diocesanas inteiras a dar testemunho do Evangelho.
O Concílio Vaticano II recordou vigorosamente que «a actividade missionária dimana
intimamente da própria natureza da Igreja» (Ad gentes, 6). Para guiar e estimular
o Povo de Deus nesta tarefa, os Pastores devem ser eles mesmos, antes de mais, anunciadores
da fé a fim de conduzir a Cristo novos discípulos. O anúncio do Evangelho é próprio
do Bispo, que pode afirmar também, como São Paulo: «Se anuncio o Evangelho, não tenho
de que me gloriar, pois que me é imposta essa obrigação: Ai de mim se não evangelizar!»
(1 Cor 9, 16). Os fiéis, para confirmar e purificar a sua fé, têm necessidade da palavra
do seu Bispo, que é o catequista por excelência.
Para desempenhar esta missão
de evangelização e dar resposta aos múltiplos desafios da vida do mundo actual, é
indispensável, para além dos encontros institucionais naturalmente necessários, que
uma profunda comunhão una os Pastores da Igreja. A qualidade dos trabalhos da vossa
Conferência Episcopal, que bem reflectem a vida da Igreja e da sociedade camaronesa, permite-vos
buscar, juntos, respostas para os vários desafios que a Igreja deve enfrentar e, por
meio das vossas cartas pastorais, dar directrizes comuns para ajudar os fiéis na sua
vida eclesial e social. A consciência profunda da dimensão colegial do vosso ministério
deve impelir-vos a realizar entre vós as múltiplas expressões da fraternidade sacramental,
que vão do acolhimento e da estima recíproca até às diversas delicadezas de caridade
e colaboração concreta (cf. Pastores gregis, 59). Uma efectiva cooperação entre
as dioceses, nomeadamente para uma melhor distribuição dos presbíteros no vosso país,
só pode favorecer as relações de solidariedade fraterna com as Igrejas diocesanas
mais pobres a fim de que o anúncio do Evangelho não sofra pela falta de ministros.
Esta solidariedade apostólica há-de alargar-se generosamente às necessidades das outras
Igrejas locais, e de modo particular às do vosso continente. Deste modo manifestar-se-á
claramente que também as vossas comunidades cristãs, a exemplo das que vos trouxeram
a mensagem evangélica, são uma Igreja missionária.
Amados Irmãos no Episcopado,
o Bispo e os seus presbíteros são chamados a cultivar relações de particular comunhão,
fundadas sobre a sua especial participação no único sacerdócio de Cristo, embora em
graus diversos. A qualidade dos vínculos com os presbíteros, que são os vossos colaboradores
principais e insubstituíveis, é de importância fundamental. Vendo no seu Bispo um
pai e um irmão que os ama, que os escuta e conforta nas suas provações, que presta
uma atenção privilegiada ao seu bem-estar humano e material, eles sentem-se encorajados
a assumir plenamente o seu ministério de maneira digna e eficaz. O exemplo e a palavra
do seu Bispo é para eles uma ajuda preciosa para atribuírem à sua vida espiritual
e sacramental um lugar central no seu ministério, incitando-os a descobrir e viver
cada vez mais profundamente que o específico do pastor é ser primariamente um homem
de oração e que a vida espiritual e sacramental é uma riqueza extraordinária que nos
é dada para nós mesmos e para o bem do povo que nos está confiado. Convido-vos, enfim,
a velar com particular atenção pela fidelidade dos presbíteros e das pessoas consagradas
aos compromissos assumidos com a sua ordenação e com o seu ingresso na vida religiosa,
a fim de perseverarem na sua vocação para uma maior santidade da Igreja e para a glória
de Deus. A autenticidade do seu testemunho requer que não haja qualquer diferença
entre o que ensinam e o que vivem cada dia.
Nas vossas dioceses, são numerosos
os jovens que se apresentam como candidatos ao sacerdócio. E por isso não podemos
senão dar graças ao Senhor. É essencial que se faça um discernimento sério. Com tal
finalidade, não obstante as dificuldades de organização que possam às vezes verificar-se
a nível pastoral, encorajo-vos a dar prioridade à selecção e preparação dos formadores
e dos directores espirituais. Devem ter um conhecimento pessoal e profundo dos candidatos
ao sacerdócio e serem capazes de garantir-lhes uma sólida formação humana, espiritual
e pastoral que faça deles homens maduros e equilibrados, bem preparados para a vida sacerdotal.
O vosso constante apoio fraterno ajudará os formadores a cumprirem a sua tarefa movidos
pelo amor à Igreja e à sua missão.
Desde as origens da fé cristã nos Camarões,
os religiosos e as religiosas têm dado um contributo fundamental para a vida da Igreja.
Convosco dou graças a Deus e alegro-me pelo crescimento da vida consagrada entre as
filhas e filhos do vosso país, que permitiu também a manifestação dos carismas próprios
da África nas comunidades nascidas no vosso país. Com efeito, a profissão dos conselhos
evangélicos é como «um sinal que pode e deve atrair eficazmente todos os membros da
Igreja a corresponderem animosamente às exigências da vocação cristã» (Lumen gentium,
44).
