“A Igreja, profunda e irrevogavelmente empenhada em rejeitar todo o anti- Semitismo”:
Bento XVI na audiência a uma delegação de rabinos americanos
(12/2/2009) “A Igreja está profunda e irrevogavelmente comprometida em rejeitar todo
o anti-semitismo”, assegurou Bento XVI, recebendo nesta quinta-feira no Vaticano uma
delegação de rabinos americanos, encabeçados pelo Rabino da Sinagoga de Nova Iorque
que o Papa visitou no ano passado. Dando-lhes hoje as boas-vindas à “casa de Pedro,
o lar do Papa”, o pontífice observou que “encontros como estes dão a oportunidade
de demonstrar o nosso respeito pelos outros”. Passadas em revista, “com gratidão”,
as diferentes ocasiões em que (disse) “passei tempo com os meus amigos judeus”, “experiências
de estima fraterna e sincera amizade”: concretamente em Washington e Nova Iorque(2008)
e em Colónia (2005). Bento XVI sublinhou especialmente a sua visita, no ano seguinte,
ao campo de extermínio de Auschwitz, “experiência tão profundamente tocante”, que
é difícil encontrar palavras para a exprimir. “Caminhando através da entrada daquele
lugar de horror, cenário de tão indescritíveis sofrimentos, meditei no incontável
número de prisioneiros, tantíssimos deles judeus, que calcorrearam aquele mesmo caminho
em direcção ao cativeiro…”
“Aqueles filhos de Abraão, dominados pela dor e
humilhados até à abjecção, pouco tinham que os pudesse sustentar senão a sua fé no
Deus dos seus antepassados, uma fé que nós cristãos partilhamos convosco, nossos irmãos
e irmãs. Como poderemos nós começar a apreender a enormidade do que ocorreu naquelas
infamantes prisões! Toda a raça humana sente profunda vergonha e confusão perante
a selvagem brutalidade mostrada para com o vosso povo, em qualquer tempo”.
Mencionando
o facto de esta delegação estar de passagem por Roma, a caminho de Israel, o Papa
declarou preparar-se também ele “para visitar Israel, uma terra que é santa tanto
para os Cristãos como para os Judeus, uma vez que é ali que se encontram as raízes
da nossa fé”.
“Desde os primeiros tempos do Cristianismo, a nossa identidade
e cada um dos aspectos da nossa vida e culto sempre estiveram intimamente ligados
à antiga religião dos nossos pais na fé”.
O Papa reconheceu que “os dois mil
anos de história das relações entre Judaísmo e Igreja passaram por muitas fases, algumas
das quais é penoso recordar”. Mas “qual é a família que nunca passou por distúrbios
e tensões de algum tipo?”
“Agora que conseguimos encontrar-nos num espírito
de reconciliação, não devemos permitir que as dificuldades do passado nos impeçam
de estender uns aos outros a mão da amizade”.
A Declaração “Nostra Aetate”
do Concílio Vaticano II – sublinhou o Papa - constituiu uma pedra miliária no caminho
para a reconciliação, apontando claramente os princípios que desde então têm orientado
a posição da Igreja nas relações Cristãos - Judeus”.
“A Igreja está profunda
e irrevogavelmente empenhada em rejeitar todo o anti- Semitismo e continua a construir
boas e perduráveis relações entre as duas comunidades”.
Como imagem que bem
personifica este compromisso da Igreja, Bento XVI recordou a figura do seu predecessor
João Paulo II, junto ao Muro das Lamentações, em Jerusalém, “invocando o perdão de
Deus para todas as injustiças que o povo Judeu teve que sofrer”. “Faço minha a sua
oração”, ali então pronunciada, a 26 de Março do ano 2000:
“Deus dos nossos
pais, Vós escolhestes Abraão e os seus descendentes para levar às Nações o vosso Nome:
estamos profundamente contristados pelo comportamento daqueles que, no decurso da
história, fizeram sofrer estes vossos filhos. Pedindo o vosso perdão, queremos empenharmo-nos
nós mesmo numa genuína fraternidade com o povo da Aliança”.
Quase a concluir
este seu discurso à delegação de Rabinos norte-americanos, o Papa retomou ainda a
questão da Shoah, o Holocausto dos Judeus:
“O ódio e desprezo por homens,
mulheres e crianças que se manifestou na Shoah foi um crime contra Deus e contra a
humanidade. Deveria ser claro para todos e cada um, especialmente para os que se mantêm
na tradição das Sagradas Escrituras, segundo as quais cada ser humano foi criado à
imagem e semelhança de Deus. Está fora de questão que é intolerável e absolutamente
inaceitável toda e qualquer negação ou minimização deste terrível crime.”
Bento
XVI concluiu reafirmando que “nunca se poderá esquecer este terrível capítulo da nossa
história”. Recordar é “uma advertência para o futuro”.
“Recordar é fazer
tudo o que está em nosso poder para prevenir qualquer repetição de tal catástrofe,
na família humana, construindo pontes de amizade duradoura. É minha fervorosa oração
que a memória deste terrível crime fortaleça a nossa determinação em cicatrizar as
feridas que durante demasiado tempo macularam as relações entre Cristãos e Judeus”.
- “Obrigado por ter compreendido a nossa dor e a nossa angustia,
e pela sua firme declaração de indiscutível solidariedade para com o povo judaico
e pela condenação de todas as formas de negação do Holocausto”. Foi o que afirmou
o rabino Arthur Schneier na sua saudação ao Papa sublinhando que o empenho pessoal
de Bento XVI encoraja a reforçar ainda mais os laços entre católicos e hebreus em
todas as partes do mundo.