TEXTO INTEGRAL DA MENSAGEM DO PAPA PARA DIA MUNDIAL DO ENFERMO
Cidade do Vaticano, 07 fev (RV) - Publicamos a seguir o texto integral da Mensagem
do papa para o Dia Mundial do Enfermo, divulgada esta manhã.
"Queridos irmãos
e irmãs,
No Dia Mundial do Enfermo, que celebramos em 11 de fevereiro, memória
litúrgica da Bem-aventurada Maria, Virgem de Lurdes, as Comunidades diocesanas se
reúnem com seus bispos em momentos de oração, para refletir e programar iniciativas
de sensibilização sobre as realidades do sofrimento. O Ano Paulino, que estamos celebrando,
oferece a ocasião propícia para determo-nos e meditarmos com o Apóstolo Paulo sobre
o fato que, “assim como os sofrimentos de Cristo são copiosos para nós, assim também
por Cristo é copiosa a nossa consolação” (2 Cor 1,5).
A relação espiritual
com Lurdes evoca também a materna solicitude da Mãe de Jesus pelos irmãos de seu Filho
“que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada”
(Lumen gentium, 62).
Este ano, nossa atenção se dirige particularmente às
crianças, criaturas mais frágeis e indefesas; e entre elas, às crianças enfermas e
sofredoras. Pequenos seres humanos levam em seus corpos conseqüências de enfermidades
que causam invalidez; outros lutam contra males hoje ainda incuráveis, não obstante
o progresso da medicina e a assistência de válidos cientistas e profissionais do campo
da saúde. Existem crianças feridas no corpo e na alma em conflitos e guerras, e outras
ainda, vítimas inocentes do ódio de insensatas pessoas adultas. Existem meninos e
meninas “de rua”, carentes do calor de uma família e abandonados a si mesmos; e menores
profanados por pessoas sem escrúpulos, que violam sua inocência, provocando sequelas
psicológicas que as marcarão pelo resto da vida.
Não podemos ignorar o incalculável
número de menores que morrem por causas como sede, fome, carência de assistência sanitária,
assim como os pequenos refugiados, escapados de suas terras com os pais em busca de
melhores condições de vida. De todas estas crianças, eleva-se um silencioso grito
de dor que interpela nossas consciências de homens e cristãos.
A comunidade
cristã, que não pode ficar indiferente diante de situações tão dramáticas, sente o
dever premente de intervir. Com efeito, como escrevi na Encíclica Deus caritas est,
“A Igreja é a família de Deus no mundo. Nesta família, não deve haver ninguém que
sofra por falta do necessário” (25, b). Auspicio, portanto, que o Dia Mundial do Enfermo
ofereça também a oportunidade às comunidades paroquiais e diocesanas de assumirem
sempre mais a consciência de ser “família de Deus”, e as encoraje a tornar visível
em aldeias, bairros e cidades, o amor do Senhor, que pede que “na própria Igreja enquanto
família, nenhum membro sofra porque passa necessidade.” (ibid.). O testemunho da caridade
faz parte da própria vida de toda comunidadde cristã. Desde seus inícios, a Igreja
traduziu os princípios evangélicos em gestos concretos, como lemos nos Atos dos Apóstolos.
Hoje, em meio a novas condições de assistência sanitária, sente-se a necessidade de
uma colaboração mais estreita entre os profissionais da saúde que atuam em diversas
instituições médicas e as comunidades eclesiais presentes no território. Nesta perspectiva,
confirma-se todo o seu valor do Hospital Pediátrico Menino Jesus, instituição ligada
à Santa Sé que celebra este ano 140 anos de vida.
