A primeira viagem apostólica de Bento XVI á África: um continente em plena
expansão económica enfrenta os desafios da paz, justiça e reconciliação
(14/3/2009) A Republica dos Camarões foi pela segunda vez o país escolhido pelo Papa
para apresentar um documento importante sobre a África. Em 1995, João Paulo II publicou
neste país a sua exortação apostólica Ecclesia in Africa, fruto do I Sínodo
para a África, de 1994. Agora Bento XVI publicará, a19 de Março, festividade de São
José, o Instrumentum Laboris da II Assembleia Especial para a África do Sínodo
dos Bispos, que se realizará no Vaticano em Outubro de 2009. Porquê os Camarões?
A escolha papal pode explicar-se por uma simples razão geográfica. Este país, com
26,8% de católicos, encontra-se no centro do continente africano. Os seus habitantes
falam tanto o francês como o inglês, as duas principais línguas ocidentais na África
depois dos idiomas locais. Para além disso, a visita do Papa é um gesto de estímulo
a prosseguir no processo de evangelização do país. A viagem, anunciada por Bento
XVI aqui em Roma a 26 de Outubro de 2008, tem também outro objectivo: «De lá, se Deus
quiser, seguirei para Angola, para prestar homenagem a uma das igrejas subsaarianas
mais antigas». O programa da primeira viagem de Bento XVI a África como Papa, além
do ponto forte citado, de apresentar o documento de trabalho do próximo sínodo, tem
como momentos relevantes os encontros com as autoridades dos dois países e, no caso
de Camarões, no próprio dia 19 de Março, em Yaoundé, a capital, a reunião dos membros
do Conselho Especial para a África do Sínodo, na nunciatura apostólica, e uma Eucaristia
no estádio Ahmadou Ahidjo, com o mesmo tema do sínodo. Estão previstos também encontros
com a comunidade muçulmana (30% da população) e com o mundo do sofrimento, no Centro
Cardeal Paul-Emile Léger-CNRH. Bento XVI é o terceiro Papa que visita o continente
africano, e fá-lo quando se completam 40 anos desde a chegada do primeiro, Paulo VI,
de 31 de Julho a 2 de Agosto de 1969, ao Uganda. Após aquela histórica visita,
houve numerosas viagens apostólicas de João Paulo II entre 1980 e 2000. Portanto,
a viagem de Bento XVI é a 18ª de um pontífice a terras africanas. A histórica visita
de Paulo VI era a consequência de um simpósio de presidentes de conferências episcopais
regionais africanas, após o Concílio Vaticano II, convocada pela Congregação para
a Evangelização dos Povos para uma consulta. O Papa encerro os trabalhos desse encontro
em Kampala, Uganda, convidando a «construir a Igreja na África» – palavras proféticas
que viram 40 anos de crescimento inusitado da comunidade eclesial africana. A segunda
Assembleia Especial para a África reflectirá sobre «A Igreja na África ao serviço
da reconciliação, da justiça e da paz», com um lema especialmente grato aos movimentos
de leigos que proliferam no continente: ser sal e luz da terra. Os três serviços que
o Sínodo analisará são de uma urgência vital num continente atravessado por conflitos,
onde a justiça brada aos céus e a paz é apenas uma esperança num grande número de
países. Uma paz que, para ser duradoura, tem de passar pela reconciliação. No continente
africano observa-se uma grande vivacidade e dinamismo. Os católicos aumentaram 3,1%
nos últimos anos, um ritmo de crescimento mais alto que o da população. Em 2050,
três países africanos estarão no elenco dos dez primeiros grandes países católicos
do mundo: a República Democrática do Congo, com 97 milhões de católicos; Uganda, com
56 milhões; e Nigéria, com 47 milhões. Do ponto de vista económico , social e político,
os males têm a ver com a endémica corrupção e o mau governo, com as guerras e conflitos
de todo tipo, com as doenças da pobreza e com a distância entre governantes e governados. A
comunidade eclesial é consciente de que o seu futuro passa pela formação dos leigos,
especialmente dos jovens. Estes mostram - se às vezes desiludidos pelo escasso papel
e espaço que lhes são deixados na Igreja, e pelo fato de que não recebem ajuda para
desenvolver os seus carismas específicos. Outros desafios importantes são as relações
com o nem sempre fácil mundo muçulmano, sobretudo em países onde existe um islamismo
agressivo e militante, e o fenómeno de alguns grupos e seitas de origem cristã, citados
pelos padres sinodais africanos no Sínodo dos Bispos celebrado em Outubro de 2008.