Uma Igreja renovada na fidelidade e no amor: Mensagem para a Quaresma do Bispo de
Aveiro
(3/3/2009) Com esta saudação de S. Paulo aos cristãos de Filipos, quero saudar-vos
também, amados diocesanos, e fazer-vos chegar a minha mensagem quaresmal, tendo presente
a mensagem que o Santo Padre enviou a toda a Igreja. 1. "Que a graça e a paz de
Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco” (Fil 1, 2). Com esta
saudação de S. Paulo aos cristãos de Filipos, quero saudar-vos também, amados diocesanos,
e fazer-vos chegar a minha mensagem quaresmal, tendo presente a mensagem que o Santo
Padre enviou a toda a Igreja. De facto, a Quaresma pretende criar condições para que
Deus, por meio do Espírito Santo, forme em nós o Homem Novo, Jesus Cristo e a Igreja
possa renovar-se na fidelidade e no amor. É a Páscoa de Jesus que estamos chamados
a viver, a nobreza dos seus sentimentos, a audácia dos seus gestos, a entrega corajosa
da sua paixão, a alegria jubilosa da sua ressurreição. A Quaresma surge como um
tempo especial para contemplarmos o modelo de vida que Jesus nos comunica e prepararmo-nos
para a celebração da sua Páscoa em nós e nas nossas comunidades familiares e cristãs.
Constitui uma oportunidade privilegiada para intensificarmos a renovação da Igreja
diocesana a fim de ser no mundo farol de esperança para todos e servir com desvelo
os mais pobres. A Igreja, na sua experiência secular, conserva uma rica tradição
de práticas penitenciais, designadamente a oração, a esmola e o jejum. As três estão
tão unidas que o Santo Padre Bento XVI pode afirmar com palavras de São Pedro Crisólogo:
“O jejum é a alma da oração e a misericórdia é a vida do jejum. Portanto quem reza
jejue; quem jejua tenha misericórdia. Quem, ao pedir, deseja ser atendido, atenda
quem a ele se dirige. Quem quer encontrar aberto, em seu benefício, o coração de Deus,
não feche o seu próprio coração a quem lhe suplica”. E das três, o Santo Padre escolhe
o jejum como núcleo da sua mensagem quaresmal. 2. Também eu quero propor-vos,
amados diocesanos, a redescoberta do valor desta prática tradicional que nos abre
à fome de Deus e, hoje, revela grande actualidade em virtude das precárias condições
sociais e económicas que muitas pessoas e a própria sociedade vivem. O jejum,
enquanto prática cristã, faz parte da nossa relação com Deus que cria em nós a disposição
de nos abrirmos à graça da renovação, deixando tudo o que nos impede de sermos homens
novos com os sentimentos de Jesus Cristo. A privação voluntária de bens e a educação
para a sobriedade pretendem libertar o coração para acolher este dom e corresponder-lhe
tanto individual como comunitariamente. Quando bem vivido, o jejum ajuda a criar
a unidade interior em cada um de nós, a auto-dominar-nos face a tudo o que nos pode
desviar da nossa vocação cristã e a crescer na intimidade com o Senhor. Evita a dispersão
e faz-nos mais pessoas. O jejum solidário expressa uma dimensão da comunhão dos santos,
pois a privação voluntária e livre redunda em benefício de quem está em necessidade
ou defende causas justas. A partilha quaresmal, fruto também deste jejum solidário,
será destinada em partes iguais a dois projectos de grande alcance: a construção da
Casa Sacerdotal do nosso clero e a ajuda para com a Igreja irmã de Benguela que desde
há vários anos partilha com Aveiro o dom dos seus sacerdotes, encontrando-se neste
momento na nossa Diocese dois sacerdotes do seu presbitério. Sejamos generosos, dentro
das nossas possibilidades. 3. Amados diocesanos, o jejum pode ajudar cada um de
nós a fazer dom total de si a Deus, lembra Bento XVI, recordando uma expressiva afirmação
de João Paulo II (cf. “O Esplendor da Verdade”, 21). Convido as comunidades paroquiais,
os movimentos apostólicos e as instituições sócio-caritativas da Diocese a um olhar
novo, com acrescida generosidade e permanente atenção, para com os mais pobres e para
com aqueles que se sentem mais atingidos pelas dificuldades nascidas da presente situação
económica, financeira e social. A hora de crise que vivemos deve encontrar na
Igreja e nos cristãos novas e criativas respostas de generosidade e de esperança que
repartam o pão com os que têm fome e encham o nosso coração de vida. Que o medo não
nos vença e que o desânimo não se sobreponha à audácia da caridade. Façamos tudo
quanto depender de nós para que as pessoas e as famílias possam descobrir na Igreja
as razões maiores da sua esperança, que as ajudem a crescer em humanidade e a dar-se
com alegria. São múltiplas já as iniciativas das comunidades cristãs e da Igreja
diocesana que revelam, em gestos de caridade e sinais de generosidade, o amor que
Deus tem pelo seu povo e por cada um de nós. Vamos aproveitar a Quaresma para
fazermos a indispensável caminhada de renovação pessoal e comunitária que nos proporciona
um encontro feliz com o Senhor ressuscitado e faz da Páscoa uma festa que não termina.
Aveiro, 15 de Fevereiro de 2009 +António Francisco dos Santos,