APRESENTADA MENSAGEM PARA A QUARESMA: BENTO XVI CONVIDA A REDESCOBRIR O VERDADEIRO
JEJUM CRISTÃO
Cidade do Vaticano, 03 fev (RV) - O verdadeiro jejum é finalizado a não mais
viver para si mesmos, mas a abrir o coração a Deus e ao próximo: é o que afirma o
Santo Padre na mensagem para a Quaresma deste ano, na qual convida a redescobrir essa
antiga prática penitencial. O tema da mensagem deste ano é "Jejuou durante quarenta
dias e quarenta noites e, por fim, teve fome".
A mensagem do papa para a Quaresma
foi apresentada esta manhã, na Sala de Imprensa da Santa Sé. A conferência de apresentação,
moderada pelo diretor da Sala de Imprensa vaticana, Pe. Federico Lombardi, teve a
participação, entre outros, do presidente do Pontifício Conselho "Cor Unum", Cardeal
Josef Cordes, e da diretora executiva do Programa Mundial de Alimentação das Nações
Unidas (PAM).
"A Quaresma oferece ao cristão um percurso espiritual e prático
para exercer, sem reservas, a oferta de nós mesmos a Deus", disse o Cardeal Cordes,
que acrescentou: em sua mensagem, Bento XVI nos recorda o nosso compromisso a abrir
o coração e a mão a quem se encontra necessitado.
Trata-se de uma exortação
hoje ainda mais urgente, num período de crise econômica global, acrescentou:
"Não
podemos simplesmente deixar-nos sucumbir diante da miséria dos homens; devemos fazer
o possível para sanar tal miséria."
O purpurado deteve-se assim sobre o tema
do jejum, tema central na mensagem do papa. O presidente do organismo – que se ocupa
da caridade do papa – observou que em nossos dias se difunde um cuidado pelo corpo
que corre o risco de se tornar idolatria. Algumas estatísticas no mercado do bem-estar
demonstram isso – frisou:
"O corpo insiste sempre mais sobre seus direitos.
Mas o seu desejo de bem-estar e prazer talvez reduza a liberdade, e não mais possa
ser administrada pela vontade do homem. O corpo se torna um tirano."
A mensagem
quaresmal "se encontra, sem dúvida, numa certa contradição" com essa tendência social
– explicou.
As palavras do papa sobre a renúncia, num primeiro momento não
favorecem às inclinações profundas do homem. Todavia, buscam o seu bem – ressaltou
o Cardeal Cordes.
O purpurado recordou que também em outras religiões, como
o budismo e o islamismo, o jejum tem um papel fundamental. Mas – explicou ele – "a
motivação que induz as duas religiões ao jejum é a luta contra o poder da matéria
sobre o homem":
"Portanto, o jejum tem uma conotação negativa. Trata-se de
libertar-nos do peso que as coisas criadas fazem recair sobre nós. Isso, porém, faz
correr o risco de isolar o homem e, portanto, de fechá-lo e de voltar-se para si mesmo.
Para o cristão, ao invés, o desejo místico jamais é o descer ao próprio ser, mas a
descida à profundidade da fé, onde encontra Deus."
A palavra do papa não quer
simplesmente acrescentar outra iniciativa humanitária às dos nossos dias. O jejum
deve ter para os fiéis um significado cristão, "deve dar espaço para a oferta de si
a Deus, porque, afinal de contas, somente Ele é a felicidade a que aspiramos". Por
sua vez, a diretora do PAM, Sheeran, agradeceu ao papa pelo apoio que a Igreja dá
às atividades do Programa Mundial de Alimentação.
"Encontrei o papa Bento XVI
e fiquei profundamente comovida por seu compromisso e compaixão pelos famintos do
mundo" – disse a diretora do PAM. O encorajamento do papa "nos ajuda também a recordar
que, em todos os lugares, a fome está em crescimento" – acrescentou. E citou um dado
dramático: hoje, uma criança morre de fome a cada seis segundos.
Sheeran passou
em resenha uma série de projetos em diversos países, do Afeganistão ao Senegal, a
Gaza, onde o PAM está combatendo contra a chaga da fome. E recordou que a agência
da ONU trabalha com as Caritas locais nas dioceses de 40 países. Em seguida, convidou
os governos nacionais a se comprometerem mais com o combate à fome:
"Nesta
fase de medidas de salvação financeira de trilhões de dólares, precisamos de uma salvação
humana para combater a fome" – foi a sua exortação. Nessa Quaresma – concluiu – "escolhamos
um mundo livre da fome".