No vosso ministério de proclamação do Evangelho, sois ajudados também
por outros agentes pastorais, particularmente os catequistas. Na evangelização do
vosso país, estes tiveram e têm ainda um papel determinante. Agradeço-lhes a sua
generosidade e fidelidade no serviço da Igreja. Através deles, realiza-se uma autêntica
inculturação da fé. Por isso, é essencial a sua formação humana, espiritual e doutrinal.
O apóio material, moral e espiritual que os pastores lhes dão para cumprirem a
sua missão em boas condições de vida e de trabalho, é também para eles a expressão
do reconhecimento, por parte da Igreja, da importância do seu compromisso para o anúncio
e o desenvolvimento da fé.
Entre os numerosos desafios que encontrais na vossa
responsabilidade de Pastores, preocupa-vos de modo particular a situação da família.
As dificuldades devidas especialmente ao impacto da modernidade e da secularização
com a sociedade tradicional induzem-vos a preservar com determinação os valores fundamentais
da família africana, fazendo da sua evangelização em profundidade uma das prioridade
principais. Na promoção da pastoral familiar, tendes a peito favorecer uma melhor
compreensão da natureza, dignidade e função do matrimónio que supõe um amor indissolúvel
e estável.
A liturgia ocupa um lugar importante na manifestação da fé das vossas
comunidades. Habitualmente, estas celebrações eclesiais são festivas e animadas, exprimindo
o fervor dos fiéis, felizes por estarem juntos, como Igreja, para louvar o Senhor.
Entretanto é essencial que a alegria assim manifestada não seja obstáculo mas meio
para entrar em diálogo e comunhão com Deus, através de uma real interiorização das
estruturas e palavras de que se compõe a liturgia, para que esta traduza o que se
passa no coração dos crentes, em real união com todos os participantes. Um sinal eloqüente
desta é a dignidade das celebrações, sobretudo quando estas se desenrolam com grande
afluência de participantes.
O avanço de seitas e movimentos esotéricos e a
influência crescente de uma religiosidade supersticiosa como também do relativismo
são um premente convite a dar um novo impulso à formação dos jovens e dos adultos,
particularmente nos meios universitários e intelectuais. Nesta perspectiva, desejo
encorajar e louvar os esforços do Instituto Católico de Yaoundé e de todas as instituições
eclesiais que têm por missão tornar acessível e compreensível a todos a Palavra de
Deus e a doutrina da Igreja. Alegro-me por saber que, no vosso país, os fiéis leigos
estão cada vez mais empenhados na vida da Igreja e da sociedade. As numerosas associações
de leigos que florescem nas vossas dioceses são sinal da obra do Espírito no coração
dos fiéis e contribuem para um renovado anúncio do Evangelho. Apraz-me sublinhar e
encorajar a participação activa das associações femininas nos diversos sectores da
missão da Igreja, demonstrando assim uma real consciência da dignidade da mulher e
da sua vocação específica na comunidade eclesial e na sociedade. Dou graças a Deus
pelo empenho que os leigos manifestam de contribuir para o futuro da Igreja e para
o anúncio Evangelho. Pelos sacramentos da iniciação cristã e os dons do Espírito Santo,
eles ficam habilitados e comprometidos a anunciar o Evangelho servindo a pessoa e
a sociedade. Por isso encorajo-vos vivamente a perseverar nos vossos esforços para
lhes dar uma sólida formação cristã que lhes permita «desempenharem plenamente o seu
papel de animação cristã da ordem temporal (política, cultural, económica, social),
que é empenho característico da vocação secular do laicado» (Ecclesia in Africa, 75).
No
contexto da globalização que bem conhecemos, a Igreja nutre um interesse particular
pelas pessoas mais necessitadas. A missão do Bispo impele-o a ser o principal defensor
dos direitos dos pobres, a suscitar e favorecer o exercício da caridade, manifestação
do amor do Senhor pelos humildes. Assim os fiéis são levados a descobrir concretamente
que a Igreja é uma verdadeira família de Deus, congregada pelo amor fraterno, que
exclui todo o etnocentrismo e particularismo excessivos e contribui para a reconciliação
e a colaboração entre as etnias para o bem de todos. Por outro lado, a Igreja quer,
através da sua doutrina social, despertar a esperança nos corações dos marginalizados.
Dever dos cristãos, sobretudo dos leigos que têm responsabilidades sociais, económicas,
políticas, é também deixar-se guiar pela doutrina social da Igreja, a fim de contribuírem
para a edificação dum mundo mais justo onde cada um possa viver com dignidade.
Senhor
Cardeal, amados Irmãos no Episcopado, no termo do nosso encontro, quero exprimir uma
vez mais a minha alegria por estar no vosso país e encontrar o povo camaronês. Agradeçovos
o vosso caloroso acolhimento, sina da generosa hospitalidade africana. Que a Virgem
Maria, Nossa Senhora da África, vele sobre todas as vossas comunidades diocesanas.
Confio-Lhe o povo camaronês inteiro, e do fundo do coração concedo uma afectuosa Benção
Apostólica a vós bem como aos presbíteros, aos religiosos e religiosas, aos catequistas
e a todos os fiéis das vossas dioceses.