Anunciada a publicação esta quinta feira de uma carta de Bento XVI,dirigida a todos
os Bispos da Igreja Católica em que explica a decisão sobre lefebvrianos
(11/3/2009) Foi anunciada nesta quarta feira a publicação de uma carta de Bento
XVI aos Bispos católicos de todo o mundo para explicar a remissão das excomunhões
de 4 Bispos da Fraternidade São Pio X, em Janeiro deste ano, que tinham sido ordenados
pelo falecido Arcebispo Lefebvre sem mandato pontifício. O texto será distribuído
à imprensa esta Quinta-feira, de manhã. Este não é o primeiro esclarecimento oficial
sobre a decisão do Papa, particularmente contestada em virtude da inclusão, no grupo
dos quatro prelados, de D. Richard Williamson. A 4 de Fevereiro passado, a Secretaria
de Estado do Vaticano emitiu uma nota, esclarecendo que para ser readmitido nas funções
de Bispo na Igreja Católica. D. Williamson deve “distanciar-se de forma absolutamente
pública e inequívoca” das suas declarações “negacionistas ou reducionistas” sobre
o Holocausto. “As posições de D. Williamson sobre a Shoah são absolutamente inaceitáveis
e firmemente repudiadas pelo Santo Padre”, referiu o Vaticano. O comunicado esclarecia
que Bento XVI não conhecia essas declarações – produzidas numa entrevista à televisão
sueca – “no momento do levantamento da excomunhão” a este e outros três Bispos lefebvrianos,
que aconteceu no dia 24 de Janeiro (ver Decreto da Congregação para os Bispos). Acrescenta-se,
aliás, que “a situação jurídica da Fraternidade Pio X não mudou, não gozando de momento
de nenhum reconhecimento canónico na Igreja Católica” e que os quatro Bispos em causa
“não têm funções canónicas na Igreja e não exercem licitamente qualquer ministério
na mesma”, esperando o Vaticano uma “total adesão” da sua parte “à doutrina e disciplina”
eclesiais. Nesse contexto, pode ler-se que um futuro reconhecimento da Fraternidade
fundada por Mons. Lefebvre implica “o pleno reconhecimento do Concílio Vaticano II”,
no qual se repudia claramente o anti-semitismo. Anteriormente, o Pe. Federico
Lombardi, divulgara um comunicado para especificar "os novos pedidos de esclarecimentos
sobre a posição do papa e da Igreja sobre o tema da Shoah". "O pensamento do Papa
sobre o tema do Holocausto foi manifestado com muita clareza na Sinagoga de Colónia,
a 19 de Agosto de 2005; no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, a 28 de Maio
de 2006; na audiência pública de 31 de Maio no Vaticano e na audiência de 28 de Janeiro,
com palavras inequívocas", disse. Nesta última data, Bento XVI reafirmou a sua
clara condenação do Holocausto, considerando que este acontecimento trágico deve ser
para todos “um alerta contra o esquecimento, a negação ou o reducionismo”. O Papa
quis “renovar com afecto a expressão da minha plena e indiscutível solidariedade com
os nossos irmãos destinatários da primeira Aliança”, o povo judaico. “Nestes dias,
em que recordamos a Shoah, vêm à minha memória as imagens das minhas repetidas visitas
a Auschwitz, um dos lugares em que se consumou o massacre cruel de milhões de judeus,
vítimas inocentes de um ódio cego, racial e religioso”, disse na audiência geral.
“Desejo que a memória da Shoah leve a humanidade a reflectir sobre o imprevisível
poder do mal, quando conquista o coração do homem”, alertou. “A violência feita
contra um só homem é violência feita contra todos”, afirmou ainda Bento XVI, precisando
que “a Shoah mostra em especial, às velhas e novas gerações, que só o caminho do diálogo
e da escuta, do amor e do perdão, conduz povos, culturas e religiões do mundo à desejada
fraternidade e paz na verdade”. Nessa ocasião, como destaca agora o Pe. Lombardi,
o Papa explicou "claramente" o objectivo da revogação das excomunhões. "Isso não tem
nada a ver com uma legitimação das posições negacionistas do Holocausto, claramente
condenadas pelo pontífice", reiterou.