Bento XVI propõe São Paulo como guia espiritual nesta Quaresma. O percurso quaresmal
- recorda - é baptismal e pascal e inclui alimentar-se da Palavra de Deus
(25/2/2009) Hoje, quarta-feira de Cinzas, iniciou a Quaresma, período forte de preparação
para a celebração da Paixão, Morte e Ressurreição do Salvador. É também um tempo em
que a Igreja nos convida, de modo particular, às práticas penitenciais da oração,
jejum e esmola. No Vaticano não houve a tradicional audiência geral; esta tarde
Bento XVI deslocou-se ao bairro romano do Aventino onde nas Basílicas de Santo
Anselmo e de Santa Sabina, presidiu a procissão, a Santa Missa ,a bênção e a imposição
da Cinzas
Foi no Apóstolo dos Gentios que Bento XVI se inspirou para a homilia
da celebração das Cinzas, partindo do texto da segunda Carta aos Coríntios, proclamada
como leitura da Missa: “Suplicamo-vos em nome de Cristo: deixai-vos reconciliar com
Deus”. “Este convite do Apóstolo – observou o Papa – soa como mais um estímulo
a tomar a sério o apelo quaresmal à conversão. Paulo experimentou de maneira extraordinária
a potência da graça de Deus, a graça do mistério pascal, de que vive a Quaresma.”
“Cristo
Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, o primeiro dos quais sou eu” – escreveu
Paulo na Carta a Timóteo. E logo acrescenta: “Precisamente por isto é que obtive misericórdia,
porque Cristo quis demonstrar a mim a sua magnanimidade, para que eu fosse de exemplo
para aqueles que haveriam de acreditar n’Ele para terem a vida eterna”.
“O
Apóstolo está portanto consciente de ter sido escolhido como exemplo – sublinhou Bento
XVI – e esta exemplaridade diz precisamente respeito à sua conversão, a transformação
da sua vida graças ao amor misericordioso de Deus”.
Por outro lado, “São
Paulo reconhece que nele tudo é obra da graça de Deus, mas não esquece que ocorre
aderir livremente ao dom da vida nova recebida no Baptismo”. No capítulo sexto da
Carta aos Romanos, proclamado na Vigília Pascal, exorta: “Não ofereçais ao pecado
os vossos membros… mas oferecei-vos a vós mesmos, a Deus, como seres vivos…”
“Nestas
palavras está contido o programa da Quaresma segundo a sua intrínseca perspectiva
baptismal. Por um lado, afirma-se a vitória de Cristo sobre o pecado, ocorrida de
uma vez para sempre com a sua morte e ressurreição. Por outro lado, somos exortados
a não oferecer ao pecado os nossos membros, isto é, a não conceder espaço (por assim
dizer) para o pecado se vingar. A vitória de Cristo aguarda que o discípulo a faça
sua.”
Tal acontece antes de mais com o Baptismo – explicou ainda o Papa.
Mas o baptizado, para que Cristo possa reinar plenamente em si, deve seguir fielmente
os seus ensinamentos, e não se deve descuidar, para não permitir ao adversário recuperar
de algum modo o terreno”.
Mas como levar à realização a vocação baptismal,
como ser vitorioso na luta entre a carne e o espírito? – interrogou-se o pontífice,
que logo recordou os três “meios” que o Evangelho do dia aponta: a oração, a esmola
e o jejum. Também sobre cada um deles, Paulo pode servir de guia. No caso da oração,
ele exorta a “perseverar”, a “rezar ininterruptamente”. Quanto à esmola, são importantes
as páginas dedicadas à grande colecta a favor dos irmãos pobres e a sua indicação
de que é a caridade o cume da vida do crente, o “vínculo da perfeição”. Quanto ao
jejum, embora dele não fale expressamente, é de notar que ele exorta muitas vezes
à sobriedade, como característica de quem está chamado a viver vigilante, aguardando
o Senhor que vem.
A concluir, Bento XVI recordou ainda que, “para viver esta
nova existência em Deus, é indispensável nutrir-se da Palavra de Deus”.
“Também
nisto, o Apóstolo é antes de mais uma testemunha: as suas Cartas são a prova eloquente
do facto que ele vivia da Palavra de Deus: pensamento, acção, oração, teologia, pregação,
exortação, tudo nele era fruto da Palavra, recebida desde a juventude na fé judaica,
e plenamente desvelada aos seus olhos pelo encontro com Cristo morto e ressuscitado,
pregada no resto da vida na sua ‘corrida’ missionária. Foi-lhe revelado que em Jesus
Cristo Deus pronunciou a sua Palavra definitiva, Palavra de salvação que coincide
com o mistério da Cruz”.