Vamos além. Visto que toda
criança enferma pertence a uma família que compartilha seu sofrimento, freqüentemente
com graves dificuldades, as comunidades cristãs não podem deixar de ajudar os núcleos
familiares atingidos pela doença de um filho ou filha. Seguindo o exemplo do “Bom
Samaritano”, é preciso inclinar-se às pessoas tão duramente provadas e oferecer-lhes
o amparo de uma solidariedade concreta. Desta forma, a aceitação e a partilha do sofrimento
se traduzem em útil apoio às famílias das crianças doentes, gerando nestas um clima
de serenidade e esperança, e fazendo sentir a seu redor uma ampla família de irmãos
e irmãs em Cristo. A compaixão de Jesus pelo pranto da viúva de Nain (cfr Lc 7,12-17)
e pela implorante oração de Jairo (cfr Lc 8,41-56) são, entre outras coisas, pontos
de referência para aprender a compartilhar os momentos de aflição física e moral de
tantas famílias. Tudo isso pressupõe um amor desinteressado e generoso, reflexo e
sinal do amor misericordioso de Deus, que nunca abandona seus filhos na provação,
mas lhes oferece sempre admiráveis recursos de coração e inteligência para serem capazes
de enfrentar adequadamente as dificuldades da vida.
A dedicação cotidiana
e o empenho contínuo a serviço das crianças enfermas constituem um testemunho eloqüente
de amor à vida humana, de modo especial, à vida de quem é vulnerável e totalmente
dependente dos outros. É preciso afirmar, com vigor, a absoluta e suprema dignidade
de toda vida humana. Com o passar dos tempos, o ensinamento que a Igreja incessantemente
proclama não muda: a vida humana é bela e deve ser vivida em plenitude, mesmo quando
é frágil e envolvida no mistério do sofrimento. É a Jesus, crucificado, que devemos
dirigir o nosso olhar: morrendo na Cruz, Ele quis compartilhar a dor de toda a humanidade.
Em seu ‘sofrer por amor’, percebemos uma suprema co-participação aos sofrimentos dos
pequenos doentes e de seus pais. Meu venerado predecessor, João Paulo II, que ofereceu
um exemplo luminoso da aceitação paciente do sofrimento, especialmente no final de
sua vida, escreveu: “Na Cruz está o «Redentor do homem », o Homem das dores, que assumiu
sobre si os sofrimentos físicos e morais dos homens de todos os tempos, para que estes
possam encontrar no amor o sentido salvífico dos próprios sofrimentos e respostas
válidas para todas as suas interrogações " (Salvifici doloris, 31).
Desejo
agora expressar o meu apreço e encorajamento às Organizações internacionais e nacionais
que assistem as crianças doentes, especialmente nos países pobres, e que com generosidade
e abnegação, oferecem sua contribuição para assegurar-lhes cuidados adequados e amorosos.
Ao mesmo tempo, dirijo um apelo aos responsáveis das Nações para que sejam reforçadas
as leis e medidas em favor de crianças doentes e de suas famílias. A Igreja, por sua
vez, como sempre, e ainda mais quando a vida de crianças está em jogo, se faz disponível
para oferecer sua cordial colaboração, na intenção de transformar toda a civilização
humana em «civilização do amor» (cfr Salvifici doloris, 30).
Concluindo, gostaria
de expressar a minha proximidade espiritual a todos vocês, queridos irmãos e irmãs
que sofrem por alguma enfermidade. Dirijo uma saudação carinhosa às pessoas que os
assistem: Bispos, sacerdotes, pessoas consagradas, agentes de saúde, voluntários e
todos os que se dedicam com amor a curar e aliviar o sofrimento de quem é atingido
pela doença. Uma saudação toda especial a vocês, queridas crianças enfermas e que
sofrem: o Papa as abraça com carinho paterno, assim como a seus pais e familiares,
e lhes assegura uma recordação na oração, convidando-os a confiar na materna ajuda
da Imaculada Virgem Maria, que contemplamos mais uma vez no último Natal enquanto
abraçava com alegria o Filho de Deus feito menino. Ao invocar para vocês e para todos
os enfermos a materna proteção da Virgem Santa, Saúde dos Enfermos, concedo a todos,
de coração, uma especial Benção Apostólica".
Vaticano, 2 de Fevereiro de 2009
TRADUÇÃO
LIVRE DE CRISTIANE MURRAY REDAÇÃO DO PROGRAMA BRASILEIRO