CARDEAL ARINZE: O MUNDO NÃO MARGINALIZE NEM EXPLORE A ÁFRICA
Cidade do Vaticano, 19 fev (RV) - O continente africano viverá, este ano, dois
eventos particularmente importantes: a viagem apostólica do papa à República de Camarões
e a Angola, de 17 a 23 de março; e a segunda Assembléia sinodal para a África, que
terá lugar no Vaticano, de 4 a 25 de outubro, com o tema da Igreja a serviço da reconciliação,
da justiça e da paz. Mas o que a Igreja propõe para a sociedade africana? Foi o que
a Rádio Vaticano procurou saber do presidente delegado do Sínodo, o cardeal nigeriano
Francis Arinze. Eis o que nos disse:
Cardeal Francis Arinze:- "A Igreja
não tem uma receita política ou econômica, mas anuncia o Evangelho, que apela ao coração
humano, o que implica amar a Deus e amar ao próximo, respeitar os direitos dos outros.
A Igreja ajuda a formar as consciências."
P. O grande desafio da defesa
da vida, que mantém a Igreja empenhada – sobretudo no Ocidente – está presente também
na África?
Cardeal Francis Arinze:- "As ameaças contra a vida não
poupam nenhum país no mundo. Por exemplo, a contracepção, o aborto, permanecem sendo
um ataque contra a vida. É claro, na cultura de muitos países africanos a criança
é considerada como uma bênção, não como um problema; mesmo quando se é pobre, se dá
sempre as 'boas-vindas' à criança. É também verdade que a Igreja, em muitos países
africanos, promoveu o ensino de métodos naturais, e isso funciona. Também entre parlamentares
do continente se defende da vida, e muitos países, na África, não aprovam o aborto.
Na África a eutanásia não é absolutamente levada em consideração, e se alguém a introduzir
será algo que vai realmente contra toda a tradição africana, que honra os anciãos,
os quais são mantidos na família mesmo quando esta é pobre."
P. O primeiro
Sínodo sobre a África, em 1994, ressaltou que a Igreja africana fez uma opção preferencial
pelos pobres. Concretamente, hoje, o que isso significa pastoral e socialmente?
Cardeal
Francis Arinze:- "Significa ser a voz dos sem voz, significa defender os direitos
humanos e afirmar que é dever de quem está no governo não defender os próprios interesses,
mas servir o povo, porque ser uma autoridade significa servir. Nesse sentido, a Igreja
pede também que as eleições políticas sejam sempre honestas. Nesse sentido, algumas
dioceses africanas formaram leigos para que façam uma espécie de monitoramento – não
oficial – das eleições: isso significa presença dos cidadãos na vida pública. Tudo
isso é importante porque a Igreja não vive nas sacristias: os cristãos são cidadãos
como os outros e devem estar presentes como o sal e o fermento, e atuar na sociedade."
P.
Cardeal Arinze, quais são as suas esperanças, seus votos, para este ano tão importante
para a Igreja na África, com a viagem do papa em março, e depois o Sínodo dos Bispos,
em outubro?
Cardeal Francis Arinze:- "As minhas esperanças são um
crescimento da fé no continente africano, e depois, que a África seja mais levada
em consideração nos encontros dos grandes, o G-7, o G-8, o G-20, o que quer que seja;
para que a África não seja marginalizada, mas que seja reconhecida como um continente
importante para o mundo inteiro. É preciso dizer que algumas coisas negativas da África
– como as guerras e as tensões – não são puramente eventos locais, mas fatos que mantêm
envolvidos fatores internacionais com interesses precisos. No mundo de hoje – da chamada
'aldeia global' – devemos colaborar, devemos aprender a colaborar mais para a promoção
dos diversos povos. E essa visita do papa, sem dúvida, vai ajudar." (RL)