Cidade do Vaticano, 25 fev (RV) - Com a Quarta-feira de Cinzas, hoje celebrada,
tem início o tempo forte da Quaresma, em preparação para a Páscoa. Bento XVI preside,
esta tarde, na Basílica romana de Santa Sabina no Aventino, a uma celebração da Eucaristia
com o rito da bênção e imposição das cinzas. A celebração é precedida de uma procissão
penitencial partindo da Igreja de Santo Anselmo.
A Quaresma é também um tempo
em que a Igreja nos convida, de modo particular, às práticas penitenciais da oração,
esmola e jejum. Na mensagem para a Quaresma deste ano, o Santo Padre convida os fiéis
a redescobrirem o valor do jejum. Aproveitando a ocasião, podemos reler esse documento
à luz das palavras de Bento XVI pronunciadas no tempo litúrgico quaresmal.
Em
sua mensagem para este ano, o pontífice exorta a meditar sobre o jejum feito por Cristo
no deserto durante quarenta dias e quarenta noites. "O verdadeiro jejum é finalizado
a comer o 'verdadeiro alimento', que é fazer a vontade do Pai" – ressalta:
"O
jejum ao qual a Igreja nos convida neste tempo forte, não nasce certamente de motivações
de ordem física, estética, mas nasce da exigência que o homem tem de uma purificação
interior que o desintoxique do pecado e do mal, o eduque àquelas renúncias salutares
que libertam o fiel da escravidão do próprio eu, o torne mais atento e disponível
à escuta de Deus e ao serviço aos irmãos." (Homilia para a missa de Quarta-feira
de Cinzas, na Basílica de Santa Sabina, de 21 de fevereiro de 2007)
O jejum,
movido pelo amor de Deus, é escolher "livremente privar-nos de algo para ajudar os
outros":
"Quem começa a ver Deus (...) vê com outros olhos também o irmão.
Descobre o irmão, as suas necessidades. Por isso, a Quaresma, como escuta da verdade,
é, ao mesmo tempo, um momento favorável para converter-se ao amor (...) Convertamos-nos
necessariamente ao amor!" (Audiência geral de 1º de março de 2006, Quarta-feira
de Cinzas)
Jesus foi tentado no deserto: assim – lembrou o papa – quem realmente
quiser seguir o Senhor, deve preparar-se para a tentação. E "o jejum é a grande ajuda
para evitar o pecado" – explicou o pontífice. Eis então, o que significa entrar no
período da Quaresma:
"Significa iniciar um tempo de empenho particular no
combate espiritual que nos opõe ao mal presente no mundo, em cada um de nós e em torno
a nós. Significa encarar o mal de frente e dispor-se a lutar contra os seus efeitos,
sobretudo, contra as suas causas, até a causa última, que é satanás." (Angelus
de 10 de fevereiro de 2008)
Bento XVI convida a afrontar esse combate com "um
maior compromisso na oração", recordando que "o jejum é a alma da oração", como dizia
São Pedro Crisólogo: "quem reza, jejue"
"Sem a dimensão da oração, o eu
humano acaba por fechar-se em si mesmo, e a consciência, que deveria ser ressonância
da voz de Deus, corre o risco de reduzir-se a espelho do eu, de modo que o colóquio
interior se torna um monólogo dando espaço a mil justificações a si próprio."
(Homilia para a missa da Quarta-feira de Cinzas, na Basílica de Santa Sabina, de 6
de fevereiro de 2008)
O eu corre o risco de tornar-se um 'deus'. Ao invés,
"com o jejum, o fiel quer submeter-se humildemente a Deus, confiando em sua bondade
e misericórdia" – escreve o papa em sua mensagem:
"A conversão consiste
em aceitar, livremente e com amor, depender totalmente de Deus, o nosso verdadeiro
Criador, aceitar depender do amor. Isso não é dependência, mas liberdade. Converter-se
significa, então, não buscar o sucesso pessoal – que é uma coisa que passa – mas,
abandonando toda segurança humana, colocar-se com simplicidade e confiança no seguimento
do Senhor, a fim de que para cada um Jesus se torne – como amava repetir a bem-aventurada
Madre Teresa de Calcutá – o meu tudo em tudo." (Audiência geral de 21 de fevereiro
de 2007, Quarta-feira de Cinzas) (RL)